Lundum em louvor de uma brasileira adotiva

 

Eu vi correndo hoje o Tejo

Vinha soberbo e vaidoso;

Só por ter nas suas margens

O meigo Lundum gostoso.

 

Que lindas voltas que fez

Estendido pela praia

Queria beijar-lhe os pés.

 

Se o Lundum bem conhecera

Quem o havia cá dansar;

De gosto mesmo morrera

Sem poder nunca chegar.

 

Ai rum rum

Vence fandangos e gigas

A chulice do Lundum.

 

Quem me havia de dizer

Mas a coisa é verdadeira;

Que Lisboa produziu

Uma linda Brasileira.

 

Ai beleza

As outras são pela pátria

Esta pela natureza.

 

Tomara que visse a gente

Como nhanhá dança aqui;

Talvez que o seu coração

Tivesse mestre d’ali.

 

Ai companheiro

Não será ou sim será

O jeitinho Brasileiro.

 

Uns olhos assim voltados

Cabeça inclinada assim,

Os passinhos assim dados

Que vêm entender com mim.

 

Ai afeto

Lundum entendeu com eu

A gente está bem quieto.

 

 

Um lavar em seco a roupa

Um saltinho cai não cai;

O coração Brasileiro

A seus pés caindo vai.

 

Ai esperanças

É nas chulices di lá

Mas é de cá nas mudanças.

 

Este Lundum me dá vida

Quando o vejo assim dançar;

Mas temo que continua,

Que Lundum me há de matar.

 

Ai lembrança

Amor me trouxe o Lundum

Para meter-me na dança.

 

Nhaná faz um pé de banco

Com seus quindins, seus popôs,

Tinha lançado os seus laços

Aperta assim mais os nós.

 

Oh! doçura

As lobedas de nhanhá

Apertam minha ternura.

 

Logo que nhanhá saiu

Logo que nhanhá dançou,

O cravo que tinha ao peito

Envergonhado murchou.

 

Ai que peito

Se quiser flores bem novas

Aqui tem Amor perfeito.

 

Pois segue as danças di lá

Os di lá deve querer;

E se tem de lá melindres

Nunca tenha malmequer.

 

Ai delírio

Ela semeia saudades

De enxerto no meu martírio.

(Viola de Lereno, v. 2, 1944, p. 51)