A Noite Te Convida
África mãe, Brasil filho,
O leite do mundo habitou suas tetas.
Mamilos perfeitos acalentados de açoite.
Seu ventre sempre foi livre
Gerando toda a história desse universo mal-agradecido
Se ser mãe é dádiva de Deus
Então a África é o berçário onde Ele nasceu.
Suas crianças, dotadas de grande picardia,
Lançaram ao mundo variadas culturas.
A noite recente traz o eco
da trilha sonora daquele tempo,
Tambores confeccionadas pelas mãos
Arquitetas do mundo.
Metralhadoras, fuzis e armas químicas
Deitarão no seu colo
para dividir o espaço com as rosas vermelhas.
Os amores não-correspondido
se contentaram ao seu lado.
Corações sujos que me lembram as pedras,
Hipérbole da herança maldita,
que umedece e goteja em pequenos ventres
Multiplicando a desgraça e mal vivida vida.
Vida que alimenta a feijoada,
Vida que suinga o carnaval,
Vidas de mãos feridas que tocam os instrumentos...
Umbanda, candomblé.
Tragam-me a garrafa com o líquido da cultura nordestina
Vou me embriagar desse sincretismo puro e natural.
Noite! Termo abstrato
que absorve o sentimento africano.
África mãe, África pai, África.
Sinônimo de negro.
Ovaciona o seu hino de raiz
Que a recitação voe até a audição
desses espíritos maléficos,
Âmago sem cultura.
África! Sou larápio de cena
Que cutuca a sua bonança com palavras egocêntricas.
Venha mãe, dance comigo o batuque atual
Porque, nas nossas festas noturnas,
A sua entrada é franca.
Então, ginga o batuque atual.
Que cada gesto teu tenha um pedaço de desdém,
Venha, pois a noite... te convida para dançar.
(Cadernos Negros: três décadas)
O escravo João Domingos comeu comigo-ninguém-pode até relinchar. A crioula Joana Adelaide, achada toda torta, finada com a língua grande e roxa. O doméstico, João Afonso, descoberto atrás do pasto com o rosto todo contraído a estrebuchar. Plínio Camillo 2015 As narrativas tão amplamente disseminadas e recorrentemente mostradas em filmes, livros de história e novelas açucaradas de final de tarde pintam um quadro da escravidão no Brasil que perpassa pela narrativa de feitores benignos e a f...
O livro de poesia Interiorana, de Nívea Sabino, foi lançado pela Padê Editorial, em um volume que é envolvido por um involutório em dobradura de papel, cinturado por uma fita prateada elástica. Este possui um projeto editorial artesanal − costura de três pontos encadernação com miolo composto por in-fólios − e incomum, por alocar a apresentação dentro do papel que envolve ...
Joel Rufino dos Santos figura indubitavelmente entre os mais destacados intelectuais negros brasileiros de todos os tempos, com dezenas de livros publicados desde meados do século passado. Sua produção transita da historiografia para a ficção e daí para a crítica, sendo possível muitas vezes verificar o quanto, num mesmo texto, esse trânsito se metamorfoseia em mescla discursiva decorrente do entrelaçamento do fato com a imaginação. E o mesmo se dá com suas estórias ditas infantis ou juvenis, a agradar leitores de todas as idades; o...
Escritora, “contadora” de histórias e educadora ligada principalmente à literatura infanto-juvenil, Madu Costa trata a afro-brasilidade de várias formas em suas obras, e se dedica a participar de projetos e eventos que objetivam o reconhecimento e a expansão de tal campo artístico de nossa literatura. Envolvendo-se em espetáculos de teatro e ministrando oficinas de contação de histórias, a autora busca incentivar não só a leitura em meio às crianças, mas, também, a produção de...
Como é horrível viver em São Paulo parece que eles não admite que uma favelada tenha conseguido uma casinha eu sou uma amostra queDeus apresenta a humanidade, comprovando que a humanidade, é egoísta. Carolina Maria de Jesus 08 de fevereiro de 1961
Após um longo tempo esquecida, desde que Carolina Maria de Jesus voltou a ser lembrada, lida e mais estudada (o que acredito tenha acontecido, principalmente, depois do seu centenário em 2014), ela é marcada apenas pelo seu “best seller” Quarto de despejo, publ...









