por que temer as hienas

                       Adriano Moura

preparo a massa dos dias

com a farinha do trabalho.

aqueço o forno enquanto

ponho toalha pras hienas

que chafurdam seus focinhos

na prataria da mesa.

disfarçam a fome de carcaças

com o nó bem feito das gravatas.

da cozinha soo

a risada frustrada

sabendo que na sobremesa

das hienas, serei eu:

o homem que trabalha,

a carcaça triturada.

             (In: Antologia ruínas).

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LIVROS E LIVROS

Ficção

Miriam Alves - Maréia
A escrita de resistência de Miriam Alves sempre teve como projeto a afirmação da cultura, dos saberes e de toda uma memória negra abafada pelo processo de colonização. Desde os primeiros passos de sua carreira, a autora marca presença na literatura afro-brasileira com sua voz potente na poesia, na ficção e na reflexão crítica. E sempre em consonância com o propósito afirmativo da negritude. Em 2019, nos apresenta Maréia – romance centrado no resgate de vozes ancestrais por muito tempo silenciadas, mas vivas nas várias linhagens da família negra que c...

Poesia

Michel Yakini - Acorde um verso
Um tópico de crucial importância na poesia de Michel Yakini é a abordagem dos elementos relacionados à diversidade social e cultural afro-brasileira. O tema se anuncia no próprio título Acorde um verso, sugerindo diferentes interpretações que estabelecem contato entre si, obedecendo ao projeto poético de um autor que quer tratar de questões que atingem esta comunidade a partir de um ponto de vista interno ao afrodescendente. Tal condição integra sua história de vida e certamente terá algum peso em sua escrita. O título do li...

Ensaio

Dejair Dionísio - Ancestralidade Bantu na Literatura Afro-brasileira: reflexões sobre o romance Ponciá Vicêncio
Menosprezado pelos primeiros pesquisadores que se debruçaram nos estudos das etnias africanas, o povo banto1 foi considerado por muito tempo como uma etnia inferior aos outros povos integrantes da diáspora negra nas Américas. Contudo, esse grupo legou um vasto repertório cultural que traz consigo as marcas de uma tática de resistência construída no campo do inimigo. Como se pode notar em festejos como o Congado2 e o C...

Infantojuvenil

Patricia Santana - Entremeio sem babado / Minha mãe é negra sim / Cheirinho de neném
A representação do negro na literatura infantojuvenil é recente, iniciada nas décadas de 20 e 30 do século XX, com personagens secundárias dentro do espaço diegético ou como parte da cena doméstica cujas ações evidenciavam e reiteravam uma posição subalterna do negro. Conforme Souza & Lima (2006, p. 188), “os personagens negros não sabiam ler nem escrever, apenas repetiam o que ouviam, ou seja, não possuíam o conhecimento considerado erudito e eram representados de um modo estereotipado e depreciativo”. É mais recen...

Memória

Abdias do Nascimento - Submundo: cadernos de um penitenciárioUm prefácio para (a alma nua de) Abdias Nascimento*   Denise Carrascosa   Os escritores costumam redigir os prefácios dos seus livros – ou deixá- los aos cuidados de outrem – quando a obra já se encontra terminada e nas vésperas da publicação. Eu, por motivos mui especiais, vejo-me na contingência de inverter essa norma: a mais forte razão desse procedimento reside no fato de não ser eu um escritor.   Abdias Nascimento   Submundo (2023) é um livro de cadeia. Foi nela, mais precisamente na Penitenciária do Carandiru, que Abdias Nascimento escreveu um importante capítulo da jornada que fez de...

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