Zabumba

 

Cantigas

 

Amor ajustou com Marte

Vãos Mancebos alistar,

Um lhes dá trabalho honroso,

Outro os faz rir e zombar:

 

Tan, tan, tan tan Zabumba

Bela vida Militar;

Defender o Rei e a Pátria

E depois rir, e folgar.

 

Toca Marte à Generala,

Vai as armas aprestar;

Amor tem prazeres doces,

Com que os males temperar:

 

Tan, etc.

 

Ouço o rufo dos Tambores,

Já dali toca a marchar;

Os adeuses são à pressa,

Não há tempo de esperar:

 

Tan, etc.

 

Vai passando o Regimento

E as meninas a acenar:

Vão as armas perfiladas,

Mal se pode a furto olhar:

 

Tan, etc.

 

A mochila que vai fofa

Pouco leva que pesar;

Pouco pão e pouca roupa

Mas saudades a fartar:

 

Tan, etc.

 

A Cidade, que é de Lona

Vejo à pressa levantar;

Põem-se as Armas em sarilho

Vai a Tropa descansar:

 

Tan, etc.

 

Vigilantes Sentinelas

Vejo alerta passear!

Quem vem lá? Quem vai? Faça alto,

Sempre alerta ouço gritar

 

Tan, etc.

 

Vejo alegres Camaradas

Os baralhos aprontar;

Param, topam, sujo cobre

A perder, ou a ganhar

 

Tan, etc.

 

Dá-se um beijo na borracha,

Lá vão brindes a virar;

E com pública saúde

Vai tensão particular:

 

Tan, etc.

 

Vem quartilho, vai Canada

Toca enfim a emborrachar

A cabeça bamboleia,

Ali ouço ressonar:

 

Tan, etc.

 

Corre o que vigia o Campo

Vem perigo anunciar;

Peg’as armas, peg’as armas,

Dobra a Marcha, e avançar:

 

Tan, etc.

 

Uma brigada em colunas

Marcha a outra a obliquar,

Os contrários fazem cara,

Toca a morrer, e a matar:

 

Tan, etc.

 

Já fuzila a Artilharia

Sinto as valas sibilar;

Nuvens já de espesso fumo

Vão a luz do Sol turbar;

 

Tan, etc.

 

Ouço o bum, bum, bum das Peças,

Vejo espadas lampejar;

Lá vão pernas, lá vão braços,

Lá cabeças pelo ar.

 

Tan, etc.

 

A batalha está ganha

Vão o campo saquear;

Vem bandeiras arrastando

Toca enfim a retirar:

 

Tan, etc.

 

Venha a nós, viva quem vence

Quem morreu deixá-lo estar;

E da Pátria no regaço

Os Heróis vem descansar.

 

Tan, etc.

 

Os que salvam da peleja

Vem a Amor as graças dar;

E em sinal da sua glória

Juntam flores ao Cocar:

 

Tan, etc.

 

Os olhos, que viram triste

Vem agora consolar;

A saudade se esvoaça

Torna a posse ao seu lugar:

 

Tan, etc.

 

Vem família, vem Vizinhos

Boa vinda festejar;

E da toca gloriosa

Grandes coisas escutar:

 

Tan, etc.

 

Despe a veste, mostra o peito,

Quer sizuras procurar;

Mas o tempo sarou tudo,

Nem sinal se pode achar;

 

Tan, etc.

 

Que afrontou sempre os perigos

Gentil Dama há de escutar,

S’estimou guardar a vida,

É só pra lha entregar:

 

Tan, etc.

 

Um merecimento novo

Tem de novo a apresentar,

Vem mais rico de esperanças,

Tem despachos que esperar;

 

Tan, etc.

 

Há de ter a fita verde

De uma Ordem Militar;

Soldo em dobro por três meses

Que a Senhora há de gastar:

 

Tan, etc.

 

Não creias Meninas nestes,

Não é certo o seu amar;

Costumados sempre à marcha

Até amam a marchar:

 

Tan, etc.

(Viola de Lereno, v. 1, 1944, p. 31)