DADOS BIOGRÁFICOS

Cidinha da Silva - nasceu em Belo Horizonte, em 1967. É escritora e editora na Kuanza Produções. Publicou 17 livros distribuídos pelos gêneros crônica, conto, ensaio, dramaturgia e infantil/juvenil. Um Exu em Nova York, recebeu o Prêmio da Biblioteca Nacional (contos, 2019) e Explosão Feminista (ensaio), do qual é co-autora, foi finalista do Jabuti (2019), e recebeu o Prêmio Rio Literatura 4ª edição (2019). Tem publicações em alemão, catalão, espanhol, francês, inglês e italiano. Seus livros estão disponíveis no site da Kuanza Produções: www.kuanzaproducoes.com.br.

Dois livros recentes da autora, Um Exu em Nova York (2018) e Exuzilhar (2019), primeiro volume de uma série com suas melhores crônicas, a ajudaram a compreender que sua pesquisa estética bebe da fonte das africanidades, orixalidades, ancestralidades e da tensão e diálogo entre tradições (africanas, afro-brasileiras, afro-diaspóricas e afro-indígenas) e contemporaneidade. Esse é seu principal tema. Outras temáticas fortes de sua obra são racismo, discriminação racial, desigualdades raciais e de gênero, entre outras questões de Direitos Humanos, mas estas não constituem seu tema central, a centralidade está nas africanidades de um modo geral. Outros temas que lhe despertam especial interesse são: morte, amor, futebol, política, a autora gosta muito de política e escreve bastante sobre esse tema.

A crônica abriga 10 dos 17 livros de Cidinha da Silva. Este gênero dialoga com o tempo e luta contra ele, contra a temporalidade dos fatos e da escrita; um gênero que tem como matéria prima o cotidiano, o que está acontecendo agora e a cronista é desafiada a abordá-lo e ao mesmo tempo evitar que o texto fique datado, ou seja, que tenha um sentido restrito e dirigido apenas a um certo grupo de pessoas. É um gênero que tem várias faces tais como relato, diálogo, texto jornalístico, opinativo, crítica cultural e/ou de costumes, entre outros, e tem tônicas também diversas tais como leveza, crítica, ironia, ritmo, humor, poesia, entre outras.

Certa feita, num debate público, Cidinha mencionou uma afirmação da escritora Ruth Rocha no sentido de que o romance ganhava o leitor por pontos e um livro de contos por nocaute (citação de uma ideia do Cortázar), e então perguntou à renomada escritora, e a crônica? Como a crônica ganha o leitor? A princípio Ruth Rocha disse que não sabia e logo a seguir respondeu espirituosamente “por W.O”.

Sobre a discussão conceitual e política em torno da literatura negra, Cidinha da Silva pontua que muitos colegas, autoras e autores negros, levam um tempo imenso problematizando-os, bem como à sua consequente filiação lítero-política. Não é o seu caso, Cidinha deixa o debate para os/as teóricos/as da literatura e para os/as colegas, autoras e autores negros que militam nessa seara.

No contexto teórico-conceitual Cidinha da Silva gosta muito da nomenclatura autoria negra, é o que mais a contempla porque resguarda sua alteridade, mas, a autora se sente confortável também quando seu trabalho é alocado nas categorias literatura negra; literatura afro-brasileira e literatura afro-diaspórica.

No prefácio da 2ª edição do livro Sobre-viventes!, o filósofo e educador Eduardo Oliveira (UFBA) nos diz o seguinte sobre a literatura de Cidinha da Silva:

Cidinha da Silva materializa uma coisa banto de viver no mundo a partir da pele, e não escapulir para a escatologia. Viver tudo o que é natural! Viver mais que sobreviver. Antecipar no acontecimento o sentido que lhe é inerente sem escapismo para outro mundo. Não existe outro mundo. As coisas se dão e se resolvem aqui. Materializam-se em acontecimentos, fatos e pessoas. Aliás, um livro de crônicas se notabiliza também pelas personagens que cria ou menciona. E pelas paisagens que recria. Neste, os homens francamente vão mal, mas vão mal demais! Tem exceções, visto que esse é um livro de literatura banta, que vive da complexidade e não tolera simplismo. As mulheres, ah as mulheres!, infinitamente mais plásticas, mais várias, mais humanas, mais coloridas, mais protagonistas, mais felinas, mais cotidianas, menos retas, mais curvas, mais viventes, mais humanas. Quanto ao mundo heteronormativo, só posso dizer que com as Crônicas de Cidinha, ele “pira”! Não me impressiona que ela corra o risco do texto caricato e, em nenhum caso, caia na armadilha. A autora escapa, de longe, da literatura cifrada e ideologicamente identificada. É arte, não ideologia! Ela fala como mulher, negra, lésbica – seu modo de habitar a vida. É seu ponto de partida e não de chegada. Faz literatura banta, universalizável desde seu lugar de pertencimento. Cria seu próprio modo de expressão. Constitui seu universo. Escolhe suas referências. Diz com o estilo o que não se pode dizer com a frase. Ultrapassa o dito com o Dizer. Para mim, isso é literatura. Dizer para além do dito. Intencionalmente ocultar para revelar. Revelar ocultando. Nesse jogo, deslinda-se o humano. (OLIVEIRA, Eduardo. Prefácio a Sobre-viventes!, 2020).

