DADOS BIOGRÁFICOS
Maria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi, Odé Kayode, nascida no dia 2 de Maio de 1925 em Salvador e falecida em 27 de Dezembro de 2018 em Santo Antônio de Jesus, foi a quinta Iyalorixá de um dos terreiros de candomblé mais tradicionais de Bahia, o Ilê Axé Opô Afonjá. Como enfermeira, dedicou boa parte de sua vida à assistência aos mais necessitados, tendo atuado na Secretaria de Saúde Pública do Estado da Bahia até se aposentar.
Estreou na literatura em 1988, com a publicação do livro E daí aconteceu o encanto, em parceria com Cléo Martins, no qual a autora rememora as raízes do Opô Afonjá e de suas primeiras iyalorixás. Mãe Stella conta ainda com os volumes Meu tempo é agora (1993) uma espécie de livro-manual para a formação de seus filhos-de-santo; Òsósi - O caçador de alegrias (2006) uma seleta dos ìtans (narrativas míticas) de Oxóssi, orixá para o qual foi iniciada. Em 2007, lançou Òwe-Provérbios, uma coletânea de ditos iorubanos e brasileiros acompanhados das interpretações da escritora.
Livro destinado ao público infantil, Epé laiyé - terra viva (2009) narra a história de uma árvore que ganha pernas e vai lutar pela construção de um mundo que respeita o meio-ambiente. Em 2012, publicou o volume Opinião – uma reunião de crônicas selecionadas entre as que a iyalorixá publicou no jornal soteropolitano A Tarde. E, em 2014, um conjunto comentado de provérbios oriundos de diversas religiões – do candomblé ao hinduísmo – intitulado Abrindo a arca, ao todo o volume reúne 89 provérbios – idade de Mãe Stella no período da composição do impresso. Destaque-se ainda, a iniciativa da Animoteca, um ônibus-biblioteca, espaço de reflexão do Ilê Axé Opô Afonjá que percorre a capital baiana acolhendo leitores de todas as idades.
Iniciada na afro-religiosidade por Mãe Senhora em 12 de setembro de 1939, aos quatorze anos, Mãe Stella recebeu o orukó (nome) de Odé Kayodê. E, em 19 de março de 1976, foi escolhida para ser a quinta iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. A respeito de um dos seus primeiros contatos com o candomblé, Mãe Stella conta à sua biógrafa Vera Felicidade de Almeida Campos:
"Voltei para casa com a imagem de tia Aninha, imponente e misteriosa, que com um gesto meio mágico tirou uma fruta – uma maçã vermelha – de uma grande gamela que estava no altar de Xangô, e me entregou. Achei ótimo, esnobei meus irmãos, ainda mais quando me disseram: - “Só você ganhou a fruta do pé do santo...”. Não me saía da cabeça a imagem da ossi dagã. Só falava nela e, então, fui informada de que ossi dagã era o cargo que ela ocupava no axé. Um ano depois, voltei com minha tia Arcanja, a Sobalojú do Opô Afonjá, e Joaninha, companheira de todas as horas. Tia Aninha já tinha falecido e a ossi dagã reinava como iyalorixá do Axé Opô Afonjá." (2003).
De acordo com Muniz Sodré (2014), “Mãe Stella, dentro da tradição das ialaxés do Opô Afonjá, é uma intelectual orgânica da comunidade litúrgica, dando especial atenção a trabalhos acadêmicos que digam respeito ao culto, dialogando frequentemente com escritores, artistas e jornalistas.”
Engajada na luta pela afirmação e defesa da cultura do povo negro no Brasil, Mãe Stella recebeu diversas honrarias, dentre elas o Prêmio Jornalístico Estadão na condição de fomentadora cultural, em 2001; e os títulos de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia em 2005 e da Universidade do Estado da Bahia, em 2009, ao completar setenta anos de iniciação no Candomblé. Foi também agraciada com a Comenda Maria Quitéria, da Prefeitura de Salvador, com a Ordem do Cavaleiro, do Governo da Bahia e com a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura. Além de ser eleita por unanimidade em 2013 para a Academia de Letras da Bahia, onde tomou posse da cadeira número 33 – já ocupada pelos escritores Castro Alves e Ubiratan Castro de Araújo.
Referências
CAMPOS, Vera Felicidade de Almeida. Mãe Stella de Oxossi: perfil de uma liderança religiosa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
SODRÉ, Muniz. Que chegue a alegria / Stella – de Oxossi. In: SANTANA, Marcos (Org.). Mãe Stella de Oxossi: estrela nossa, a mais singela. Salvador: Pimenta Malagueta Editora, 2014.
PUBLICAÇÕES
Obra individual
Meu tempo é agora. São Paulo: Editora Oduduwa, 1993. (Contos).
Òsòsi: o caçador de alegrias. Salvador: Secult – Secretaria de Cultura da Bahia, 2006. (Contos).
Epé Laiyê terra viva. Salvador: Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, 2009. (Infantil).
O que as folhas cantam: para quem canta folha. Salvador: Edição da autora, 2014
Não ficção
Òwe. Salvador: Sociedade Cruz Santa do Ilê Axé Opô Afonjá, 2007. (Provérbios).
Opinião. Salvador: EGBA – Empresa Gráfica da Bahia, 2012. (Crônicas).
Abrindo a arca. Salvador: Edição da autora, 2014. (Provérbios).
Coautoria
E daí aconteceu o encanto. Coautoria com Cléo Martins. Salvador: Edição independente, 1988. (Contos).
TEXTOS
- Mãe Stella de Oxóssi - Textos selecionados
- Mãe Stella de Oxóssi - "Há pau que traça pau...”
- Mãe Stella de Oxóssi - Ìtan 2 (1ª versão)
- Mãe Stella de Oxóssi - Outra vez o mel
- Mãe Stella de Oxóssi - O futuro a Deus pertence
- Mãe Stella de Oxóssi - Os brincos de Oba Biyi
- Mãe Stella de Oxóssi - Uma fruta do \"pé do santo\"
CRÍTICA
FONTES DE CONSULTA
CAMPOS, Vera Felicidade de Almeida. Mãe Stella de Oxóssi: perfil de uma liderança religiosa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
JOAQUIM, Maria Salete. O papel da liderança religiosa feminina na construção da identidade negra. Rio de Janeiro: Pallas, 2001.
LODY, Raul; MARTINS, Cléo. Faraimará, o caçador traz alegria: Mãe Stella 60 anos de iniciação. Rio de Janeiro: Pallas, 2000.
SANTANA, Marcos. Mãe Aninha de Afonjá: um mito afro-baiano. Salvador: Egba, 2006.
SANTANA, Marcos (Org.). Mãe Stella de Oxossi: estrela nossa, a mais singela! Salvador: Pimenta Malagueta Editora / Egba – Empresa Gráfica da Bahia, 2014.
LINKS
- Crônicas publicadas no Jornal A Tarde
- Discurso de posse de Mãe Stella de Oxóssi na Cadeira nº 33 da Academia de Letras da Bahia
- Mãe Stella de Oxóssi - Odé Kaiodé, Saudação à acadêmica, por Myriam Fraga
- Nota biográfica, Academia de Letras da Bahia
- Maria Stella de Azevedo Santos – Mãe Stella de Oxossi, por Juliana Faria