DADOS BIOGRÁFICOS

Há pelo menos três versões do local de nascimento do poeta Domingos Caldas Barbosa. A primeira delas diz que ele nasceu no Rio de Janeiro em 1740. A segunda, conforme afirmação do cônego Januário da Cunha Barbosa, diz que o poeta teria nascido a bordo de um navio. E a terceira afirma que ele haveria nascido a bordo de um navio, entre as duas cidades. Segundo Afrânio Coutinho ¹, Caldas Barbosa teria nascido no dia 4 de agosto de 1738 a bordo de um navio entre Rio de Janeiro e Bahia. Era mulato, filho de um português e de uma negra, escrava de seu pai. Iniciou os estudos no colégio dos padres jesuítas, onde se distinguiu pela vivacidade da inteligência e, ainda menino, revelou seu talento de repentista e sua veia satírica.

De certa forma, Caldas Barbosa desagradava e incomodava bastante a corte portuguesa, pois suas sátiras não respeitavam hierarquias, atingindo desde o célebre Gregório de Matos até o Conde de Dolabella. Assim, incorreu no desagrado geral. Por ordem desse mesmo conde, foi, em 1758, recrutado e incorporado às forças que operavam na colônia do Sacramento, onde permaneceu refém até a invasão dos espanhóis, em 1762, quando, a pedido do Conde de Pombeiro, foi concedido ao poeta a dispensa do serviço militar. De volta ao Rio de Janeiro, deu baixa no serviço militar e seguiu para Lisboa, onde seguiu seus estudos vindo a tornar-se Capelão da Casa de Suplicação.

A tonalidade da pigmentação da pele fez com que, em Lisboa, se tornasse conhecido pelo apelido de “Caldas de Cobre”, designação que foi usada para distingui-lo do “Caldas de Prata”, que era o poeta e padre Antônio Pereira de Souza Caldas, também carioca. Nessa cidade era “o protegido” de um oficial de justiça, irmão do vice-rei do Brasil. Foi esse oficial que o introduziu na sociedade lisboeta, onde Caldas Barbosa começou a conquistar a fama, tanto pela facilidade com que improvisava seus versos, como pela melodiosa entoação com que os cantava. Acompanhava com uma viola os madrigais que compunha, o que fez com que muitos dos seus contemporâneos vissem nele mais um trovador que um poeta.

No entanto, a qualidade de sua produção literária é inegável. Seus trabalhos valeram-lhe a admissão na Nova Arcádia, passando a adotar o pseudônimo Lereno Selinuntino. É este Lereno que Bocage satirizou em alguns dos seus epigramas e a quem chamava, depreciativamente, “orangotango”... Além de inúmeras cantigas, compôs quintilhas e sonetos. Fez uma compilação em verso da História Sagrada, que, durante muito tempo, foi usada como livro didático, e escreveu praticamente em todos os gêneros de poesia. Revelou-se como um poeta expressivo e um mestre na composição de canções populares do século XVIII. Foi considerado por Brookshaw como “um poeta não-conformista no sentido em que inconscientemente corrompeu os padrões poéticos brancos”. (BROOKSHAW, 1983, p. 163-164).

A respeito da importância de sua obra, Manuel Bandeira faz o seguinte comentário:

Caldas Barbosa é o primeiro brasileiro onde encontramos uma poesia de sabor inteiramente nosso. Algumas peças de Viola de Lereno pareciam poesia popular de hoje, se não se levar em conta a correção e elegância da dicção. Sua poesia, toda ela inspirada nas formas populares, modinhas e lunduns, não foi compreendida por José Veríssimo, que só viu na Viola de Lereno os “requebros da musa mulata a disfarçar a mesquinhez de inspiração e de forma.” No entanto, bastaria corrermos os olhos pelos poetas que o antecederam, para verificarmos logo a importância de sua contribuição à poesia brasileira. Contribuição das mais respeitáveis, seja pela graça espontânea com que este filho de português e de africana soube por em versos seus anseios e tormentos, esperanças e emoções”. (BANDEIRA citado por CAMARGO, 1987, p. 29).

O poeta faleceu em 9 de novembro de 1800, no palácio do Conde de Pombeiro, em Bemposta, Lisboa. Foi sepultado no dia seguinte na Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, onde se encontra.

Referências

BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Tradução de Marta Kirst. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983, p. 161-164.

CAMARGO, Oswaldo de. O negro escrito. São Paulo: Imprensa Oficial, 1987.

 


PUBLICAÇÕES

 Obra individual

Coleção de poesias. [S.l.]: [s.n.], 1775. (Poemas. Feito para a inauguração da Estátua do rei D. José I, em 1775. É composto por cinco odes e seis sonetos)

A doença. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1777. (Poemas).

Epitalâmio. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1777 (feito por ocasião das núpcias do conde de Colheta com a dama Mariana de Assis Mascarenhas)

Lebreida. Lisboa: [s.n.], 1778. (Poema escrito em 50 décimas rimadas, escrito por ocasião da inauguração da estátua do rei D. José).

