Com santa não se brinca

Hoje fui chamada de santinha.
E aí eu protestei, gritei,
chutei o pau da bandeira
e disse:
Santinha não – Santa.

Esse povo tem mania de querer me quebrar,
pra depois juntar os cacos,
me ver paralítica,
sem função,
serva. 

Alguém já viu alguma santinha
em lugares nobres?
Ou num estandarte,
conduzindo multidões!

Depois dizem que é força do hábito.
Pois tirem o Hábito.

Já fui apedrejada na escola, na igreja,
trabalhei sempre mais que os outros.

Sempre me quiseram na periferia.

Sambista sim, eu podia ser,
até sangrar meus pés
no asfalto quente,
para diverti-los
e depois dizerem:
Você samba direitinho... 

Ai de mim,
se não fosse Santa.

                        (E... Feito de Luz, p. 15.)

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