Cidinha da Silva é autora ainda das peças teatrais Sangoma: saúde às mulheres negras, escrita em parceria com a “Capulanas Cia de Arte Negra” e encenada em 2013; Engravidei, pari cavalos e aprendi a voar sem asas, encenada pelo grupo "Os Crespos" em 2014, e Os coloridos, também encenada pelo grupo em 2015. Estas peças foram agrupadas no livro O teatro negro de Cidinha da Silva, publicado pelo Selo Aquilombô (Belo Horizonte) em 2019.

Além da produção literária, Cidinha da Silva organizou duas obras significativas para compreender a situação sócio-político-cultural do negro brasileiro na contemporaneidade, a saber: Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras, um livro de 2003, uma das 10 primeiras obras sobre o tema das ações afirmativas para a população negra publicada no Brasil. O segundo livro é Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil, considerada como obra de referência pela CAPES.

No aspecto acadêmico, graduou-se em História pela UFMG, iniciou três mestrados e não concluiu nenhum deles, é doutoranda em Difusão do Conhecimento na Universidade Federal da Bahia, onde pesquisa políticas públicas para o livro, leitura, literatura e bibliotecas na cidade de São Paulo, na perspectiva de africanidades (2003-2016). Contudo, considera que Geledés – Instituto da Mulher Negra foi a escola que mais a transformou e ofereceu ferramentas para que enfrentasse a vida e produzisse pensamento e literatura. Presidiu a organização no período 2000-2002, tendo sido sua presidenta mais jovem.

Além das obras referidas, autora tem presença constante nas redes sociais e na imprensa crítica e independente publicada na internet. É editora da Fanpage cidinhadasilvaescritora, do blogue cidinhadasilva.blogspot.com.br  e colunista dos portais  Jornalistas LivresDiário do Centro do Mundo, reproduzidos pelo portal Geledés, entre outros

 


PUBLICAÇÕES

Obra Individual

Cada Tridente em seu lugar e outras crônicas. São Paulo: Instituto Kuanza, 2006. 2. ed., rev. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007. (Crônicas).

Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor! Belo Horizonte: Mazza Edições, 2008. (Crônicas).

Os nove pentes d´África. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2009. (Novela Infantojuvenil).

Oh margem! reinventa os rios! São Paulo: Selo Povo, 2011. 2. ed., Rio de Janeiro, Oficina Raquel, 2020 (Crônicas).

O mar de Manu. São Paulo: Kuanza Produções, 2011. (Infantojuvenil).

Kuami. Belo Horizonte: Nandyala, 2011. 2. ed., São Paulo, Pólen Livros, 2019. (Infantojuvenil).

Racismo no Brasil e afetos correlatos. Porto alegre: Conversê Edições, 2013. (Crônicas).

Baú de miudezas, sol e chuva. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2014. (Crônicas).

Sobre-viventes!. Rio de Janeiro: Pallas, 2016. (Crônicas).

Canções de amor e dengo. São Paulo: Edições Me Parió Revolução, 2016. (Poesia).

#Parem de nos matar! São Paulo: Editora Ijumaa, 2016. 2. ed. Kuanza Produções e Pólen Livros, 2019. (Crônicas).

O homem azul do deserto. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2018. (Crônicas e Contos). 

Um Exu em Nova York. Rio de Janeiro: Pallas Editora, 2018. (Contos).

Exuzilhar: melhores crônicas de Cidinha da Silva, vol.1. São Paulo, Kuanza Produções, 2019. (Crônicas).

Pra começar: melhores crônicas de Cidinha da Silva, vol.2. São Paulo, Kuanza Produções, 2019. (Crônicas).

A menina linda e outras crônicas. São Paulo: Oficina Raquel, 2022.

Vamos falar de relações raciais? Crônicas para debater o antirracismo. Belo Horizonte: Autêntica, 2024.

Dramaturgia

O teatro negro de Cidinha da Silva. Belo Horizonte, Selo Aquilombô, 2019.

O teatro negro de Cidinha da Silva: SangomaSaúde às mulheres negrasEngravidei, pari cavalos e aprendi a voar sem asas; Os coloridos. Ilustração de Priscila Justina. Belo Horizonte: Pi Laboratório Editorial, 2019.