Almanaque das Musas. Lisboa: [s.n.], 1793. (Composto por quatro volumes, nessa obra o poeta tentou reunir parte das poesias populares e anônimas, coletadas em várias partes do país).

Os Viajantes Ditosos. Lisboa: [s.n.], 1790 (drama jocoso, em música para se representar no teatro do Salitre no ano de 1790).

Recopilação dos principais sucessos da história sagrada. Porto: Oficina de Pedro Ribeiro França, 1792. (Em verso).

A saloia namorada ou o remédio é casar. Lisboa: Simão T. Ferreira, 1793. (Farsa).

A vingança da cigana. Lisboa: [s.n.], 1794. (Tragicomédia).

A escola dos ciosos. Lisboa: [s.n.], 1795. (Drama jocoso).

A viola de Lereno. Lisboa: [s.n.], 1798. (Coleção de suas cantigas oferecidas aos amigos. É considerada sua obra mais popular).

Descrição da grandiosa quinta dos senhores de Belas e notícias de seu melhoramento. Lisboa: Régia Tipografia Silviana, 1799.i

O poema mariano. [s.n], [s.d].

Traduções

Henrique IV. [S.l.]: [s.n.], 1807. (Poema épico traduzido do original francês)

Tratado de educação das meninas. [S.l.]: [s.n.], [s.d].ii

i Segundo Francisco de Assis Barbosa, em prefácio ao livro Viola de Lereno, essa foi a única obra em prosa publicada pelo autor.

ii Segundo Sacramento Blacke, “Não sei se foi publicado, nem onde pára, sei apenas que o autor deixara inédito e era escrito em 13 capítulos, com 328 págs”.

 


TEXTOS

 


CRÍTICA


FONTES DE CONSULTA

 

BARBOSA, Domingos Caldas. Prefácio de Francisco de Assis Barbosa. A Viola de Lereno. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944. 2v.

BARBOSA, Domingos Caldas; CASCUDO, Luis da Câmara. Caldas Barbosa: poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1958. 109 p. (Nossos clássicos, v.16).

BLACKE, Augusto Vitorino Alves Sacramento. Dicionário bibliográfico brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1893. Tomo 2, p.128 e segs.

BRINCHES, Victor. Dicionário Biobibliográfico Luso-Brasileiro. Ed. Fundo de Cultura S/A. 1965.

BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Trad. Marta Kirst. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. p. 161-164.

CAMARGO, Oswaldo de. O negro escrito. São Paulo: Imprensa Oficial, 1987.

Dicionário Literário Brasileiro Raimundo de Menezes. São Paulo: Saraiva, 1969. Vol I, p. 164-5.

DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. 4 v. (Humanitas).

Enciclopédia de literatura brasileira. Direção de A. Coutinho e J. Galante de Sousa. 2 ed. rev., ampl., il., sob coordenação de Graça Coutinho e Rita Moutinho. São Paulo: Global Editora; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional/DNL: Academia Brasileira de Letras, 2001. v. I, p. 318.

MARQUES, Reinaldo Martiniano. Domingos Caldas Barbosa In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. v.1, Precursores. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

PERES, Phyllis. Towards a Creole Reading of Domingos Caldas Barbosa. In: PHAF- RHEINBERGER, Ineke (Org.). Presencia criolla en el Caribe y América Latina = Creole presence in the Caribbean and Latin America. Madrid: Iberoamericana; Frankfurt am Main: Vervuert, 1996.

PERES, Phyllis. Domingos Caldas Barbosa e o conceito de "crioulização do Caribe". Revista iberoamericana, n. 182-183, p. 209-218, 1998. (Exemplar dedicado a: O Brasil, a América Hispânica e o Caribe: Abordagens Comparativas).

PORTER, Dorothy B. Padre Domingos Caldas Barbosa: Afro-Brazilian Poet, Phylon

(1940-1956), Vol. 12, No. 3 (3rd Qtr., 1951), pp. 264-271.

QUARTETO COLONIAL. O sacro e o profano. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2006. (1 disco sonoro, execução das modinhas de autoria de Domingos Caldas Barbosa).

RENNÓ, Adriana de Campos. Violando as regras: uma (re)leitura de Domingos Caldas Barbosa. São Paulo: Arte & Ciência, 1999.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira: seus fundamentos econômicos. 4.ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964. p.128.

TIMM, Nara Abrantes. O lugar (in)certo de Domingos Caldas Barbosa: dos acordes da viola à construção da brasilidade em alheias Campinas. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras. 2004.

TINHORÃO, José Ramos. Domingos Caldas Barbosa. O Poeta da Viola, da Modinha e do Lundu (1740-1800). São Paulo: Editora 34, 2004.

SANTOS, Wellington de Almeida. Poesia Popular e Arcadismo. [S.l.] [s.n.],1977. (Tese).

DE VARNHAGEN. Florilegio da poesia brazileira. Lisbon: [s.n], 1850; Madrid: [s.n.], 1853. 3 tomos.


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