DADOS BIOGRÁFICOS
Jornalista por formação, Eliana Alves S. Cruz nasceu em 1966, no Rio de Janeiro, onde atua como chefe do Departamento de Imprensa da Confederação Brasileira de Esportes Aquáticos, sendo também vice-presidente do Comitê de Mídia da Federação Internacional de Natação – FINA. Nesse campo de trabalho, visitou dezenas de países e participou de três Olimpíadas, vinte Campeonatos Mundiais e inúmeros eventos nacionais ligados ao esporte aquático, sendo também responsável pelo site www.blacksportclub.com.br, voltado para o resgate da presença negra no esporte.
Como escritora, vem se destacando na ficção, inicialmente com o romance Água de barrela, fruto de cinco anos de pesquisa sobre a história de sua família desde os tempos da escravidão. Em 2015, o livro foi contemplado em primeiro lugar no Prêmio Oliveira Silveira, concurso promovido pela Fundação Cultural Palmares, que o publicou no ano seguinte. E uma nova edição já se encontra disponível pela Malê Editora. Para a antropóloga Ana Maria da Costa Souza,
A profundidade dos personagens e a verossimilhança das situações por eles vividas são os pontos chave deste romance baseado em 3 séculos de história real de uma família negra no Brasil. Não há como não ser tocado por emoções intensas diante de muitos momentos do texto. A força da narrativa reside, precisamente, na riqueza de detalhes que conferem densidade e vigor à história.
Em 2016, integrou a edição 39 da série Cadernos Negros, com poemas de sua autoria. E, no ano seguinte, contribuiu com dois contos para a 40ª edição dos Cadernos, entre eles a narrativa de ficção científica intitulada “Oitenta e oito”. Neste mesmo ano, participou também da premiada antologia Novos poetas.
Empenhada no resgate da memória social e cultural afro-brasileira, seu mais novo romance – O crime do cais do Valongo – figura como romance histórico e policial, com uma instigante narrativa que se inicia em Moçambique e chega até o Rio de Janeiro.
O ponto de partida que a autora teve para escrever sobre o Valongo, foi a descoberta dos objetos encontrados em escavações recentes. Entre o período de 1811 a 1831 milhares de escravos chegaram ao Brasil por esse cais, todos os artefatos despertaram a criatividade da autora, possibilitando assim o começo da escrita do seu livro, que é feito de inúmeras memorias dos ancestrais que foram escravizados e mortos no cais, - diz autora em entrevista a Médium Books (https://medium.com/blooks/entrevista-com-eliana-alves-cruz-).
A mensagem que a autora deixa para os seus leitores em entrevista a Médium Books é “Brasil, se olhe no espelho, enxergue quem você realmente é se ame. A história e o conhecimento do povo negro são tesouros riquíssimos que precisam ser descobertos e aproveitados por toda a nação”. Assim é possível observar o resgate da memória e a preservação da identidade cultural negra almejado pela escritora.
Em 2020, vem a público seu terceiro romance, Nada digo de te que em ti não veja, também situado no período colonial, mais precisamente no século XVIII, em pleno ciclo do ouro nas Minas Gerais. Tempo também de hegemonia da Igreja católica e da Inquisição e seus tribunais. Tempo também de perseguições e de cartas forjadas cheias de ofensas e mentiras, cujas injúrias as colocam como precursoras das fake news contemporâneas.
Já Solitária, publicado em 2022, apresenta um mergulho na exploração da força de trabalho feminina e negra em trabalhos domésticos, em que desponta a empregada como sucedâneo das antigas mucamas do período escravista. Situado na contemporaneidade, o romance se destaca pelo foco narrativo múltiplo, além de dialogar com O crime do cais do Valongo no tocante à narrativa de mistério envolvendo a morte de um dos participantes do enredo.
Eliana Alves Cruz é também autora do blog www.flordacor.blogspot.com com textos voltados para a apreciação do trabalho de mulheres negras brasileiras em diversos campos de atuação.
Com quatro romances publicados entre 2016 e 2022, além de um livro de contos, e mais dois dedicados a leitoras e leitores iniciantes, além da participação em antologias, Eliana Alves Cruz desponta como grande revelação da literatura afro-brasileira contemporânea. E uma das provas mais evidentes desta afirmação está na conquista do primeiro lugar no Prêmio Jabuti 2022, categoria Conto, com o volume A vestida.
PUBLICAÇÕES
Obra individual
Água de barrela. Brasília-DF: Fundação Cultural Palmares, 2016. 2. ed. Rio de Janeiro: Malê Editora, 2018. (romance).
O crime do cais do Valongo. Rio de Janeiro: Malê Editora, 2018. (romance).
A copa frondosa da árvore. Belo Horizonte: Nandyala, 2019. (infantil).
Nada digo de ti, que em ti não veja. Rio de Janeiro: Pallas Editora, 2020. (romance).
A vestida. Rio de Janeiro: Malê, 2021. (contos).
Solitária. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. (romance).
O desenho do mundo. Ilustrações de Estevão Ribeiro. Apresentação de Kiusan Oliveira. São Paulo: Bom de Ler, 2022. (infantil).
Antologias
Cadernos Negros 39. Organização de Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2016.
Cadernos Negros 40. Organização de Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2017.
Novos poetas. Prêmio Sarau Brasil 2017.
Concurso Nacional de Contos Ciclo Contínuo 2017: antologia. Organização Ciclo Contínuo Editorial. São Paulo: Ciclo Contínuo Editorial, 2018.
Do Índico e do Atlântico: contos brasileiros e moçambicanos. Organização de Vagner Amaro e Dany Wambire. Rio de Janeiro: Malê, 2019.
Perdidas, histórias para crianças que não tem vez. Rio de Janeiro: Imã Editorial, 2019.
Conta forte conta alto, contos baseados em canções do Martinho da Vila. Rio de Janeiro: FLUP/Funarte, 2019.
Olhos de azeviche: contos e crônicas, Rio de Janeiro, Malê, 2020.
TEXTOS SELECIONADOS
Eliana Alves Cruz - Água de barrela
Eliana Alves Cruz - O crime do Cais do Valongo
Eliana Alves Cruz - "A Copa Frondosa da Árvore"
Eliana Alves Cruz - "Oitenta e Oito"
Eliana Alves Cruz - A passagem
CRÍTICA
Água de barrela, de Eliana Alves Cruz: a saga de uma família negra no Brasil em três séculos de história - Cátia Cristina Bocaiuva Maringolo
LINKS
* Critica O Crime do Cais do Valongo
* Crítica O crime do Cais do Valongo