Melânia

Crochezando as matemáticas coloridas,

entre patadas e relinchos do mundo.

Fazendo da humildade casaco e tumba.

Entre os labirintos da face, o olhar atento, acuado,

que tem simples solução pra tocaia.

Proseando trancada pra fora das salas atormentadas

Bordando mitos em teu cachecol, infinito como a Noite paulistana

Em qual alicerce, das senzalas de tua presença,

estala solta a algazarra do mundo?

Quanto se congela na xepa desse teatro diplomado

que só tu consegues notar?

Quanto desamparo rachado em tuas solas?

Quanto de muleca zombeteira nas colheradas viúvas da tua boca?

Melânia fagulha, faz um rebu na casa.

Nadando no vazado do choro seco, amorna angústias

dos ceguetas que cultivam sarnas.

Teu ritmo entupindo nossas frestas.

Tuas dez despedidas por dia.

Melânia, merecedora de todos os ventos verdes,

de todos os colares de contas,

de toda hospedagem.

(Vão.)


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