Na próxima semana, de 03 a 05 de setembro, a Faculdade de Letras da UFMG promoverá o I Simpósio de Literatura Suíça, evento em formato híbrido (presencial e online) organizado pelos professores Marcelo Rondinelli, Valéria Sabrina Pereira e Daniel Bonomo.
Ouvintes presenciais receberão certificado de participação, sem a necessidade de realizar inscrições prévias.
Confira a programação completa abaixo:
PROGRAMAÇÃO
3 de setembro, quarta-feira |
Local: Auditório 2003 |
14h-15h45 |
- Marcelo Rondinelli (UFMG) – “Das Totemügerli, Dr Dienschtverweigerer e (bem) mais... Falar e refletir sobre Franz Hohler.” – presencial |
- Maria Aparecida Barbosa (UFSC) – “O Cabaré Voltaire na tradição dos saltimbancos.” – presencial |
- Leandro Pasini (UNIFESP) – “Um ‘microcosmo demoníaco’: Dada Zurique como laboratório dos modernismos globais.” – online |
16h15-18h |
- Werner L. Heidermann (UFSC) – “Justiça e injustiça como pilares temáticos dos clássicos modernos da literatura suíça de expressão alemã.” – presencial |
- Elcio Cornelsen (UFMG) – “Andorra e a ‘vulnerabilidade e responsabilidade moral’ em tempos sombrios.” – presencial |
- Valéria Sabrina Pereira (UFMG) – “Qual a função da vida? Uma discussão sobre valores coloniais e natureza/animalidade através de Koala, de Lukas Bärfuss.” – presencial |
Local: Hall de entrada do Auditório Graciela Ravetti (antigo Auditório 1007) |
18h15-19h Apresentação de pôsteres de alunos da graduação. |
Local: Auditório Graciela Ravetti (antigo Auditório 1007) |
19h-21h – Evento de abertura |
- Helmut Galle (USP) – “Literatura da Suíça e literatura de língua alemã – uma aproximação de fora.” – presencial |
- Mário Eduardo Viaro (USP) – “Panorama da língua romanche na Suíça.” – online |
4 de setembro, quinta-feira |
Local: Auditório 2003 |
14h– 15h45 |
- Gabriel Wirz Leite (UFMG) – “A crítica da modernidade em Knulp, de Hermann Hesse.” – presencial |
- Dionei Mathias (UFSM) – “Irena Brežná e a ficcionalização da tradução em Die undankbare Fremde” – presencial |
- Rafael Sens (UFSC) – “Ver uma mulher: lesbianidade na literatura de Annemarie Schwarzenbach” – presencial |
16h15 – 18h |
- Érica Schlude Wels (UFRJ) - “‘A fantasia é a filha mais bela da verdade, somente um pouco mais viva do que a mãe.’: Imago, de Carl Spitteler, e a Psicanálise.” – online |
- René Dentz (PUC – Minas) – “A escritura como território trágico: Charles-Ferdinand Ramuz e a Inscrição do humano na paisagem.” – presencial |
19h – 20h50 |
- Luiz Carlos Abdala Junior (USP) – “‘O Schweiz! Don Quijote der Völker!’: A poesia de Dürrenmatt e os Salmos Suíços.” – presencial |
- Pedro Henrique dos Santos Oliveira (UFMG) – “Sob a Penumbra: As Evocações das deficiências em A Suspeita de Friedrich Dürrenmatt.” – presencial |
- Levy da Costa Bastos (UERJ) – “Tangível o mal, possível, o bem: Uma leitura do conto ‘Der Hund’ de F. Dürrenmatt.” – presencial |
5 de setembro, sexta-feira |
Auditório 2003 |
14h – 15h45 |
- Rafaela da Silva Ribeiro (UFMG) – “Trajes que Contam Histórias: A Dialética da Moda em Keller pela Ótica de Simmel.” – presencial |
- José Feres Sabino (USP) – “Romeu e Julieta na aldeia: imitação e realidade.” – presencial |
- Henrique Caldas Oliveira (USP) – “‘Ohne die mindeste Einwirkung und ohne Vorbild, noch Vorschrift’: o verde Henrique, herói extraviado.” – presencial |
16h15 – 18h |
- Roberto Carlos Conceição Porto (USP) – “Teutsche Gedichte, de Johannes Wilhelm Simler, e a literatura suíça de expressão alemã do século XVII.” – online |
- Daniel Reizinger Bonomo (UFMG) – “A ficção histórica de Conrad Ferdinand Meyer e os tempos em Plautus im Nonnenkloster.” – presencial |
Sobre o simpósio
Durante muitas décadas, toda a literatura de expressão alemã foi englobada sob o rótulo de “literatura alemã”, sem que se fizessem grandes distinções sobre as peculiaridades de cada nacionalidade envolvida. Esse cenário, contudo, está passando por uma lenta transição. Por mais de uma década, a professora da UFPR e coordenadora do Centro Austríaco, Ruth Bohunovsky (2010), tem trabalhado na pesquisa e divulgação de uma literatura especificamente austríaca.
