DADOS BIOGRÁFICOS

Paulo Eduardo de Oliveira nasceu em Colina, interior do Estado de São Paulo, no dia 9 de março de 1950. Em 1975, conheceu o jornalista e escritor Oswaldo de Camargo, amigo que o ajudaria a trilhar sua carreira de poeta. Pouco depois, Abelardo Rodrigues viria a se juntar a eles, formando-se o “Triunvirato”, como eram conhecidos no Bar e Restaurante Mutamba. Ali se reuniam para discutir textos relativos à literatura negra, e foi desta forma que surgiu, em 1978, o projeto editorial dos Cadernos Negros , que também teve como fundadores Cuti (Luís Silva) e o escritor argentino Jorge Lescano. O primeiro número saiu em 1978 e, a partir da 1980, passou a ser editado pelo coletivo Quilombhoje Literatura. Paulo Colina contribuiu nos números 2 e 3.

Militante da causa negra, nos anos 70 publicou inúmeros escritos na imprensa alternativa da época. Além de poeta, foi também ficcionista, autor teatral, crítico e tradutor, tendo participado da diretoria da União Brasileira de Escritores, em meados dos anos 80, o que, segundo Oswaldo de Camargo, contribuiu para que o poeta percebesse a “necessidade de o escritor negro inserir-se, sem perda de identidade, na vida geral da literatura do país”.

Em 1982, organizou o volume AXÉ: Antologia Contemporânea de Poesia Negra Brasileira, publicado pela Editora Global e vencedor do prêmio APCA, da Associação Paulista de Críticos de Artes, na categoria melhor livro de poesia do ano. Em sua antologia, Paulo Colina inclui a produção de quatorze poetas afro-brasileiros, demonstrando preocupação em superar a hegemonia cultural do eixo Rio-São Paulo. Nesse sentido, estão presentes autores como Adão Ventura, de Minas Gerais, Oliveira Silveira, do Rio Grande do Sul, Arnaldo Xavier, da Paraíba e José Carlos Limeira, da Bahia, dentre outros. No livro os poemas encontram-se organizados de acordo com o Estado em que nasceu o autor do texto, tal divisão tem como objetivo demonstrar a extensão da escrita afrodescendente em todas as regiões do país. Na apresentação, afirma o autor:

Que os negros foram o alicerce da estrutura econômica deste país e do luxo de mercenários de além-mar, não há a mínima dúvida. Que estamos encravados fundo na cultura sincretista brasileira, é algo tão efetivo quanto o dia e a noite. Mas não somos só comida e capoeira, umbanda e candomblé, malandragem e sexo avantajado, samba e futebol. Os negros sempre dominaram a palavra. Não apenas expressada por caracteres, mas também oral; dando a ela suma importância (Quem conhece os autores – e dialetos – africanos de língua portuguesa, inglesa ou francesa, sabe muito bem do que estou falando). Quando nossos ancestrais sofreram a tentativa de esterilização de raízes, para que se sujeitassem ao trabalho escravo, nossas His/Estórias foram mantidas boca-a-boca. E, de fogueiras a bocas-de-fogão e mesas, perduram até hoje, questionando a verdade encapuzada da história estabelecida. (1982, p. 7)

Paulo Colina deixou publicada uma obra consistente, que está por merecer novas edições. Em 1980, veio a público o volume de contos Fogo cruzado, que inova ao trazer para o núcleo dos enredos temas como a violência urbana e a solidão do negro, homem ou mulher, no cotidiano da grande metrópole. Mas o faz trazendo para o centro da narrativa a voz das vítimas, na contramão do que se lê em autores consagrados, via de regra centrados na figura do agressor marginal ou psicopata. Em 1984, Colina estreia na poesia com o volume Plano de Voo, ao qual se seguem as coletâneas poéticas A noite não pede licença (1987) e Todo o fogo da luta (1989).

Seu trabalho como tradutor também merece destaque por ter cuidado de textos importantes como Ulysses – Anotações para minha aula sobre Joyce: Ulysses – Notes from here to my Joyce Class e Poemas de Wole Soyinka (prêmio Nobel de Literatura em 1986). Foi responsável ainda, em parceria com Masuo Yamaki, pela excelente tradução dos originais de Takuboku Ishikawa (1885-1912), um dos poetas mais queridos do Japão. Percebe-se uma grande identificação de Colina com a tanca ou a(o) tanka, forma clássica da poética japonesa utilizada por Ishikawa, pois esta fala da subjetividade e das emoções que o poeta sente na pele, assim como a poesia do nosso escritor afrodescendente traz um alto nível metafórico e subjetivo.