Antologias

Negrafias: literatura e identidade. Organização de Marciano Ventura. São Paulo: Ciclo Contínuo, 2008.

Questão de pele. Org. Luiz Ruffato. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. (Vol. 3, Contemporaneidade).

Legítima defesa. São Paulo: Cia. Os Crespos, Cooperativa Paulista de Teatro, v. 1, n. 1, p. 105-128, 2º semestre, 2014.

Abrindo a boca, mostrando línguas: 16 escritoras brasileiras LGBTQI+. Organização de Milena Brito. Salvador: Boto-cor-de-rosa livros arte e café / Paralelo 135, 2021.

Não Ficção

Ações Afirmativas em Educação: experiências brasileiras. São Paulo: Summus/Selo Negro, 2003. (Organização).

Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2014. (Organização).

Projeto Rappers: uma iniciativa pioneira e vitoriosa de interlocução entre uma Organização de Mulheres Negras e a juventude no Brasil. In: ANDRADE, Elaine Nunes de (Org.). Rap e educação, rap é educação. São Paulo: Selo Negro, 1999.

Formação de Educadores para o combate ao racismo. In: CAVALLEIRO, Eliane dos Santos (Org.). Racismo e anti-racismo na Educação: repensando a nossa escola. São Paulo: Selo Negro Edições, 2001.

Ações afirmativas em educação: um debate para além das cotas. In: SILVA, Cidinha da (Org.). Ações Afirmativas em Educação: experiências brasileiras. São Paulo: Summus/Selo Negro, 2003, p. 17-38.

Definições e metodologias para seleção de pessoas negras em programas de ação afirmativa em educação. In: SILVA, Cidinha da (Org.). Ações Afirmativas em Educação: experiências brasileiras. São Paulo: Summus/Selo Negro, 2003, p. 39-61.

Geração XXI: o início das ações afirmativas em educação para jovens negros(as). In: SILVA, Cidinha da (Org.). Ações Afirmativas em Educação: experiências brasileiras. São Paulo: Summus/Selo Negro, 2003, p. 63-78.

Afro-ascendente: produzindo lastro para o sonho. In: SILVA, Cidinha da (Org.). Ações Afirmativas em Educação: experiências brasileiras. São Paulo: Summus/Selo Negro, 2003.

Participação negra nos fóruns de cultura. In: SILVA, Cidinha da (Org.). Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2014, p. 358-364.

 


TEXTOS

 


CRÍTICA


FONTES DE CONSULTA

ALEXANDRE, Marcos Antônio. O homem azul do deserto: as múltiplas vozes de Cidinha da Silva. Prefácio a O homem azul do deserto. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2018.

DIAS, Camila Sodré de Oliveira. As urgências dos corpos negros na prosa de Cidinha da Silva. In: AUGUSTO, Jorge (Org.). Contemporaneidades periféricas. Salvador: Segundo Selo, 2018, p. 109-130.

DUARTE, Constância Lima. Cidinha da Silva. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.) Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, vol. 3, Contemporaneidade.

FARIA, Marcos Fábio. O teatro que importa. Prefácio a O teatro negro de Cidinha da Silva: SangomaSaúde às mulheres negrasEngravidei, pari cavalos e aprendi a voar sem asas; Os coloridos. Ilustração de Priscila Justina. Belo Horizonte: Pi Laboratório Editorial, 2019.

FONSECA, Maria Nazareth Soares. De mulheres seduzidas (e aturdidas) por um toque de tambor, prefácio a Você me deixe, viu? Eu vou bater o meu tambor! Belo Horizonte: Mazza, 2008.

NASCIMENTO, Wanderson Flor do. Prefácio: Enxuzilhando a memória. In: Um Exu em Nova York. Rio de Janeiro: Pallas Editora, 2018.

NATÁLIA, Lívia. Prefácio a Sobre-viventes. Rio de Janeiro: Pallas, 2016.

PASSÔ, Grace. De pedra, carne e água - sobre Baú de miudezas. Prefácio a Baú de miudezas, sol e chuva. Belo Horizonte: Mazza, 2014.

PEREIRA, Edimilson de Almeida. A estrada é uma coisa, o caminho é outra, Prefácio a Cada Tridente em seu lugar. 2 ed. Belo Horizonte: Mazza, 2007.

SILVA, Marcos Fabrício Lopes da. Prefácio a Racismo no Brasil e afetos correlatos. Porto alegre: Conversê Edições, 2013.

SILVA, Marcos Fabrício Lopes da. Cidinha da Silva, crítica da mídia. In: DUARTE, Constância, PÉRES, Fátima, NASCIMENTO, Imaculada, ABREU, Laile (Org.) Poéticas do feminino. Belo Horizonte: Idea, 2018. 

 

 

 


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