ANDRÉ – (debochando) Você tá me dizendo que nossa família veio da Etiópia? Tem certeza disso?
ANTÔNIO – Certeza nunca teremos! A documentação que estava sob os cuidados de Ruy Barbosa foi queimada.
ANDRÉ – Será que o cara queimou tudo já prevendo o processo de indenização que o advogado maluco do programa do Jô abriu?
ANTÔNIO – Você tem dúvidas, André?
Antônio volta a ajeitar mais roupas brancas na mala de viagem.
ANDRÉ – Calma aí, Antônio. Na época da abolição, quem entrou com processos de indenização foram os senhores das fazendas, alegando que aquela liberdade repentina iria prejudicar economicamente seus negócios. (estranha uma camisa no meio de suas coisas) Espera aí... Essa camisa não é minha (joga a camisa para Antônio que também a estranha) A queima da documentação, na verdade, foi pra evitar que aqueles senhores passassem a mão no dinheiro público. Você sabe disso!
ANTÔNIO – Ok... Queimou tudo e o Tesouro Nacional foi preservado. Mas o preço disso foi o sumiço na história de papéis importantes que nos davam pistas de onde vieram nossos ancestrais, além das provas oficiais e concretas do uso de mão de obra escrava. (joga de volta a camisa para André) E essa camisa também não é minha!
(Namíbia, não!, p. 64.)
Ao contrário do que o título pode induzir a pensar, O escravo de Carolina Maria de Jesus, não é um livro que diz respeito ao nefasto período da escravização institucional no Brasil. Na verdade, a subordinação a que se refere esse título é aquela relativa a uma dimensão subjetiva que a condição psíquica de Renato, protagonista do até então inédito r...
Criar caminhos de diálogos entre Brasil e África sempre esteve em pauta no cenário literário brasileiro. Seria perverso olvidar que os primeiros escritos produzidos por brasileiros/as tiveram a presença da África como parte inegável de nós mesmos. Todavia, a maneira como foi poetizado ou narrado o continente, o ethos populacional, o fluxo diaspórico e as heranças aqui deixadas sofreram intermitentes desvalorizações, uma vez que a historiografia li...
É preciso buscaroutros referenciaisepistêmicospara quea mulher negrapossa existire falar. Heleine Fernandes de Souza2020 Sinto-me um pouco suspeita ao fazer uma resenha sobre a obra A poesia negra-feminina de Conceição Evaristo, Lívia Natália e Tatiana Nascimento, de Heleine Fernandes de Souza (2020, Editora Malê). Não porque conheça a autora da pesquisa (e seria um prazer conhecê-la), mas porque aprecio fortemente as três autoras por ela investigadas as quais, diga-se de passagem, sã...
O campo da literatura infantojuvenil afro-brasileira vem se desenvolvendo com constantes publicações voltadas para a temática. Protagonistas negros(as) e interessados em saber e informar sobre a cultura de seu povo são criados com a missão de repassar, sob outro olhar, como foi historicamente a participação do negro e como retratar algumas destas situações em uma narrativa com personagens mirins. Estes se tornam um referencial para a reconstrução histórica e para a afirmação de identidade. Fruto de um projeto idealizado pelo fi...
Submundo (2023) é um livro de cadeia. Foi nela, mais precisamente na Penitenciária do Carandiru, que Abdias Nascimento escreveu um importante capítulo da jornada que fez de...