Na década de 1990, o autor volta-se para a música e o teatro. Vítima do mal de chagas, Paulo Colina faleceu em 8 de outubro de 1999, em São Paulo, aos 49 anos, deixando ainda três livros inéditos: Senta que o dragão é manso, de contos, Entre dentes – drama em um ato para negros, teatro, e Águas fortes em beco escuro, reunião de textos críticos. Sua obra, embora pequena, conseguiu levar o seu discurso de respeito à diferença e contribuiu substantivamente para a divulgação da produção dos novos escritores afro-brasileiros. Zilá Bernd, em artigo escrito como homenagem póstuma ao poeta, afirma:

O poeta desapareceu precocemente talvez sem ter realizado essa utopia da reterritorialização da cultura negra brasileira, mas a poeticidade de seus versos permanecerá, pois que emerge da tensão gerada pela necessidade de mergulhar na temática negra sem perder de vista que a poesia precisa atingir a todos os leitores independentemente da etnia a qual pertencem. Assim, ele soube exprimir-se com rara perfeição artesanal, conjugando elementos da herança e da tradição africanas e procurando sempre “alçar voo” no sentido de oferecer seus versos à leitura como metáfora para a dor de qualquer brasileiro, de qualquer ser humano.

 

Referências

BERND, Zilá. Introdução à literatura negra. São Paulo: Brasiliense, 1988.

BERND, Zilá. O plano de vôo de Paulo Colina. 

CAMARGO, Oswaldo de. Meu companheiro Paulo Colina, Poeta no claro e no escuro. 

COLINA, Paulo. A noite não pede licença. São Paulo: Roswitha Kempf, 1987.

IANNI, Octavio. Literatura e consciência. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. Ed. comemorativa do Centenário da Abolição da Escravatura. São Paulo: USP, n° 28, 1988.

 


PUBLICAÇÕES

Obra individual

Fogo Cruzado. São Paulo: Edições Populares, 1980. (Contos).

Plano de Vôo. São Paulo: Roswitha Kempf , 1984. (Poesia).

A noite não pede licença. São Paulo: Roswitha Kempf, 1987. (Poesia).

Todo o fogo da luta, 1989. (Poesia).

Poesia reunida. São Paulo: Ciclo Contínuo, 2020.

Senta que o dragão é manso, s/d. (Contos, inédito).

Entre dentes – drama em um ato para negros. (Teatro, inédito).

Águas fortes em beco escuro. (crítica, inédito).

Antologias

Cadernos Negros 2. São Paulo: Edição dos Autores, 1979.

Cadernos negros 3. São Paulo: Edição dos Autores, 1980.

AXÉ – Antologia Contemporânea de Poesia Negra Brasileira. Organização de Paulo Colina. São Paulo: Global, 1982.

A razão da chama: antologia de poetas negros brasileiros. Organização de Oswaldo de Camargo. São Paulo: GRD, 1986.

O negro escrito: Breve antologia temática. Organização de Oswaldo de Camargo. São Paulo: Secretaria Estadual de Cultura / IMESP, 1987.

O vôo da paz. São Paulo: IBRASA, 1987.

Schwarze poesie / Poesia negra. Organização de Moema Parente Augel. St. Gallen/Koln/São Paulo: Edition Diá, 1988. (edição bilíngue alemão/português).

Schwarze prosa / Prosa negra – Afrobrasilianische Erzahlungen der Gegenwart. Organização de Moema Parente Augel. St. Gallen/Koln/São Paulo: Edition Diá, 1988. (edição bilíngue alemão/português).

Contos paulistas. D.O. Leitura / IMESP, 1989.

Antologia da nova poesia brasileira. Organização de Olga Savary. Rio de janeiro: Hipocampo / Rioarte/ Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1992.

Poesia negra brasileira. Organização de Zilá Bernd. Porto Alegre: AGE / IGEL / IEL, 1992.

Contra lamúria – o livro. São Paulo: Pindaíba, 1994.

Callaloo, Vol. 18, Nº 4. The John Hopkins University Press, 1995.

Antologia de poesia afro-brasileira: 150 anos de consciência negra no Brasil. Organização de Zilá Bernd. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2011.

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, vol. 2, Consolidação.


