Mãe

Noite,
Os anos já pintaram de luar os teus cabelos,
No entanto, tudo parece estar acontecendo agora,
Neste instante. 

Noite,
Após tantos anos,
Neste momento,
Vejo tudo diante de mim,
Como se estivesse assistindo a um filme
Da infância: 

Nós, teus filhos, todos pequenos,
O relógio parado na hora de privações,
Tantos sonhos de asas quebradas pelos cantos
De nossa casa pobre, sem conforto; 

Tu, mulher ainda jovem, tão boa, tão calma,
Constelação de esperança e ternura,
Inspirando segurança,
Inspirando fé, amor,
Em meio a tantos vendavais. 

Noite,
Tua luta foi para nós teu maior ensinamento
Sofrias (hoje o sei), entretanto,
Em nossa presença, nunca uma lágrima
Rolou pelo teu rosto. 

Noite,
Desde criança aprendi a amar-te,
Mas só hoje, adulto, é que vejo, comovido,
As incontáveis estrelas que brilham em teu ser
E que tantos vendavais não conseguiram apagar.
(Quilombo, p. 47-48).

PRESENÇA

É Zum
É Zum
É Zum
É Zumbi
Zumbi de Ogum
Guerreiro de Ogum
Aqui
Na praça na raça
Na reza fumaça
De incenso no ar
No canto de encanto
Na fala na sala
Na rua na lua
Na vida de cada dia
Em todo lugar 

É Zum
É Zum
É Zum
É Zumbi
Zumbi de Ogum
Guerreiro de Ogum 

Aqui
rabo-de-arraia
No aço do braço
No samba de samba
No bumba-meu-boi
No bombo do jongo
Congada batuque
Maracatu
Zumbi Zumbi Zumbi
Guerreiro da Serra
Sob as estrelas acesas
Na madrugada
Nó do ebó na encruzilhada 

É Zum
É Zum
É Zum
É Zumbi
Zumbi de Ogum
Guerreiro de Ogum
Aqui
(Quilombo, p. 15-16)

Mãe

Noite,
Os anos já pintaram de luar os teus cabelos,
No entanto, tudo parece estar acontecendo agora,
Neste instante. 

Noite,
Após tantos anos,
Neste momento,
Vejo tudo diante de mim,
Como se estivesse assistindo a um filme
Da infância:

Nós, teus filhos, todos pequenos,
O relógio parado na hora de privações,
Tantos sonhos de asas quebradas pelos cantos
De nossa casa pobre, sem conforto; 

Tu, mulher ainda jovem, tão boa, tão calma,
Constelação de esperança e ternura,
Inspirando segurança,
Inspirando fé, amor,
Em meio a tantos vendavais.

Noite,
Tua luta foi para nós teu maior ensinamento
Sofrias (hoje o sei), entretanto,
Em nossa presença, nunca uma lágrima
Rolou pelo teu rosto. 

Noite,
Desde criança aprendi a amar-te,
Mas só hoje, adulto, é que vejo, comovido,
As incontáveis estrelas que brilham em teu ser
E que tantos vendavais não conseguiram apagar.
(Quilombo, p. 47-48). 

 

Arco-íris

Para Regina di Franca 

Nós somos Dons Quixotes
Em cavalos de sonho vamos
Por toda parte da cidade
Semeando palavras como sementes
Dividindo o pão do bem mostrando caminhos
Levando esperanças a quem não tem
 

Nós somos Dons Quixotes não importa
De sonhadores o mundo tem precisão
A vida será céu quando todos os homens
Trouxerem as estrelas aqui pro chão
(Quilombo, p. 57) 

 

Inocência

A menininha disse zangada
Que sua coleguinha ao lado
Me xingara de negro
E acrescentou:
"Deus vai castigar ela professor
Ela ainda vai casar com um negro".
(Quilombo, p. 61) 

 

ECLIPSE

Olho no espelho
E não me vejo
Não sou eu
Quem lá está 

Senhores
Onde estão os meus tambores
Onde estão meus orixás
Onde Olorum
Onde o meu modo de viver
Onde as minhas asas negras e belas
Com que costumava voar

Olho no espelho
E não me vejo
Não sou eu
Quem lá está 

Senhores
Quero de volta
Os meus tambores
Quero de volta 

Os meus orixás
Quero de volta
Meu Pai Olorum
Em seu esplendor sem par
Quero de volta
O meu modo de viver
Quero de volta
As minhas asas negras e belas
Com que costumava voar 

