Ladainha
vamos lá
não pra ver o que é que dá
vamos lá pra virar
não são milhas pra partir
são encruzilhadas
barricadas
pra proteger e curar
essas feridas que sangram
cicatrizes que ficam
marcas que reivindicam
um grito de verdade
(Eu, mulher negra, resisto, p. 85.)
Não havia nada em que pudessese segurar, tudo apresentava perigo: os fios de alta tensão sobre sua cabeça, o apoio vacilante sob os pés, os obstáculos que cruzavam velozmente o seu caminho. No entanto, estar ali, sobre aquele trem de balançar contínuo e ranger de velhas latarias, de cócoras, feito surfista numa prancha em pleno mar,dava-lhe uma sensação só sentida por ele a cada estação alcançada, a cada curva vencida, a cada fio de alta tensão de que conseguia se desvencilhar. Ser surfista de trem da Central do Brasil era o seu barat...
Tudo estranhezaTudo poesiaVagner Amaro Vagner Amaro tem se destacado no campo cultural por sua intensa atuação em diversas frentes. Bibliotecário e jornalista de formação, Amaro fundou a editora Malê, no ano de 2015, juntamente com o professor Francisco Jorge, movidos pelo desejo de contribuir para a alteração do estado de coisas da cena literária nacional. Para isso, a casa de publicação prioriza autoras e autores de pele negra. Conceição Evaristo, Geni Guimarães, Miriam Alves, Cristiane Sobral, Eliana Alves Cruz, Cu...
Até a difusão do uso das correspondências eletrônicas, a troca de cartas era uma prática bastante comum aos escritores. Elas registravam as redes de relações afetivas, o pensamento e o cotidiano de seus cultores/ utilizadores/ redatores. (PIRES, 1996). As cartas trocadas entre escritores são, frequentemente, lugares de apresentação de textos aos pares, em que se dialoga sobre as possibilidades de finalização, num ensaio de uma primeira recepção. Elas podem abordar, ainda, as ...
Que mundos são possíveis para nós, pessoas negras? Quais tecnologias – científicas, artísticas, espirituais – permitirão que continuemos vivos e vivas? São perguntas assim que movem a escrita futurista elaborada por e para pessoas negras. A narrativa que habita este volume nasce desse estímulo de fabulação que é, ao mesmo tempo ato de resistência. A escrita de autoria negra é uma ponte entre mundos da memória e do futuro, a ficção recria um passado não-registrado e proporciona novos horizontes que talvez ainda não possam ser vistos, mas que po...
O ator e dramaturgo baiano Lázaro Ramos nos últimos anos têm experimentado as múltiplas possibilidades da escrita literária: publicou os livros infantis A velha sentada (2010), Cadernos de Rimas do João (2015) e agora o livro de memórias e reflexões intitulado Na Minha Pele (2017). Sua mais nova obra não é propriamente uma autobiografia, ainda que ressoe para alguns como traços íntimos de sua vivência. A temática pungente da narrativa são as relações raciais no Brasil, especificamente o olhar crítico do p...









