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Textos publicados nas lâminas – bloco V

O rio

Olavo Bilac

Da mata no seio umbroso,
No verde seio da serra,
Nasce o rio generoso,
Que é a providência da terra.

Nasce humilde; e, pequenino,
Foge ao sol abrasador;
É um fio d'água, tão fino,
Que desliza sem rumor.

Entre as pedras se insinua,
Ganha corpo, abre caminho,
Já canta, já tumultua,
Num alegre borburinho.

Agora ao sol, que o prateia,
Todo se entrega, a sorrir;
Avança, as rochas ladeia,
Some-se, torna a surgir.

Recebe outras águas, desce
As encostas de uma em uma,
Engrossa as vagas, e cresce,
Galga os penedos, e espuma.

Agora, indômito e ousado,
Transpõe furnas e grotões,
Vence abismos, despenhado
Em saltos e cachoeirões.

E corre, galopa, cheio
De força; de vaga em vaga,
Chega ao vale, alarga o seio,
Cava a terra, o campo alaga . . .

Expande-se, abre-se, ingente,
Por cem léguas, a cantar,
Até que cai finalmente,
No seio vasto do mar . . .

Mas na triunfal majestade
Dessa marcha vitoriosa,
Quanto amor, quanta bondade
Na sua alma generosa!

A cada passo que dava
O nobre rio, feliz
Mais uma árvore criava,
Dando vida a uma raiz.

Quantas dádivas e quantas
Esmolas pelos caminhos!
Matava a sede das plantas
E a sede dos passarinhos . . .

Fonte de força e fartura,
Foi bem, foi saúde e pão:
Dava às cidades frescura,
Fecundidade ao sertão . . .

E um nobre exemplo sadio
Nas suas águas se encerra;
Devemos ser como o rio,
Que é a providência da terra:

Bendito aquele que é forte,
E desconhece o rancor,
E, em vez de servir a morte,
Ama a vida, e serve o Amor!

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Barca bela

Almeida Garrett

Pescador da barca bela,
Onde vás pescar com ela
Que é tão bela,
Ó pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!

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Mar português

Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

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Palavra de mulher

Maria Helena Camargos Moreira

Palavra de mulher é gotejada
Letra a letra
De suor e brita
De labuta e sangue
Jamais nasce pronta

Palavra de mulher é escavada
Sob montanhas no fundo
Entre seixos pontiagudos
Vai brotando miúda
Feito olho d’água
Pontilhando atalhos
Pouco a pouco formando um caudal
Inunda o mundo:
Palavra de mulher!

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Carta do descobrimento do Brasil

Pero Vaz de Caminha

Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos — terra que nos parecia muito extensa.

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. As águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!

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Saca-rolha

Zé da Zilda - Zilda do Zé - Waldyr Machado

As águas vão rolar
Garrafa cheia eu não quero ver sobrar
Eu passo a mão no saca-saca-saca rolha
E bebo até me afogar

Se a polícia por isso me prender
Mas na última hora me soltar
Eu passo a mão no saca-saca-saca rolha
Ninguém me agarra, ninguém me agarra

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Chuva de prata

Ed Wilson e Ronaldo Bastos

Se tem luar no céu, retira o véu
E faz chover sobre o nosso amor
Chuva de prata que cai sem parar
Quase me mata de tanto esperar
Um beijo molhado de luz sela o nosso amor
Toda vez que o amor disser vem comigo
Vai sem medo de se arrepender
Você deve acreditar no que é lindo
Pode ir fundo, isso é que é viver
Basta um pouquinho de mel pra adoçar
Deixa cair o seu véu sobre nós
Ó lua bonita no céu, molha o nosso amor
Cola o seu rosto no meu, vem dançar
Pinga seu nome no breu pra ficar
Enquanto se esquece de mim lembra da canção
Enquanto se esquece de mim lembra da canção
A lua bonita do céu banha o nosso amor

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Remanso

Ronald Claver

Dois rios na monotonia da geografia
Desenham no mapa itinerário das águas
A paisagem não é de violência antes de
Fome, confluência

CONVERSAM:

“O CORPO É UM LAGO
PARA SER ALAGADO”

— e assim deitado, espraiado e tonto
tento permanecer no teu corpo tanto

“O CORPO É UM RIO
PARA SER INUNDADO”

— e tento cobrir este teu corpo de sede
tanta e vária

“O MAR É UM CORPO
PARA SER TRANSBORDADO”

— e te cubro e enovelo neste leito aquoso
e te inundo de meu ser poroso

“O CORPO É UM AFLUENTE
PARA SER DOMADO”

— e bebendo de sua boca
as palavras, te respondo:

O CORPO É UM BRAÇO DE RIO
UM LANDE DE ÁGUA, UMA PEDRA
UMA QUEDA
E NESTE INSTANTE ME LANÇO
E ME QUEDO MANSO COMO RIACHO
NO TEU REMANSO
E RIO E RIO CONTINUAM A GEOGRAFIA
COMO UMA CANOA COMPRIDA E LONGA

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Itinga

Ronald Claver

O Rio Jequitinhonha divide
O coração da Cidade
De um lado o remo, o barco, o barqueiro
E a esperança da travessia
De outro a vida atravessada

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Ninguém se banha duas vezes nas águas do mesmo rio

Heráclito de Éfeso

nós e o rio
mudamos
sem cessar

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O assinalado

Cruz e Sousa

Tu és o louco da imortal loucura
O louco da loucura mais suprema,
A terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu’alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco,

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!

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Meninas de Minas

Elizabeth M. F. Teixeira

As meninas de Minas são recatadas
Mas lúdicas.
As outras são lúcidas.

As meninas de Minas são pálidas.

As meninas de Minas
Trazem rosários no peito.
As meninas de Minas
Tiram poemas dos seios.

As meninas de Minas
Recitam de mãos pra trás
E as outras riem.

As meninas de Minas
Têm uma sina,
As outras, futuro.

As meninas de Minas
Às vezes suspiram rasgado...
Eu não sei porquê.

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Pele

Elizabeth M. F. Teixeira

Os sentimentos
Têm vida própria
E escrevem sua história
Em minha pele.

Onomatopéias,
Metáforas...
Criam enigmas,
Mandam mensagens,
Fazem tatuagens.

Páginas e páginas
De fina textura
Colam-se à minha pele.
Sou um livro que anda
E enuncia enigmas

Parto de uma história
Que se auto-explica.
Majestosa,
Caminho entre os signos:
Um mastro, um sino,
Um barco,
E esta porcelana aos pedaços...

Ilustrações de alunos de Escola de Belas Artes da UFMG

Gustave Doré Tatiana Tameirão Julius Alessandra Threvenard Cesária