Melânia

Crochezando as matemáticas coloridas,

entre patadas e relinchos do mundo.

Fazendo da humildade casaco e tumba.

Entre os labirintos da face, o olhar atento, acuado,

que tem simples solução pra tocaia.

Proseando trancada pra fora das salas atormentadas

Bordando mitos em teu cachecol, infinito como a Noite paulistana

Em qual alicerce, das senzalas de tua presença,

estala solta a algazarra do mundo?

Quanto se congela na xepa desse teatro diplomado

que só tu consegues notar?

Quanto desamparo rachado em tuas solas?

Quanto de muleca zombeteira nas colheradas viúvas da tua boca?

Melânia fagulha, faz um rebu na casa.

Nadando no vazado do choro seco, amorna angústias

dos ceguetas que cultivam sarnas.

Teu ritmo entupindo nossas frestas.

Tuas dez despedidas por dia.

Melânia, merecedora de todos os ventos verdes,

de todos os colares de contas,

de toda hospedagem.

(Vão.)


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LIVROS E LIVROS

Ficção

Jeferson Tenório - O avesso da pele
 Mas a morte é um clichê e por isso os lugares-comuns são permitidos,você me disse. (p. 178-9).  A morte é íntima demais para caber em um espetáculo, você me disse. (p. 179).    Acredito que tempos difíceis estão por vir, quando desejaremos ouvir a voz de escritores que consigam ver alternativas ao que vivemos hoje e possam enxergar além desta nossa sociedade, tomada pelo medo e por sua tecnologia obsessiva, outras maneiras de existir, e que possam até imaginar possibi...

Poesia

Alex Ratts, Guelwaar Adún, Mel Adún, (Org.) - Ogum’s Toques Negros
Mesmo que a história literária e a maior parte do mercado editorial não queiram registrar, “Existe sim uma Literatura afro-brasileira!”. Com autores e pontos de vista próprios, essa forma de expressão artística constitui um projeto que visa um público e – principalmente – zela pela manutenção e (re-)significação da afrodescendência no Brasil. Assim, por meio da literatura, parte da memória negra se preserva à reveli...

Ensaio

Rodrigo Machado (Org.) - O ensaio negro ibero-americano em questão
O ensaio, gênero cuja história é comumente associada ao século XVI e à figura de Montaigne, reencontra sua tradição entre os escritores afrodescendentes nas américas. Em tempos de numerosa propagação de blogs voltados para temas como a cultura, a moda e a arte negra, nos quais o ensaio ocupa lugar privilegiado, não seria exagero dizer que esse gênero – ou “forma”, como prefere Theodor Adorno1 – representa hoje um dos principais campos de expressão do pensamento da diáspora africana. S...

Infantojuvenil

Patricia Santana - Entremeio sem babado / Minha mãe é negra sim / Cheirinho de neném
A representação do negro na literatura infantojuvenil é recente, iniciada nas décadas de 20 e 30 do século XX, com personagens secundárias dentro do espaço diegético ou como parte da cena doméstica cujas ações evidenciavam e reiteravam uma posição subalterna do negro. Conforme Souza & Lima (2006, p. 188), “os personagens negros não sabiam ler nem escrever, apenas repetiam o que ouviam, ou seja, não possuíam o conhecimento considerado erudito e eram representados de um modo estereotipado e depreciativo”. É mais recen...

Memória

Oswaldo de Camargo - Raiz de um Negro Brasileiro  Por que fui ao Oswaldo de Camargo  Mário Augusto Medeiros da Silva*   “Negros têm um péssimo hábito: morrem cedo e não deixam memórias”. Em 2007, em entrevista concedida a mim, Oswaldo de Camargo assinalou a frase com que abro este prefácio. Tratava-se de uma reflexão acerca do que ele se recordava de alguns companheiros de militância intelectual no associativismo político e cultural negro paulistano. O sumiço, desaparecimento, como rastros sulcados na areia, de diferentes personagens daquela história, confirmavam aquela afirmação. Que sabemos hoje de suas passagens pelo mundo, de seus av...

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