DADOS BIOGRÁFICOS
Um dos expoentes da Geração Quilombhoje, Márcio José Barbosa nasceu em São Paulo, capital, em 14 de dezembro de 1959. É escritor, pesquisador e militante do movimento negro desde 1976. Formado em Filosofia pela USP, atua profissionalmente na indústria editorial. Divide no momento com a escritora Esmeralda Ribeiro a direção do Quilombhoje e a organização da Série Cadernos negros, já em seu vigésimo sétimo ano de existência. Está presente em diversas antologias da Literatura Afro-Brasileira, publicadas no país e no exterior.
Desde os anos oitenta, vem produzindo reflexões sobre a pertinência teórica e conceitual do termo “Literatura Negra”. Em artigo de 1982 – “Questões sobre a Literatura Negra” – parte da premissa de que “a existência de negros que escrevem não garante, por si só, a existência de uma Literatura Negra”, para sugerir o “rompimento radical com os moldes brancos” e polemizar o conceito ao subordiná-lo ao posicionamento político assumido pelo Autor. Assim, vincula o literário propriamente dito à assunção de uma consciência da condição negra no Brasil e à proposição de formas de intervenção no debate cultural e identitário da comunidade afro-descendente. No estilo da literatura de intervenção político-social, provoca:
Entende-se por literatura a universalidade da literatura branca, isto é literatura e literatura branca sempre significaram a mesma coisa. A esta universalidade da literatura branca corresponde a universalidade da cultura branca imposta através da sua dominação pela força. Essa posição privilegiada garante à cultura branca a hegemonia do fazer histórico. Basta que tomemos os livros de história da literatura para certificarmo-nos disso. Os atores principais são atores brancos. Vemos então como a história é feita a partir, e somente, das ações de brancos que escrevem”. (Barbosa, 1982)
E prossegue:
A Literatura Negra sobrevive na eterna marginalização. Sendo assim, seu alcance efetivo é extremamente curto, mesmo porque enfrenta um outro problema grave: a falta de hábito de ler do brasileiro em geral. Como a existência da Literatura Negra pressupõe também sua existência como agente social, vemos que sua ineficácia, sua falta de resultados práticos indica sua total inexistência enquanto literatura negra. Essa é sua grande tarefa histórica: realizar-se no social como agente efetivo e como agente social deve estar comprometida com seu presente político. (Idem)
Mais tarde, em sua comunicação no I Encontro de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros, realizado em São Paulo em 1985, adota as teses de Frantz Fanon para novamente defender uma postura de engajamento numa política de identidade cultural junto à comunidade afro-brasileira:
“Fica explícito no texto de Fanon que o intelectual negro é definido em relação às imposições do branco. O intelectual negro é aquele que, despojado de história, quando resolve fazer obra cultural, não percebe que utiliza uma técnica e uma linguagem que não são próprias de suas sociedades tradicionais. É que, instalado definitivamente no processo produtivo do Estado moderno, a cultura, os valores morais e religiosos, a estética a serem exaltadas pelo intelectual negro, e sobre as quais ele é obrigado a se lançar, são essencialmente brancas e ocidentais”. (1987, p. 119)
O Autor sugere, então, a “recuperação das lutas anti-escravagistas” no Brasil, “culminando com o mergulho apaixonado na história de Palmares e a institucionalização de um herói negro”, ao lado da redescoberta das “estruturas religiosas tradicionais” e das “artes e culturas africanas do passado” como caminhos para superar a “mumificação cultural” aludida por Fanon. (1987, p. 120).
Barbosa considera Solano Trindade o “primeiro grande poeta negro moderno”, que constrói a sua poesia a partir de elementos simples e da “recusa das regras conservadoras”. Acrescenta que a “realização efetiva” da Literatura Negra pressupõe uma “ação prática, que interfira no social, que a tire do gueto, que supra as deficiências que a própria cultura brasileira carrega.”
Referências Bibliográficas
BARBOSA, Márcio. Questões sobre a literatura negra. In: Quilombhoje (Org.). Reflexões sobre a literatura afro-brasileira. São Paulo: Quilombhoje, 1982/ Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, 1985 (artigo)
_______. O sentido da literatura negra, sob uma abordagem fanoniana. In: Silva, Luiz (Cuti), Alves, Miriam; e Xavier, Arnaldo (Orgs.). Criação crioula, nu elefante branco. São Paulo: Secretaria de Estado e Cultura, 1987 (Trabalho apresentado no I Encontro Nacional de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros).
PUBLICAÇÕES
Obra individual
Paixões crioulas. São Paulo: Quilombhoje, 1987. (Novela).
Coautoria
Gostando mais de nós mesmos. Coautoria com Esmeralda Ribeiro. São Paulo: Ed. Gente, 1999.
Antologias
Cadernos negros 5. Org. Cuti. São Paulo: Ed. dos Autores, 1982. .
Cadernos negros 6. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1983. .
Semeando I. São Paulo: Ed. dos Autores, 1983.
Cadernos negros 7. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1984.
Cadernos negros 8. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1985.
Cadernos negros 9. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1986.
"Breve Antologia Temática" In: O Negro Escrito. Org. Oswaldo de Camargo. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1987.
Cadernos negros 10. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1987.
Cadernos negros 11. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1988.
