Nivalda Costa

DADOS BIOGRÁFICOS

Nascida em 4 de maio de 1952 em Salvador, na Bahia, Nivalda Silva Costa foi uma intelectual negra de grande atuação na esfera pública do estado. Graduada em Ciências Sociais com especialização em Antropologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializada em Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Nivalda trabalhou como antropóloga no Centro de Culturas Identitárias e Populares (CCPI-SECULT/BA) e desenvolveu pesquisas sobre as Relações Étnico-Raciais na Sociedade Brasileira, o Negro nas Contemporaneidades e Etnoteatro Afro-Brasileiro.

Foi líder religiosa, educadora, artista e mediadora cultural. Aos 64 anos, perdeu a vida num infarto no dia 9 de julho de 2016, recebendo notas de pesar e homenagens em várias instâncias – entidades vinculadas ao teatro e à cultura, terreiros de Candomblé, sobretudo o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, situado no bairro do Cabula, em Salvador, onde exerceu a função de Ajoiê.

Um breve passeio pela performance de Nivalda nos palcos soteropolitanos nos mostra uma intelectual engajada politicamente e que desempenhou papéis de destaque na cena cultural baiana. É difícil fazer uma cronologia da autora em poucos parágrafos, mas é possível listar alguns momentos importantes dessa cronologia.

Em 1975, Nivalda Costa montou a companhia Testa que produziu o espetáculo Aprender a nada-r, uma comédia que questionava as imposições da ditadura militar, e teve o seu texto Vegetal Vigiado proibido pelo regime militar. Em 1978, sua peça de maior repercussão Anatomia das Feras, tendo como tema central a Revolta dos Malês, estreou em Salvador em evento do Movimento Negro Unificado (MNU). Sobre sua participação como membro do MNU-Bahia, Nivalda Costa comentou, em depoimento concedido à Equipe de Textos Teatrais Censurados, vinculado ao Instituto de Letras da UFBA, em 2011:

havia uns setores muito radicais dentro do movimento negro que achavam, por exemplo, que eu deveria concentrar todos os meus trabalhos, especificamente, com personagens negros, causas negras, enfim, criar uma suprarrealidade [...]. As minhas crenças enquanto antropóloga [...] vão de constatações, [...] antes de sermos negros, pertencemos [...] a uma raça pressupostamente humana. [...] O homem é quem cria os preconceitos [...], as invasões, as escravizações.  [...] Eu parto do homem em seu estado de liberdade, [...] antes de ser negra e mulher, eu sou um ser humano. [...] Discutimos muito isso com o movimento negro [...]. Todas as questões ligadas à conscientização racial eu acho que parte [...] por uma célula chamada educação, isso aí é essencial (SOUZA, SANTOS, 2020, p. 216).

Em 1980, montou com Luiz Marfuz A paixão de Cristo, tendo atores negros como os personagens de Nossa Senhora e de Cristo, em evento patrocinado pela Prefeitura Municipal de Salvador, encenado no Pelourinho, centro histórico da cidade. Atuou também como assistente de produção do filme de Glauber Rocha A idade da pedra, de 1980. Ainda na década de 80, fundou o Grupo de Escritores Negros de Salvador –    GENS – com José Carlos Limeira, Jônatas Conceição e outros poetas baianos.

Em 1988, dirigiu e escreveu o roteiro do programa Afro-memória, produção da TVE Bahia, no qual buscou mostrar a contribuição do negro para a cultura brasileira através de um enfoque histórico e sociológico.

Entre 1988 e 1992, coordenou e desenvolveu o projeto de pesquisa Afro-memória: 100 anos de abolição. Em 1990, Nivalda Costa organizou a coletânea Para rasgar um silêncio. Junto aos seus contos “O voo” e “Diabolina”, foram publicados contos de nove artistas baianos: Carmem Ribeiro, Clarindo Silva, Everaldo Duarte, Jaime Sodré, Jônatas Conceição, José Carlos Limeira, Rita Gonçalves, Valdina Pinto e Xyko.

Nos anos seguintes, Nivalda Costa participou do conselho consultivo da Sociedade Amigos da Cultura Afro-brasileira, fundada em 2002, e do projeto educativo Reconstruindo o quilombo.

É importante destacar que a organização do acervo de Nivalda Costa foi realizada por pesquisadoras da Universidade Federal da Bahia, sob a orientação da professora Dra. Rosa Borges dos Santos. Sobre Nivalda Costa, as pesquisadoras Débora de Souza e Rosa Borges sintetizam:

A trajetória de Nivalda Costa, de vivência da negritude, de militância da causa negra e de estudos e pesquisas, esteve atrelada à necessidade de (re)escrita da história e da memória afrodescendente, à luta contra o racismo e a discriminação racial, assim como ligada a movimentos de resistência, sobretudo vinculados à comunidade negra (SOUZA, SANTOS, 2018, p. 143).