Traduções

Tankas. Original de Takuboka Ishikawa. São Paulo: Roswitha Kempf, 1985. 2ª ed. 1986. (com Masuo Yamaki).

Rolinha. Original de Sueko Nishida. Edição bilíngüe. SãoPaulo: Edição da Autora , 1987. (com Masuo Yamaki).

Comemoração da salada: Original de Machi Tawara. São Paulo: Estação Liberdade, 1992. (com Masuo Yamaki).

Tankas de Bokussui Wakayama. In Yashiu, nº 207, São Paulo. Dezembro de 1987.

Canção da cidade noturna. Night song city, original de Denis Brutus. In Cultura Afro-Brasileira, número especial do Suplemento Literário de Minas Gerais. Org. de Adão Ventura, nº 1033, Belo Horizonte (MG), 26 de julho de 1986.

Ulysses – Anotações para minha aula sobre Joyce: Ulysses – Notes from here to my Joyce Class; Aos loucos sobre o muro: “To the madmen over the Wall”; Um toque de teia no escuro: “A Cobweb’s touch in the dark” e Eu consagro minha carne (décimo dia de jejum): I anoint my flesh (tenth day of fast). Poemas de Wole Soyinka (prêmio Nobel de Literatura em 1986). In Escrita, nº 37, São Paulo, 1987.

Tankas de Akiko Yossano. In Yashiu, nº 215, São Paulo. Abril de 1988.

A poesia ante a porta da liberdade: seis poetas sul-africanos. Jornal da Tarde, Caderno de Sábado. São Paulo: 03/08/1991.

Outra gente nada estranha: poesia negra sul-africana contemporânea. In Exu, nº 29, setembro/outubro 1992, ano V, revista bimensal da Fundação Casa de Jorge Amado, Salvador, Bahia.

Não ficção

De heróis e de sonhos. In: Folha Paulistana, Ano I, nº 11. São Paulo: 20/11/1986.

Ao nível escuro do pelo. In: Ibérica - Revista de Literatura, nº 0. São Paulo: Outubro de 1987.

Reflexões pela noite viva. Pronunciamento no 40º Congresso da SBPC. São Paulo: USP, 11/06/1988.

Um breve tambor nos olhos. In: Um grapiúna no país do carnaval: Atas do I simpósio Internacional de Estudos sobre Jorge Amado. Salvador: FCJA/EDUFBA, 2000.

 


TEXTOS

 


CRÍTICA

 


FONTES DE CONSULTA

ALVES, Miriam; SILVA, Luiz (Cuti); XAVIER, Arnaldo (Org.). Criação crioula nu elefante branco. São Paulo: IMESP, 1986.

BICALHO, Gustavo de Oliveira. “Bastaria ao poema apenas a cor da minha pele?”: imagens do arquivo literário afro-brasileiro de Paulo Colina. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.

CAMARGO, Oswaldo de. O negro escrito. São Paulo: IMESP, 1987.

CAMARGO, Oswaldo de. Plano de voo: uma poesia forte presa ao chão urbano. Jornal da Tarde, São Paulo: 25/05/1985.

CAMARGO, Oswaldo de. Literatura negra. Jornal da Tarde. São Paulo: 05/07/1986.

CAMARGO, Oswaldo de. Literatura negra: fundamentos e conseqüências. In: VENTURA, Adão (Org.). Cultura afro-brasileira, número especial do Suplemento Literário de Minas Gerais, nº 1033. Belo Horizonte: 26/07/1986.

DUARTE, Eduardo de Assis. Paulo Colina. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, vol. 2, Consolidação.

LOBO FILHO, Blanca. Fogo Cruzado. World Literature today. A literary Quartely of the University of Oklahoma, USA, Autumn, 1980.

LUCAS, Fábio. Crítica sem dogma. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1983.

MOURA, Clóvis. Apresentação. In: COLINA, Paulo. Plano de Voo. São Paulo: Roswitha Kempf , 1984.

OLIVEIRA, Eduardo de. Quem é quem na negritude brasileira, vol.1. São Paulo: Congresso Nacional Afro – Brasileiro; Brasília: Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, 1998, p. 231.

RIBEIRO, Leo Gilson. Prefácio. In: COLINA, Paulo. A noite não pede licença. São Paulo: Roswitha Kempf, 1987.

WILLER, Cláudio. Prefácio. In: COLINA, Paulo. Plano de Vôo. São Paulo: Roswitha Kempf , 1984.

 


LINKS