Hoje vou me abster desses olhares absortos do nada.

Olhos que simplesmente indagam.
Confusos!
Perplexos!
Perdidos.

(Memórias da pele, p. 15)

 

Tenho um receio quase prazeroso que um furacão
permaneça dentro de mim. Porque no final o que a alma
busca é o movimento das águas,
o derramar das cachoeiras,
as correntezas dos rios,
o quebrar das ondas,
as tempestades!

(Memórias da pele, p. 27)

 

Asas abertas ao vento, no cume da montanha
a paz descansa, no colo da esperança.
Pássaros sobrevoam flores e passados, confundindo as
cores vivas do amanhã.
O ímpeto do canto livre de uma águia, desperta alegria.
Disperso, um bando de andorinhas escurece o céu,
anunciando o verão.
Eis que é chegada a hora, o melhor tempo é agora,
A vida te chama para fora.
Voe.

(Memórias da pele, p. 31)

 

Eu olho o tempo sem nenhuma esperança,
olhar fixo, perdido em pensamentos

O tempo olha para mim, olha dentro dos meus olhos
olhar fixo, vivo, cheio de expectativas,

e ele me diz que já viveu o suficiente para assistir
diversos invernos, muitos verões e inúmeros outonos,
e que jamais faltou a primavera.

Que ao longo de várias gerações, ele viu a chuva cair
forte, às vezes por tenebrosos longos dias, meses até.
Mas era certo que o sol surgia,com uma força tal
que resplandecia.

Diz que assistiu grandes guerras,
acompanhou homens em muitas batalhas,
presenciou a dor, a tortura e a morte.
E que a morte jamais prevaleceu sobre a vida.
A vida sempre ressurgia, e homens, mulheres, crianças,
cidades inteiras se reerguiam das cinzas.

(Memórias da pele, p. 34)

 

Agora eu sou o vento,
soprando as árvores,
sussurrando poemas
aos ouvidos do mundo.

Vento que no auge da sua força
é uma brisa suave e,
no furor da sua fraqueza,
uiva sobre as colinas solitárias.

Vento que toca uma doce canção,
convidando o dia e a noite para dançar
na solidão.

Vento que leva e traz vida,
que movimenta as nuvens no cais,
distribuindo sonhos,
alimentando segredos.

(Memórias da pele, p. 44) 

 

Faz da tua
Estrada, caminho de 
luz e 
ilumine.

Zele pelo
amor que traz no peito e
não haverá nada
impossível.

Viva com
Esperança de
realizar seu melhor.

Ame e
reparta seus talentos,
inspire outros, e
os frutos virão.

(Memórias da pele, p. 46) 

 

Meus versos nascem daqui.
Daqui desse lugar
estreito e confuso,
caixa social, padrão
estabelecido do que
eu deveria ser.
E eu sou.

Eu sou?

Não sou nem isso, nem aquilo,
Nem aquilo outro.
Sou alguém derramando
Por entre as frestas da 
caixa, esparramando igual
poeira no vento.

Desprendendo-me dos moldes,
caminho lentamente, porém voraz avanço sobre a utopia
dos sonhos.

(Memórias da pele, p. 86)

 

Amor nasce enfeitando a gente,
Colorindo os dias e as noites.

Com o tempo o amor vai escorrendo
entre os dedos,
escapando como água,
pelas frestas das nascentes.

Vai feito correnteza
Em busca de abrigo,
e deságua na entrega,
depois começa e termina,
de novo e de novo.

(Memórias da pele, p. 92) 

 

 No infinito espaço entre mim e você, o tempo criou nós.

(Memórias da pele, p. 101)


LIVROS E LIVROS

Ficção

Edimilson de Almeida Pereira – Um corpo à deriva
No ano de 2020, Edimilson de Almeida Pereira oferece à sociedade brasileira três obras. São elas: Front, O ausente e Um corpo à deriva; este último, publicado pela Editora Macondo, abordará o movimento em que a vida impele o sujeito a estar na universalidade e na intimidade. Enquadra este movimento como ondulatório, pois as partes que compõem a obra direcionam quem a lê em cristas e vales sobre o relacionar-se consigo mesmo, com a sociedade e com o mundo. Um corpo à deriva se inicia apresen...

Poesia

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Infantojuvenil

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