O professor da Faculdade de Letras da UFMG Constantino Luz de Medeiros acaba de lançar a tradução de uma das principais obras do escritor alemão Friedrich Schlegel, o romance “Lucinde”.

De acordo com o professor Christian Benne, da Universidade de Copenhagen – que assinou a apresentação da tradução – a obra, datada de 1799, representa a primeira tentativa ambiciosa de transpor-se a teoria do romance para a práxis. Em um famoso fragmento da Revista Athenäum, que dirigiu entre os anos de 1798 e 1800, Schlegel equipara a Revolução Francesa, a Doutrina-da-Ciência de Fichte e o Wilhelm Meister de Goethe. Ele entendia a revolução em um sentido mais amplo, como uma progressão permanente, a qual deveria constantemente revolucionar a si mesma. A tarefa do romance romântico consistia em unificar todos os elementos dessa revolução, ampliando-a, através de sua constituição complexa e autorreflexiva, de um modo duradouro no futuro. De certa forma, Lucinde é um dos documentos mais significativos da modernidade estética e filosófica, mas, é também o documento de um desenvolvimento revolucionário da relação entre os gêneros, e da convivência e reflexão comuns entre espíritos livres.

 

 

Sobre 'Lucinde'

Representando artisticamente o amor de Lucinde e Julius, o romance de Schlegel realiza um verdadeiro plaidoyer em favor do respeito e da dignidade existencial e intelectual da mulher. A desestabilização das relações através da ruptura com as supostas oposições entre os sexos era programática: Lucinde pertence a uma série de tentativas, por parte de Schlegel, de colocar sistematicamente em questão uma forma de pensamento que se orientava de acordo com as dicotomias tradicionais.

Para ele, se não era mais simplesmente possível relacionar a mulher ao âmbito da natureza, e o homem ao âmbito do espírito, talvez fosse porque a própria dicotomia entre natureza e espírito era falsa, e que, possivelmente, a natureza fosse tão espiritual quanto o espírito natural. Em um sentido empático e romântico, talvez a arte fosse o lugar no qual dicotomias – como natureza e espírito, mulher e homem – devessem ser suprimidas, com vista à sua convivência comum, preservando aberto o conceito de ser humano. Até hoje esse pensamento não perdeu nada de sua força explosiva e revolucionária.


Sobre o tradutor

Constantino Luz de Medeiros é professor de Teoria da Literatura e Literatura Comparada na FALE/UFMG. É autor de "A invenção da modernidade literária. Friedrich Schlegel e o romantismo alemão" (Iluminuras, 2018). Traduziu diversas obras seminais dos românticos alemães, tais como "Relato das obras poéticas de Giovanni Boccaccio" (Humanitas/USP, 2014); "Conversa sobre a poesia" (Editora Unesp, 2016); "Fragmentos sobre poesia e literatura" (Editora Unesp, 2016); "Sobre o estudo da poesia grega" (Iluminuras, 2018) e, a mais recente, "Lucinde", (Iluminuras, 2019). Pequisa a história da crítica literária; o primeiro romantismo alemão e suas refrações na modernidade; estudos sobre o século XVIII; historiografia literária; estudos sobre o romance; estudos sobre gêneros literários; antecedentes históricos do conto moderno; estudos diacrônicos sobre teoria, história e crítica literária; ironia romântica; estética e filosofia da arte no século XVIII, entre outros temas. É líder do Grupo de Pesquisa sobre o Romantismo e a Modernidade – Gérmen (UFMG), e membro consultivo da Revista Athenäum (Alemanha).


A obra pode ser adquirida nas livrarias da Universidade Federal de Minas Gerais ou pelo site da Editora Iluminuras: www.iluminuras.com.br.

 

(Texto: Constantino Luz de Medeiros)

 

(Assessoria de Informação da FALE)


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