Também é válido pontuar que a tese de Débora de Souza, Série de estudos cênicos sobre poder e espaço, de Nivalda Costa: arquivo hipertextual, edição e estudo crítico-filológico, foi selecionada para representar o Programa de Literatura e Cultura do Instituto de Letras da UFBA no Prêmio CAPES de Tese Edição 2020.

 

PUBLICAÇÕES

Obra Individual

Constelações: Poemas. 1. ed. v. 1. Salvador: Espaço Bleff, 1987. 37 p.

Anatomia das feras. [s.l.]: [s.n.], [1978]. 12 p.

Vegetal Vigiado. Salvador. 1977. 10 f. Acervo do Espaço Xisto Bahia. Pasta nº. 83C. (dramaturgia)

Aprender a nada-r. Salvador. 1975. 9 f. Arquivo Nacional.

Coautorias

A Incrível História de Seu Mané Quem Qué e o Demo. Coautoria com L. Faria e I. Lago. 2006. (filme).

Da cor da noite: poemas dramáticos. Coautoria com Jaime Sodré. Salvador: CEAO/ UFBA, 1983. Série Arte e Literatura.

Antologias

Revista Exu. Salvador, jul. 1980, p. 21 – 24. (poemas).

Capoeirando. Organização de Edu Omo Oguiam (Carlos Eduardo de Jesus). Salvador: CEAO/ UFBA, 1982. p. 44-46. Série Arte/Literatura, n. 1. (poemas).

Revista da Fundação Casa de Jorge Amado. Salvador, mai./jun. 1988, n. 4, p. 22. (poemas).

Para rasgar um silêncio: coletânea de contos. Organização de Nivalda Costa.  Salvador:  Ceao, 1990. Série Arte/Literatura, n. 5.

Produção artística/ cultural – Artes cênicas e Artes visuais

Y A BÁ'IA. 2005 (Concurso Nacional).

Um Olhar Libertário sobre a Bahia. 2005. Vídeo.

Sementes e Amanhãs. 2005. Vídeo.

Prelúdio para a Liberdade. 1996. Outra.

O Quilombola. 1995. Outra.

Boa Morte - Resistência da Fé. 1993. Vídeo.

Afro Memória. 1988. Audiovisual.

Paixão, o Caminho do Ressurgir. 1980. Outra.

Glub! Estória de um Espanto. 1979. Outra.

O Pequeno Príncipe: Aventuras. 1979. Outra.

Hamlet, Príncipe da Dinamarca. 1976. Outra.

O Pequeno Príncipe ou Ciropédia. 1976. Outra.

Não Ficção

Oficina de Aperfeiçoamento de Mão-de-Obra - Roteiro. In: Oficina de Aperfeiçoamento de Mão-de-Obra - Roteiro, 2003, Salvador. Oficina televisiva. Salvador: POTE, 2003. v. 2000. p. 12-13. (Anais de Congressos)

Imprensa X Sociedade no Novo Milênio. In: Imprensa X Sociedade no Novo Milênio, 2000, Salvador. Imprensa X Sociedade no Novo Milênio. Salvador, 2000. v. único. p. 01-02.  (Resumo Anais de Congressos)

A História do Negro no Brasil. In: Seminário Ire Ayó - Caminho de Alegria, 1997, Salvador. Ilê Axé Opô Afonjá. Salvador: Sociedade Cruz Santa Ilê Axé, 1997. v. 2000. p. 35-38. (Anais de Congressos)

Estudos sobre o Negro. In: V Congresso Afro-Brasileiro, 1997, Salvador. Estudos sobre o Negro. Salvador: UFBa, 1997. v. 1000. p. 45-47. (Anais)

O Negro da África à Diáspora: Mercado de Trabalho, Preconceito Racial e Alienação. In: 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC, 1981, Salvador-Bahia. In: 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC. São Paulo: SBPC, 1981. v. 33. (Anais)

Para uma Leitura dos Quadrinhos ao Nível Pragmático ou no Nível que Pensa a Relação Signo-Usuário. Adm. Pública, v. 2, p. 1-2, 1973.

 

FONTES DE CONSULTA

FAGUNDES, Carla Ceci Rocha; SOUZA, Débora de. Nos bastidores de acervos de dramaturgos baianos: por uma leitura crítico-filológica. Légua & Meia, Brasil, n. 9, v. 1, p. 81-100, 2018. 

SOUZA, Débora de. Série de estudos cênicos sobre poder e espaço, de Nivalda Costa: edição e estudo crítico-filológico. 2017. Exame de qualificação ao doutorado. Instituto de Letras, Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura, Universidade Federal da Bahia, 2017.

SOUZA, D. Glub! Estória de um espanto: entre a crítica textual e a nova retórica. Pau dos Ferros, v. 02, n. 01, p. 85 – 103, jan./jun. 2013. Disponível em: <http://periodicos.uern.br/index.php/dialogodasletras/article/viewFile/542/283>.

