Consciência negra

 

Minha consciência negra 

É a expansão da arte 

Feita por aqueles 

Que sentem a ancestralidade africana 

Em seu âmago 

Todos os dias 

Herdada em milênios.

 

Minha consciência negra 

Atravessa os horizontes, 

Ultrapassa as estatísticas, 

Vira o jogo 

Promovendo reparações 

E assumindo o que lhe é por direito.

 

Minha consciência negra 

Não depende do seu olhar, 

Ela advém de referências outras: 

Aqualtune, Dandara, Elisa, 

Lélia, Beatriz, Carolina, 

Conceição, Hildália, Vilma 

Para dentro de mim, 

E no abraço com as irmãs 

Nessa luta milenar.

(Cadernos Negros 39, pág 40)


LIVROS E LIVROS

Ficção

Reconhecer um mestre negro-sobre Oswaldo de Camargo
Mais de 60 anos já se passaram desde a publicação daquele livro assinado por um “poeta da jovem geração negra brasileira” que, apesar da “fala simples”, produzia versos nos quais transparecia “um desejo vivo de ascensão social”, consoante o texto de orelha assinado por Sérgio Milliet — e que, embora ainda deixasse a desejar no que tange à “técnica do verso”, apresentava a “afirmação de uma atitude diante da vida e dos problemas de sua raça”. O poeta era Oswaldo de Camargo; o livro era 15 poemas negros, publicado em 1961, ainda no mome...

Poesia

Conceição Lima – Quando florirem salambás no tecto do pico
A primeira ilustração do livro de poemas Quanto florirem salambás no tecto do pico, de Conceição Lima, poeta de origem são-tomense, destaca o desenho de uma mulher africana sobre o mapa do continente africano, cujos pés se mesclam com raízes e folhagens. A bela ilustração de Santiago Regis, junto com projeto gráfico e diagramação de Sylvia Vartuli, cuidadosos e impecáveis, já apontam, pela via semiótica o vigor e a delicadeza da escrita poética de Conceição Lima. Isso também repercute na última i...

Ensaio

Cida Bento-Pacto da branquitude: um convite à construção de um Brasil alicerçado na equidade racial
Eleita pela revista The Economist como uma das vozes mais influentes do mundo no que diz respeito à promoção da diversidade, em Pacto da branquitude, Maria Aparecida Bento apresenta a questão racial no Brasil sob uma ótica ainda pouco discutida no país: as alianças construídas pelos brancos que são determinantes para a perpetuação do racismo e dos abismos que ele provoca. Lançada em 2022 pela editora Companhia das Letras, a obra resulta de sua tese de doutorado, defendida na Universi...

Infantojuvenil

Itamar Vieira Junior – Chupim
Em agosto de 2024, Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado (2019) e do mais recente ganhador de Jabuti, Salvar o Fogo (2023), publica sua primeira obra dedicada às infâncias. Chupim segue a história e vida de Julim, uma criança como muitas outras de sua comunidade que ajudam seus pais na plantação de arroz, espantando os chupins que se alimentariam desse grão: “ ‘Menino, menino’, a voz do pai chamou / pela casa antes do sol nascer. / Era um convite para o despertar.” (p. 4). Assim começa os dias de Juli...

Memória

Djamila Ribeiro-Amor de vóAmor de vó Heleine Fernandes*   “Tive a quem puxar”. Ouvi diversas vezes esse dito popular em minha infância. Depois de muito tempo, tenho a alegria de reencontrar com ele no livro Cartas para minha avó, de Djamila Ribeiro (Companhia das Letras, 2021). Lembro de sentir um misto de orgulho e espanto de autodescoberta quando alguém dizia em alto e bom som que eu tinha a quem puxar. Esse dito, que reverbera na escrita vocal de Djamila e que é uma espécie de síntese do seu livro, gravou em minha memória um ensinamento profundo do qual ainda não tinha me dado conta: o de que não estou só. Não so...

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