Sonhei

              Carolina Maria de Jesus

Sonhei que estava morta
Vi um corpo no caixão
Em vez de flores eram livros
Que estavam nas minhas mãos
Sonhei que estava estendida
No cimo de uma mesa
Vi o meu corpo sem vida
Entre quatro velas acesas
 

Ao lado o padre rezava
Comoveu-me a sua oração
Ao bom Deus ele implorava
Para dar-me a salvação
Suplicava ao Pai Eterno
Para amenizar o meu sofrimento
Não me enviar para o inferno
Que deve ser um tormento
 

Ele deu-me a extrema-unção
Quanta ternura notei
Quando foi fechar o caixão
Eu sorri... e despertei.

    (In: Antologia pessoal, p. 174)

 

 

 


LIVROS E LIVROS

Ficção

Miriam Alves - Bará na Trilha do Vento
Desde 2009 que Bará na trilha do vento, romance da autoria da escritora negro-paulista Miriam Alves, está pronto, com promessas de publicação que caem sempre por terra. Miriam Alves apresenta uma história em que, como ela anuncia, “Qualquer semelhança com fatos e pessoas da vida real, não é mera coincidência”. Trata-se da saga de uma família negra, contada por uma narradora onisciente, onde a protagonista Bárbara, conhecida pelo diminutivo Bará, filha de pequenos comerciantes, cresce num bairro pobre da periferia de uma grande cidade brasileira...

Poesia

Ana Rita Santiago, Claudia Santos, Mel Adún (Org.) Quilombellas amefricanas, vol. 2
nada acalmanada alma,nada.calma.não há reza que cesse essa aflição.Não há há? Mel Adún 2021   O segundo volume da coletânea Quilombellas amefricanas abre-se, como o primeiro, com epígrafes de bell hooks e Lélia Gonzalez e retoma o texto “as organizadoras”, de autoria de Ana Rita Santiago, Cláudia Santos e Mel Adún, com nomes e sobrenomes escritos com inicial minúscula1 como também se faz no volume 1. Também se mantém, neste volume, o texto “apresentação”, de autoria de Silvia Regina de Lima Silva e Iya Bunmy. São, no entanto, ...

Ensaio

Leda Maria Martins – Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela
No âmbito das oralituras, o gesto não é apenas uma representação mimética de um aparato simbólico, veiculado pela performance. Ou, ainda, o gesto não é apenas narrativo ou descritivo, mas, fundamentalmente, performativo. O gesto, como poiesis do movimento e como forma mínima, pode suscitar os sentidos plenos. O gesto esculpe, no espaço, as feições da memória, não seu traço mnemônico de cópia especular do real objetivo, mas sua pujança de tempo em movimento. Em África, assim como nas Américas, “o bo...

Infantojuvenil

Aroldo Macedo e Oswaldo Faustino - Luana
Considerada por muitos a primeira heroína negra das histórias em quadrinhos brasileiras, Luana, garotinha de oito anos, capoeirista e descendente de quilombolas, faz o protagonismo feminino e negro tornar-se presente também na literatura voltada para crianças e adolescentes. Produto da criatividade dos autores Aroldo Macedo e Oswaldo Faustino, Luana é uma menina que gosta de estudar e...

Memória

Abdias do Nascimento - Submundo: cadernos de um penitenciárioUm prefácio para (a alma nua de) Abdias Nascimento*   Denise Carrascosa   Os escritores costumam redigir os prefácios dos seus livros – ou deixá- los aos cuidados de outrem – quando a obra já se encontra terminada e nas vésperas da publicação. Eu, por motivos mui especiais, vejo-me na contingência de inverter essa norma: a mais forte razão desse procedimento reside no fato de não ser eu um escritor.   Abdias Nascimento   Submundo (2023) é um livro de cadeia. Foi nela, mais precisamente na Penitenciária do Carandiru, que Abdias Nascimento escreveu um importante capítulo da jornada que fez de...

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