Iemanjá

Vai dançar Iemanjá, protetora bonita

Deste rico rincão de terra brasileira.

No centro do terreiro, onde o samba se agita,

Em negras ondas solta a basta cabeleira.

 

É um gosto ali se ver, toda de azul e branco,

A dona do sentir das donzelas formosas,

O corpo meneando em doloroso arranco,

Tendo a boca a sorrir em pétalas de rosas.

 

Santa dos corações que sofrem por amor,

Deusa do bravo mar, das cristalinas águas.

A um só tempo és estrela e ao mesmo tempo és flor

Que transmuda em prazer as grandes fundas mágoas.

 

A dança singular de tal modo nos prende

– Dança breve e sutil de airosa dançatriz –

Que dentro em cada qual desejo enorme acende

De cair no bembé para ser mais feliz.

 

O cântico seduz. Sobre a terra molhada

Pisa altiva e serena a sereia do mar,

Bailando ao marulhar de mareta encrespada,

O ebúrneo corpo quer nas vagas mergulhar.

 

É uma moça fidalga. O seu olhar fascina.

Tem cabelo cheiroso e lábios carminados.

Como toda galante e lépida menina,

Gosta de pós de arroz, de espelhos e brocados.

 

Quando às vezes obter se lhe pretende a graça,

Dão-se-lhe macumba os mais lindos presentes,

Pois só mesmo Iemanjá, ditosos dias traça

Aos tristes corações de amores padecentes.

 

Das ofertas gentis toda a custosa soma,

Dizem que vem buscar, quando a noite vai alta,

Cantando à fola da água, ao vento a negra coma,

Pelas praias sem fim que o luar ameno esmalta.

(Aloísio Resende, p. 52-53.)


Texto para download

 


LIVROS E LIVROS

Ficção

Ruth Guimarães - Contos negros
Esta é a primeira edição de Contos negros, obra de Ruth Guimarães terminada na década de 1980, e que se mantinha inédita por motivos pessoais da escritora. Merece entusiasmada comemoração. Neste ano em que Ruth faria 100 anos, Contos negros, em nosso país, tem especial significado, que a autora, em 128 páginas, aponta com simplicidade e exemplar erudição. O livro tem o jeitão  negro-caipira  de Ruth Guimarães, afeita a recolher e  contar “causos”, primos descalços dos contos eruditos, mas, se se observa bem, acrescenta a isso a sua cond...

Poesia

Ségio Ballouk - Recital de pedra
  O corpo negro mirado no espelho reclama atributo antigo desejo além Narciso obscenando partes ao medo branco escandalosamente rindo o corpo negro em reflexo midiático reafirma padrão a centenas de outros possibilidade de enegrecer a miragem outrora refletido em ângulo tímido aponta nariz preto cabelo crespo contornos distintos partes de um ser lindo agora por inteiro rindo Sergio Ballouk 2021       Fazer prefácio, para mim, é despir-se para ler, é abrir-se a sensação de cada construção poética, é deixar ser tocado na sensibilidade sem...

Ensaio

Anna Faedrich e Rafael Balseiro Zin – A mente ninguém pode escravizar: Maria Firmina dos Reis pela crítica contemporânea
A história do Brasil, da Colônia à República, carrega certa intimidade com o número 22. Mais que certa intimidade, podemos dizer que se trata de uma verdadeira sina. No último ano do século XV, 1500, por exemplo, a chegada dos primeiros portugueses ao território denominado pelos povos originários tupis-guaranis como Pindorama se deu no dia 22 do mês de abril. No vigésimo segundo ano do século XIX, mais especificamente em 7 de setembro, o país viu sua independência de Portugal se tornar uma realidade, ...

Infantojuvenil

Madu Costa - A caixa de surpresa e Lapis de cor
Escritora, “contadora” de histórias e educadora ligada principalmente à literatura infanto-juvenil, Madu Costa trata a afro-brasilidade de várias formas em suas obras, e se dedica a participar de projetos e eventos que objetivam o reconhecimento e a expansão de tal campo artístico de nossa literatura. Envolvendo-se em espetáculos de teatro e ministrando oficinas de contação de histórias, a autora busca incentivar não só a leitura em meio às crianças, mas, também, a produção de...

Memória

Carolina Maria de Jesus - Casa de alvenaria, vol. 1 e 2Carolina de Jesus na Casa de alvenaria       Aline Alves Arruda¹         Como é horrível viver em São Paulo parece que eles não admite que uma favelada tenha conseguido uma casinha eu sou uma amostra queDeus apresenta a humanidade, comprovando que a humanidade, é egoísta. Carolina Maria de Jesus 08 de fevereiro de 1961               Após um longo tempo esquecida, desde que Carolina Maria de Jesus voltou a ser lembrada, lida e mais estudada (o que acredito tenha acontecido, principalmente, depois do seu centenário em 2014), ela é marcada apenas pelo seu “best seller” Quarto de despejo, publ...

Newsletter

Cadastre aqui seu e-mail para receber periodicamente nossa newsletter e ficar sempre ciente das novidades.

 

Instagram

 

YouTube