Pau de sebo – coletânea de poesia negra. Org. Júlia Duboc. Brodowski-SP: Projeto Memória da Cidade, 1988.
Schwarze poesie – Poesia negra. Organização Moema Parente Augel. Trad. Johanes Augel. St. Gallen/Koln: Edition Diá, 1988.
Cadernos negros 12. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1989.
Cadernos negros 13. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1990.
Cadernos negros 14. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1991.
Cadernos negros 15. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1992.
Poesia negra brasileira: antologia. Org. Zilá Bernd. Porto Alegre: AGE/IEL/IGEL, 1992.
Cadernos negros 16. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores, 1993.
Cadernos negros 18. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje: Ed. Anita, 1995.
Callaloo vol. 18. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, n° 4, 1995.
Callaloo vol. 19. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, n° 3, 1996.
Cadernos negros 20. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje: Ed. Anita, 1997.
Cadernos negros: os melhores contos. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje/MinC, 1998.
Cadernos negros: os melhores poemas. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje/MinC, 1998.
Cadernos negros 22. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 1999. (Conto).
Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século XX (Org. e sel. Ítalo Moriconi). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
Cadernos negros 24. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2001.
Cadernos negros 25. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2002.
Cadernos negros 26. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2003.
Cadernos negros 27. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2004.
Terras de palavras: Org. Fernanda Felisberto. Rio de Janeiro: Pallas; Afirma, 2004.
Cadernos negros 28. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2005.
Cadernos negros 29. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2006.
Cadernos negros 30. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2007.
Cadernos negros 31. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2008. (Poesia).
Cadernos Negros: Três décadas. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, 2008.
Contos afros. Org. Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2009.
Sarau afro mix: antologia poética. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje: Coordenadoria dos assuntos da população negra, 2009.
Cadernos Negros 32: contos afro-brasileiros. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2009.
Cadernos negros 33. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2010.
Cadernos Negros 34. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2011.
Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. Vol. 3, Contemporaneidade.
Cadernos negros 35. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje, 2012.
Erês e heranças: contos. Org. Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2012.
Cadernos Negros 36: contos afro-brasileiros. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2013.
Cadernos negros 37. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje, 2014.
Cadernos Negros 38. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2015.
Cadernos Negros 39. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2016.
Cadernos Negros 40. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2017.
Cadernos Negros 41. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2018.
Cadernos Negros 42. Org. Márcio Barbosa, Esmeralda Ribeiro. São Paulo: Quilombhoje, 2019.
Não Ficção
Gostando mais de nós mesmos. Coautoria com Esmeralda Ribeiro et alii. 2. ed. ampl. São Paulo: Ed. Gente, 1999.
Frente Negra Brasileira: depoimentos. São Paulo: Quilombhoje/MinC, 1998. 2. ed. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 2012.
Bailes: soul, samba-rock, hip hop e identidade negra em São Paulo. Organização em parceria com Esmeralda Ribeiro. São Paulo: Quilombhoje, 2007.
Afro Brazilian mind – a mente afro brasileira: crítica literária e cultural afro-brasileira contemporânea. Organização em parceria com Niyi AFOLABI e Esmeralda RIBEIRO. Trenton, NI; África World Press, 2007.
Cadernos negros – Black notebooks – contemporary afro-brazilian movement. Organização em parceria com Niyi AFOLABI e Esmeralda RIBEIRO. Trenton, NI; África World Press, 2008.
A prática da literatura negra. In: SP Cultura 1 (4/5). São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1982. (artigo).
Poesia negra, um novo grito de quilombo. In: Reflexão. São Paulo: Quilombhoje, 1982. (artigo).
Questões sobre a literatura negra. In: Quilombhoje (Org.). Reflexões sobre a literatura afro-brasileira. São Paulo: Quilombhoje, 1982 / Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, 1985. (artigo).
O sentido da literatura negra, sob uma abordagem fanoniana. In: Silva, Luiz (Cuti), Alves, Miriam; e Xavier, Arnaldo (Orgs.). Criação crioula, nu elefante branco. São Paulo: Secretaria de Estado e Cultura, 1987. (Trabalho apresentado no I Encontro Nacional de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros).
TEXTOS
- Márcio Barbosa - Textos selecionados
- Márcio Barbosa - O que não dizia o poeminha do Manuel
- Márcio Barbosa - Viver outra vez
- Márcio Barbosa - Espelho
- Márcio Barbosa - O homem de touca
- Márcio Barbosa - QUANDO O MALANDRO VACILA
- Márcio Barbosa - Paixões Crioulas
CRÍTICA
- A violência e o preconceito racial em Paixões crioulas, de Márcio Barbosa - Fernanda Soares
- A poética de protesto de Márcio Barbosa - Riverson A. Silva
FONTES DE CONSULTA
GAMA, Luiz. “Prótase”. In: Trovas Burlescas. Rio de Janeiro: Editora Três, 1974.
LEITE, Sebastião Uchoa. Presença Negra na Poesia Brasileira Moderna. In: Negro Brasileiro Negro - Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 25 (org. Joel Rufino dos Santos). IPHAN/1977.
SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nagôs e a Morte: Pàde, Àsèsè e o Culto Égun na Bahia. Petrópolis: Vozes, 1993.
GOMES, Heloísa Toller. Márcio Barbosa. In DUARTE, Eduardo de Assis (Org.) Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 3, Contemporaneidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
LINKS