Enquanto isso, a literatura suíça de expressão alemã tem importantes pontos de recepção no Brasil, como as traduções da prosa realista de Romeu e Julieta na aldeia, de Gottfried Keller, e A aranha negra, de Jeremias Gotthelf, ambas por Marcus Mazzari.
Para além da escritora do clássico infantil Heidi, Johanna Spyri, tal literatura apresenta outros nomes de peso, como Robert Walser, e outros menos conhecidos de nosso público leitor, como Carl Spitteler, a despeito de ter sido traduzido entre nós por ninguém menos que Manuel Bandeira. Além disso, há também o naturalizado suíço Hermann Hesse e os artistas dadaístas do Cabaret Voltaire, em Zurique, apenas para ficar no cânone, o contista – tão conhecido das antigas aulas de DaF, Peter Bichsel – e o cabaretista e escritor de livros infantis Franz Hohler.
Temos as recorrentes montagens de peças de Friedrich Dürrenmatt, assim como publicação das traduções de A promessa e A pane, do mesmo autor, disponíveis na Editora Estação Liberdade, que está preparando mais obras de Dürrenmatt e seu conterrâneo Max Frisch.
Outro expoente da prosa e dramaturgia suíça-germanófona do século XX e grande interlocutor de Dürrenmatt, Max Frisch, também está representado no Brasil, pelas traduções de Homo Faber por Herbert Caro e de Stiller por Irene Aron. – E não falta a nosso público um sucesso editorial (traduzido para mais de trinta idiomas) como Trem noturno para Lisboa, de Pascal Mercier (pseudônimo de Peter Bieri).
E devemos destacar que ainda há certa falta de traduções, dificultando uma mais plena recepção da literatura suíça, que conta com um bastante vivo movimento contemporâneo. Martin Suter é um escritor favorito nacional com seus romances policiais e thrillers. O dramaturgo e autor Lukas Bärfuss, cuja obra tem forte tônica pós-colonial, recebeu em 2019 o principal prêmio de língua alemã, o Georg-Büchner-Preis. Christian Kracht frequentemente levanta polêmicas com suas publicações, que são altamente aguardadas também em toda a Alemanha. Nascida na antiga Iugoslávia e residente em Berna, a escritora Meral Kureyshi é uma relevante voz da migração na Suíça. Além disso, a literatura escrita em alemão-suíço encontrou recentemente seu novo herói, Pedro Lenz, cuja obra foi filmada e começa, agora, a ser traduzida para o alemão padrão.
A presença suíça nas publicações brasileiras, contudo, pouco se reflete em uma discussão na germanística nacional sobre especificidades daquela literatura. Rusterholz e Solbach (2007), organizadores de um compêndio de história da literatura suíça, citam Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), que a certa altura de sua carreira assim descreve a própria condição:
O escritor suíço-alemão vive sob a tensão de falar diferente do que escreve. À língua materna junta-se logo a língua paterna (pátria). O alemão suíço, sua língua materna, é o idioma do sentimento; o alemão, como sua ‘língua pátria’ é o de seu intelecto, sua vontade, sua aventura’. (RUSTERHOLZ, SOLBACH 2007, p. XII, tradução nossa).
Entretanto, falar um dialeto e escrever na chamada língua-padrão do Hochdeutsch, ou Standarddeutsch como é chamado na variedade helvética, é apenas uma das muitas questões com que se confrontam e definem autores e autoras da literatura suíça de expressão alemã. A alegada neutralidade política, a multiculturalidade e suas implicações para uma identidade nacional, além do contexto mais recente das migrações oferecem outros objetos de estudo.
Todo este panorama, composto não apenas por obras já traduzidas, mas também por outras que aguardam pesquisa mais intensa e a descoberta por nossos editores, convida-nos, portanto, à releitura, à crítica e ao debate.
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Assessoria de Comunicação da FALE – 2025
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