Olho no espelho
E não me vejo
Não sou eu
Quem lá está 

Séculos de destruição
Sobre os ombros cansados
Estou eu a carregar
Confuso sem norte sem rumo
Perdido de mim mesmo
Aqui neste lado do mar
Um dia no entanto senhores
Eu hei de me reencontrar.
(Quilombo, p. 65-66) 

 

Raízes

Para Aristides Barbosa

 

Estou de volta pra casa
Estou de volta a meu lar
A vida aqui tem sentido
Aqui é que é meu lugar
 

Oxum passeia na praça
Xangô conversa no bar
Hoje de volta pra casa
Convivo com os Orixás
 

Estou de volta pra casa
Aqui tudo é natural
Té felicidade é fruto
Que se consegue alcançar
 

Enfim reencontro a fonte
Donde axé jorrando está
Estou de volta pra casa
Estou de volta a meu lar
A vida aqui tem sentido
Aqui é que é meu lugar
 

Aqui tem congada samba
Batuque pra se dançar
Tem mulheres lindas lindas
Lindas feito lemanjá
Mulheres de largas ancas
E doce encanto no olhar
 

Estou de volta pra casa
Estou de volta a meu lar
A vida aqui tem sentido
Aqui é que é meu lugar
 

Agora livre de abismo
Livre pássaro a voar
Aqui tenho vida plena
Com a benção dos Orixás
 

Estou de volta pra casa
Estou de volta a meu lar
Hoje vivo como vive
Caracol no meu quintal
(Quilombo, p. 73-74) 

 

PRESENÇA

É Zum
É Zum
É Zum
É Zumbi
Zumbi de Ogum
Guerreiro de Ogum
Aqui
Na praça na raça
Na reza fumaça
De incenso no ar
No canto de encanto
Na fala na sala
Na rua na lua
Na vida de cada dia
Em todo lugar
 

É Zum
É Zum
É Zum
É Zumbi
Zumbi de Ogum
Guerreiro de Ogum 

Aqui
rabo-de-arraia
No aço do braço
No samba de samba
No bumba-meu-boi
No bombo do jongo
Congada batuque
Maracatu
Zumbi Zumbi Zumbi
Guerreiro da Serra
Sob as estrelas acesas
Na madrugada
Nó do ebó na encruzilhada

É Zum
É Zum
É Zum
É Zumbi
Zumbi de Ogum
Guerreiro de Ogum
Aqui
(Quilombo, p. 15-16)

Texto para download 

Raízes

Para Aristides Barbosa

 

Estou de volta pra casa
Estou de volta a meu lar
A vida aqui tem sentido
Aqui é que é meu lugar 

Oxum passeia na praça
Xangô conversa no bar
Hoje de volta pra casa
Convivo com os Orixás 

Estou de volta pra casa
Aqui tudo é natural
Té felicidade é fruto
Que se consegue alcançar 

Enfim reencontro a fonte
Donde axé jorrando está
Estou de volta pra casa
Estou de volta a meu lar
A vida aqui tem sentido
Aqui é que é meu lugar 

Aqui tem congada samba
Batuque pra se dançar
Tem mulheres lindas lindas
Lindas feito lemanjá
Mulheres de largas ancas
E doce encanto no olhar

Estou de volta pra casa
Estou de volta a meu lar
A vida aqui tem sentido
Aqui é que é meu lugar 

Agora livre de abismo
Livre pássaro a voar
Aqui tenho vida plena
Com a benção dos Orixás 

Estou de volta pra casa
Estou de volta a meu lar
Hoje vivo como vive
Caracol no meu quintal
(Quilombo, p. 73-74)

A paz de negro ser
 
Eu crio e solto
As pombas negras da paz
Pelos jardins sem fim
Que margeiam meus ninhos
 
Eu detenho e hasteio
As bandeiras negras da paz
Pelos confins de mim
Por meus constantes caminhos
 
Meu âmago ama com calma
Toda a minha pele
E que às outras dermes se revele
Que a alma tem a cor de Deus
 
Se minha melanina é a menina
Que melindra tanta sina
Assassinem-se esses conceitos “pré-cínicos”
Prevaleçam os ninhos e caminhos meus!
(Cadernos negros 21, p. 19).