Para garotas negras crescidas e pequenas
Thaíse Santana
[Para garotas negras crescidas e pequenas]
ei, garotinha negra,
eu já estive no seu lugar
eu conheço esse olhar de medo
essa expressão fechada
que recusa encarar o espelho
para não se ver como se é
ei, garotinha negra,
eu já estive no seu lugar
eu conheço as palavras duras
que agridem seus ouvidos
que confundem os seus sentidos
que despedaçam o seu coração
ei, garotinha negra,
eu já estive no seu lugar
eu conheço essas cicatrizes
que te relembram dores
que te feriram horrores
e ainda hoje ferem
ei, garotinha negra,
eu já estive no seu lugar
eu conheço esse choro contido
essa voz embargada
que não sabe dizer o que sente
e nem o que se quer dizer
ei, garotinha negra,
eu já estive no seu lugar
e de onde estou agora
te confesso que não foi fácil
atravessar as barreiras
cruzar as fronteiras
para encontrar comigo mesma
ei, garotinha negra,
eu já estive no seu lugar
mas hoje posso te afirmar
que não há dúvidas na sua beleza
não há adjetivos
que expressem a sua grandeza
não há nada que vá te fazer parar
você não vai parar.
(Dentro da casa o vazio, 2024)