SOUZA, Débora de. Aprender a nada-r e Anatomia das feras, de Nivalda   Costa:   processo de construção dos textos e edição.  2012.  251 f.  Dissertação (Mestrado) – Instituto de Letras, Programa de Pós-graduação em Literatura e Cultura, Universidade   Federal   da   Bahia, Salvador, 2012. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/8528/1/Debora%20de%20Souza.pdf>.

SOUZA, Débora de. Vegetal Vigiado, de Nivalda Costa: texto e censura (por uma análise de estratégias para driblar a censura). 2009. 69 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2009. 

SOUZA, Débora de; SANTOS, Rosa Borges dos.  Aprender a Nada-r, de Nivalda Costa: uma proposta de estudo do processo de construção. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_1/27.pdf>. Acesso em: 10 out. 2020.

SOUZA, Débora de; SANTOS, Rosa Borges dos.  História e memória das resistências negras da Bahia a partir do acervo Nivalda Costa. Acervo, Rio de Janeiro, v. 33, n. 2, p. 208-228, maio/ago. 2020. Disponível em: <http://revista.arquivonacional.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/1564/1494>. Acesso em: 10 out. 2020.

SOUZA, Débora de; SANTOS, Rosa Borges dos.  Nivalda Costa e sua produção teatral na imprensa baiana. 4º Encontro Nacional de Pesquisadores de Periódicos Literários, 4., 2010, Feira de Santana. Anais. Feira de Santana: Uefs, 2013. Disponível em: <http://www2.uefs.br/enapel/files/4enapel_anais.p141-148.pdf>. Acesso em: 10 out. 2020.

SOUZA, Débora de; SANTOS, Rosa Borges dos. A importância do paratexto na edição do texto teatral Vegetal vigiado, de Nivalda Costa. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_1/221-231.pdf>. Acesso em: 10 out. 2020.

SOUZA, Débora de; SANTOS, Rosa Borges dos. Acervo Nivalda Costa: circulação, leitura e estudo crítico, Manuscrítica: revista de crítica genética, n. 35. 2018. Disponível em: <http://www.revistas.fflch.usp.br/manuscritica/article/view/2970>. Acesso em: 10 out. 2020.

SOUZA, Florentina da Silva. Jônatas Conceição, um poeta afro-brasileiro, Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 46, n. 4, p. 40-44, out./dez. 2011. Disponível em: <https://core.ac.uk/download/pdf/25529458.pdf>. Acesso em: 10 out. 2020.

MACHADO, Élvio. Apresentação. In: COSTA, Nivalda; SODRÉ, Jaime. Da cor da noite: poemasdramáticos. Salvador: EDUFBA; CEAO, 1983. Série Arte/Literatura. n. 3. p. 3-4.

 

ENTREVISTAS

COSTA, Nivalda Silva. Os roteiros teatrais “Aprender a nada-r” e “Anatomia das feras”.  Entrevistadora: Débora de Souza. Salvador: Biblioteca do Centro de Estudos Afro-Orientais – Ceao/Ufba, fev.  2011. 1 CD.

COSTA, Nivalda Silva. Série de estudos cênicos sobre poder e espaço. Entrevistadora: Débora de Souza. Salvador: Biblioteca do Centro de Estudos Afro-Orientais – Ceao/Ufba, out. 2010. 1 CD.

COSTA, Nivalda Silva. Vegetal vigiado: depoimento [fev. 2009]. Entrevistadora: Débora de Souza. Salvador, 2009. 1 CD. Entrevista concedida ao Grupo de Edição e Estudo de textos teatrais produzidos na Bahia no período da ditadura.

COSTA, Nivalda Silva. Ditadura militar na Bahia. Salvador, nov. 2007.  Entrevista concedida ao Grupo de Edição e Estudo de Textos teatrais produzidos na Bahia no período da ditadura, da UNEB (Luís César Souza e Iza Dantas)

COSTA, Nivalda Silva. Teatro negro na Bahia. Entrevistadora: Christine Douxami. Salvador:      Instituto Cultural Brasil Alemanha – Icba, 23 abr. 1999.

 

LINKS

Acervo Nivalda Costa

Currículo Lattes de Nivalda Costa

Defesa da igualdade racial perde dois de seus ícones: Nivalda Costa e Luiza Bairros

A presença do teatro produzido por mulheres na imprensa escrita da Bahia dos anos setenta

ILÊ AXÉ OPÔ AFONJÁ. O Opô Afonjá chora a partida da intelectual [...]. Salvador, 10 jul. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/search/top/?q=il%C3%AA%20ax%C3%A9%20op%C3%B4%20afonj%C3%A1%20chora%20nivalda%20costa&epa=SEARCH_BOX>. Acesso em: 10 out. 2020.

MEIRELLES, Márcio. Linha do tempo do teatro negro na Bahia. 3 nov. 2010. Disponível em : <https://bandodeteatro.blogspot.com/2010/11/linha-do-tempo-do-teatro-negro-na-bahia.html>. Acesso em: 10 out. 2020.

Nivalda Costa na Revista de cinema contracampo

 

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