Texto 6
Eu sou Stella do Patrocínio
Bem patrocinada
Estou sentada numa cadeira
Pegada numa mesa nega preta e crioula
Eu sou uma nega preta e crioula
Que a Ana me disse
(Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, p. 66).
Texto 6
Eu sou Stella do Patrocínio
Bem patrocinada
Estou sentada numa cadeira
Pegada numa mesa nega preta e crioula
Eu sou uma nega preta e crioula
Que a Ana me disse
(Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, p. 66).
Uma mãe preta também ama
(Fragmento)
Algumas vezes me quedo pensando nas mães desses meninos pretos que ficam
jogando no asfalto, ou cedo do dia são notícias de jornais, desses bem
sanguinolentos. Penso nessas mães porquê vejo com a clareza do dia a invisibilidade
que as cobre.
A sociedade fala do filho da mãe branca, rica, famosa quando algo lhe acontece, e é
como se só elas sofressem, só elas amassem. Pergunto:
– Por que ninguém pensa nas mães pretas desses meninos e meninas largados no
chão?
Lembro de uma notícia que há anos me impactou, um menino pretinho e lindo na sala
de aula fazendo seu dever foi vítima de bala perdida, uma bala que sabe o corpo que
deve alcançar. Nunca esqueci e até hoje choro lembrando do lápis caindo da sua mão
e o seu corpo para o outro lado. Sempre que posso rememoro essa história real e que
nem o nome da mãe do menino foi mencionado na reportagem. Imaginem a dor dessa
mãe. E mais, se ela não fosse negra nem pobre, será que não teriam falado dela, e a
justiça não estaria ali pronta para atendê-la? Certa de que aquela era uma mulher que
tinha perdido uma parte imensa de si, seu filho.
– Por que quando é uma mulher preta e pobre ninguém nem lembra que tem mãe,
muito menos que essa possa amar seu filho ou filha? Por que?
(In: Escrituras negras III: as pretas também amam, 2022 p. 102-103)
Vamos Celebrar!
Tentaram esconder nossa
história,
mas somos resistência. Por
isso,
saudemos nossas
memórias.
É muito axé!
Adupé!
Vamos celebrar nossa
natureza artística,
a vida, as vitórias,
conquistas,
de ter sobrevivido às
estatísticas.
Vamos celebrar o gueto, a
Baixada,
a favela, por ter andado
entre vielas
e becos.
Porque a favela foi o
quilombo
moderno do preto.
Vamos celebrar a África!
A cor preta!
Minhas origens!
Vamos celebrar os heróis
reais que tivemos:
Zumbi, Dandara, Malcolm
X,
Biko, Parks
e Luther King.
Vamos celebrar o Baobá,
o grande embondeiro.
“Yorubá” é “ogbon”.
E nunca esquecer que
dentro de cada irmão
existe um dom.
Celebrar e sorrir.
Celebrar a “ayê”, o
“orum”,
a “inã” e a “omin”.
(In: Voa, Sankofa, voa)
Uma preta também ama
(Fragmento)
Jeovânia P.
Algumas vezes me quedo pensando nas mães desses meninos pretos que ficam jogando no asfalto, ou cedo do dia são notícias de jornais, desses bem sanguinolentos. Penso nessas mães porquê vejo com a clareza do dia a invisibilidade que as cobrem.
A sociedade fala do filho da mãe branca, rica, famosa quando algo lhe acontece, e é como se só elas sofressem, só elas amassem. Pergunto:
– Por que ninguém pensa nas mães pretas desses meninos e meninas largados no chão?
Lembro de uma notícia que há anos me impactou, um menino pretinho e lindo na sala de aula fazendo seu dever foi vítima de bala perdida, uma bala que sabe o corpo que deve alcançar. Nunca esqueci e até hoje choro lembrando do lápis caindo da sua mão e o seu corpo para o outro lado. Sempre que posso rememoro essa história real e que nem o nome da mãe do menino foi mencionado na reportagem. Imaginem a dor dessa mãe. E mais, se ela não fosse negra nem pobre, será que não teriam falado dela, e a justiça não estaria ali pronta para atendê-la? Certa de que aquela era uma mulher que tinha perdido uma parte imensa de si, seu filho.
– Por que quando é uma mulher preta e pobre ninguém nem lembra que tem mãe, muito menos que essa possa amar seu filho ou filha? Por que?
(In: Escrituras negras III: as pretas também amam, 2022 p. 102-103)
Very Important Person
Anjo, Textura e Ternura
Sob as linhas
de tua tez escura
Descalça e Nua
Despida de toda dor
Suas mãos tão minhas
Buscando meus prazeres,
revelando segredos teus
Minha pele na tua,
tom sobre tom
Imprimindo em minh’alma teu marrom
Teu cheiro doce exalando,
Misturado no meu
Intensa sensação de Paraíso
Gemidos suados,
pedaço de céu
Maroto,
me toma em teu colo
E se foge ao apelo do meu olhar
Aceito teu peito,
teu toque
Ajeito minha fúria incessante
Na tua ardente ânsia de paz!
Juro que queria ficar
Naquele dia,
noutros mais
(Infinito Rubro-Carmim, 2019)