Lundum de cantigas vagas
Xarapim eu bem estava
Alegre nesta aleluia,
Mas para fazer-me triste
Veio Amor dar-me na cuia.
Não sabe meu Xarapim
O que Amor me faz passar,
Anda por dentro de mim
De noite, e dia a ralar.
Meu Xarapim já não posso
Aturar mais tanta arenga,
O meu gênio deu à casca
Metido nesta moenga.
Amor comigo é tirano
Mostra-me um modo bem cru,
Tem-me mexido as entranhas
Q’estou todo feito angu.
Se visse o meu coração
Por força havia ter dó,
Por que o Amor o tem posto
Mais mole que quingombô.
Tem nhanhá certo nhonhó,
Não temo que me desbanque,
Porque eu sou calda de açúcar
E ele apenas mel do tanque.
Nhanhá cheia de cholices
Que tantos quindins afeta,
Queima tanto a quem a adora,
Como queima a malagueta.
Xarapim tome o exemplo
Dos casos que vêm de mim,
Que se amar há de lembrar-se
Do que diz seu Xarapim.
Estribilho
Tenha compaixão
Tenha dó de mim,
Porque eu lhe mereço
Sou seu Xarapim.
(Viola de Lereno, v. 2, 1944, p. 14)