Evento contará com a participação do diretor e roteirista, Luiz Carlos Lacerda

Legenda: escritor mineiro será homenageado em jornada na Fale
Fonte: Diretor e Cenógrafo brasileiro Eros Martim Gonçalves

No dia 28 de setembro de 1968 falecia, no estado do Rio de Janeiro, um dos grandes nomes da literatura brasileira, Joaquim Lúcio Cardoso, ou apenas Lúcio Cardoso. Mineiro da cidade de Curvelo, Lúcio Cardoso é considerado expoente da literatura de cunho intimista e introspectiva, da década de 1930, ao lado dos romancistas Otávio de Faria e Cornélio Pena e do poeta Vinícius de Moraes.

50 anos depois de sua morte, a Faculdade de Letras (Fale), por meio do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários (Pós-lit) e do Acervo dos Escritores Mineiros (AEM), realiza, no próximo dia 14 de setembro, a jornada Lúcio Cardoso – 50 anos depois, no auditório 1007, da Fale.

A conferência de abertura Lúcio Cardoso leitor será feita pela professora aposentada da Fale, Ruth Brandão, às 9h30. Ruth é mestre e doutora em estudos literários pela UFMG e pós-doutora pela Universidade de Paris. É autora de vários livros de ensaio, como Mulher ao pé da letra (Editora UFMG), Literatura e psicanálise (Editora UFRS) e A vida escrita (7Letras), além de livros de contos, de poesias e um romance: Para sempre amada.

Logo após a mesa de abertura serão apresentadas duas mesas, a primeira Sobre Casas Assassinadas, com a palestra do professor emérito da Fale, Wander Melo Miranda, A casa assassinada ou o paraíso perdido, a palestra do professor de Gustavo Silveira Ribeiro, Crônica da Casa Assassinada: o sentido do trágico, e a palestra O cão e o crucifixo: Lúcio Cardoso um contista moderno, de Valéria Lamego (PUC-Rio).

A segunda mesa Outros olhares... será composta pela professora e pesquisadora da Escola de Belas Artes da UFMG, Andrea Vilela, que apresentará a palestra O que olha por mim são sempre olhos de menino, e pela professora Marília Rothier Cardoso, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), que apresentará a palestra Experimentos narrativos em torno do melodrama, às 14h.

 A conferência de encerramento Balanço de Lúcio Cardoso 50 anos depois será realizada pelo professor e pesquisador de literatura brasileira, poesia brasileira, edição crítica e crítica genética e textual, da Universidade de São Paulo (USP), Ésio Macedo Ribeiro, que também organizou a edição completa dos diários e da poesia de Lúcio Cardoso, às 15h20.

Todas as mesas e conferências serão mediadas pelo professor Leandro Garcia, docente de Teoria Literária da Fale e atual diretor do Acervo dos Escritores Mineiros da UFMG, que também é o organizador deste evento.

Em seguida, às 16h30, haverá a exibição do filme Introdução à Música do Sangue, do diretor brasileiro Luiz Carlos Lacerda, com base num roteiro inacabado do próprio Lúcio Cardoso. Às 18h, haverá debate com o diretor sobre a obra e a adaptação do roteiro. Luiz Carlos Lacerda, diretor e roteirista, começou no cinema em 1965 como assistente de direção de Ruy Santos. Estreou na direção com Mãos Vazias, em 1971, uma adaptação do romance homônimo de Lúcio Cardoso, em que aborda a questão da mulher na sociedade brasileira. Mas seu maior sucesso veio em 1987 com a versão para o cinema da história da grande atriz Leila Diniz que teve como título o nome de ela, interpretada por Louise Cardoso. Realizou e roteirizou cerca de 30 curtas sobre personagens da cultura brasileira como Nelson Pereira, Lucio Cardoso, Cecilia Meireles, Ernesto Nazareth, Antonio Parreiras, entre outros.

A entrada é gratuita e sem necessidade de inscrição prévia. A programação completa pode ser consultada aqui

Sobre Lúcio Cardoso

Lúcio Cardoso escreveu romances, peças, poesias e se expressou por meio das artes plásticas. Embora sua escrita costume ser associada à chamada literatura psicológica, iniciou sua carreira com dois romances de cunho sociológico, Maleita (1934) e Salgueiro (1935), com marcada mudança de rumo em Luz no Subsolo (1936). Sua literatura, a partir de então, prioriza o questionamento da condição humana e de valores como o bem e o mal, como nos romances Mãos Vazias, Inácio, Dias Perdidos e nas novelas O Enfeitiçado e Baltazar, dentre outras da década de 1940.

Sua obra-prima Crônica da Casa Assassinada (1959) é um dos livros mais cultuados da literatura brasileira, tendo sido traduzido para o francês, italiano e inglês. A literatura de Cardoso teria imenso impacto sobre a obra de Clarice Lispector, de quem foi amigo e mentor, e a qual lhe dedicou uma ligação amorosa explicitada em sua correspondência.

Ao longo das décadas de 1940 e 1950, Cardoso manteve colaboração ativa com a imprensa, escrevendo no jornal A Noite, entre outros. Essa época marcou também sua atuação mais intensa como autor teatral, com peças como Angélica, A Corda da de Prata, e O Filho Pródigo, esta última a primeira obra brasileira encenada pelo Teatro Experimental do Negro, em 1947, com Abdias do Nascimento e Ruth de Souza.

O envolvimento com o teatro abriu caminho para sua verdadeira paixão, o cinema. Em 1948, Cardoso escreveu o roteiro para o filme Almas Adversas (1949), dirigido por Leo Marten, e, no ano seguinte, escreveu e dirigiu A Mulher de Longe, longa-metragem inacabado, que foi tema do documentário do mesmo nome, realizado em 2012 por Luiz Carlos Lacerda.

Lúcio Cardoso foi, no Brasil, uma das primeiras figuras culturais de destaque a assumir sua homossexualidade. Deixou em seu Diário, escrito entre os anos de 1949 a 1958, relato bastante contundente sobre sua orientação sexual, assim como as dúvidas e culpas geradas por sua formação católica. Em 1962 teve um derrame cerebral, que paralisou o lado direito do seu corpo, impedindo-o de escrever. Passou então a se dedicar com afinco à pintura e chegou a realizar duas exposições em vida. Morreu aos 56 anos vitimado por um segundo AVC. Seu talento foi reconhecido pela Academia Brasileira de Letras, que lhe conferiu, em 1966, o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra.


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