DADOS BIOGRÁFICOS

André Pinto Rebouças nasceu na cidade de Cachoeira, região do Recôncavo Baiano, no dia 3 de janeiro de 1838, no contexto da Sabinada, revolução baiana contra o governo regencial. Engenheiro Civil, lutou na Guerra do Paraguai e projetou a estrada de ferro que liga Curitiba ao Porto de Paranaguá, no Paraná. Como Abolicionista, colaborou com a fundação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão, nas companhias de Joaquim Nabuco e José do Patrocínio. Como monarquista, teve de se exilar na Europa após a Proclamação da República, em 1889.

Filho de Antônio Pereira Rebouças – um autodidata que conquistou o direito de advogar, representou a Bahia na Câmara dos Deputados em diversas legislaturas e se tornou conselheiro do Império – e de Carolina Pinto Rebouças, filha do comerciante André Pinto da Silveira.

André teve sete irmãos. Porém, era mais ligado a Antônio, companheiro na maioria dos respectivos projetos profissionais. Em fevereiro de 1846, a família mudou-se para o Rio de Janeiro. André e Antônio foram alfabetizados por seu pai e frequentaram bons colégios até ingressarem na Escola Militar.

Em 1857, ambos foram promovidos ao cargo de segundo tenente do corpo de engenheiros e complementaram os estudos na Escola de Aplicação da Praia Vermelha. André se graduou em Ciências Físicas e Matemáticas, em 1859, e conquistou o grau de engenheiro militar, no ano seguinte.

Entre fevereiro de 1861 e novembro de 1862, André e Antônio foram, pela primeira vez, para a Europa, em viagem de estudos. No retorno, passaram a atuar como comissionados do Estado para trabalhar na vistoria e no aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas. Em seguida, André e seu irmão Antônio se especializaram na construção de estradas.

Na Guerra do Paraguai, André atuou como engenheiro militar. Mas teve que retornar à capital fluminense, por motivos de saúde. Desde então, passou a desenvolver projetos com Antônio, na tentativa de estruturação de companhias privadas com a captação de recursos perante particulares e bancos, visando à modernização do País.

As obras de Rebouças, enquanto engenheiro, estavam ligadas ao abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro, às docas Dom Pedro II e à construção de docas da Alfândega, onde permaneceu, de 1866, até a ser demitido, em 1871.

Em paralelo, ministrava aulas, além de buscar apoio financeiro para Carlos Gomes conseguir retornar à Itália. Nesse período, também debatia com ministros e políticos sobre leis diversas. Foi secretário do Instituto Politécnico e redator-geral da revista deste órgão. Além disso, tornou-se membro do Clube de Engenharia e, diversas vezes, acabou sendo designado para receber estrangeiros, por ser falante de inglês e de francês.

Em meados de 1870 parte os Estados Unidos e, logo depois, para a Europa. Em período de Reconstrução, os Estados Unidos se encontravam sob domínio da “Jim Crown”, também sendo referida como conjunto de leis da segregação racial. Leis estas que só seriam derrubadas em 1960. Diferentemente do Brasil, em 1873, homens negros votavam em condição de igualdade em relação aos homens brancos em Nova York. Rebouças enfrentou diversas situações segregacionistas e racistas, detalhadas em seu diário de viagem. Na sua viagem pelo Norte dos Estados Unidos, ainda que estivesse representando o Império Brasileiro, bens de consumo sofisticados aos quais estava habituado não lhe foram disponibilizados. Ele reclamou dos quartinhos sujos em que dormiu, do banheiro da barbearia onde foi obrigado a tomar banho, e cujas toalhas eram “pequenas e mesquinhas” (Rebouças, 1938, p. 246).

Participante da Associação Brasileira de Aclimação, defendeu a adaptação de produtos agrícolas não produzidos no Brasil, e o melhor preparo e acondicionamento do que era produzido em solo brasileiro, buscando potencializar a produção brasileira no mercado estrangeiro. Conquistou ainda o lugar de responsável pela seção de Máquinas e Aparelhos na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.

Na década de 1880, André Rebouças se engajou na campanha abolicionista e colaborou na criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, entre outros. Tornou-se participante da Confederação Abolicionista e redator dos estatutos da Associação Central Emancipadora. Além disso, passou a integrar a Sociedade Central de Imigração, juntamente com Visconde de Taunay. Entre setembro de 1882 e fevereiro de 1883, esteve na Europa, retornando ao Brasil a fim de dar continuidade à respectiva campanha. A propósito, assim se refere José Louzeiro em seu livro sobre o engenheiro e pensador:

Como se sabe, era André Rebouças um dos elementos principais da Organização da Confederação Abolicionista, como foi de várias outras entidades congêneres. E, no mesmo tom de Teixeira Júnior, pronunciavam-se várias autoridades da época, inclusive algumas que haviam se consagrado como inimigos do "pensador negro". O próprio Imperador, certa ocasião, encontrando-se com Rebouças no Paço, disse-lhe: "admiro sua coragem e sua capacidade de sacrifício", quando se referia ao trabalho insano de Rebouças na organização das Sociedades de Defesa do Abolicionismo, sociedades essas que incluíam promoções de passeatas, comícios, reuniões em teatros, manifestações pela imprensa e, o que é mais importante, arrecadação de fundos para garantir a grande campanha abolicionista. (LOUZEIRO, 1968, p. 136, cit.).

E cinco anos antes da Abolição, a campanha crescia e se fazia presente na cena política do país:

A constituição brasileira não fala em escravos, mas unicamente em libertos. 
Ora o espírito emancipador que presidiu a nossa independência é incontestável.
                  (Manifesto da Confederação abolicionista do Rio de Janeiro, 1883).

Em 1888, Rebouças publicou uma série de artigos no Cidade do Rio contra o avanço da República e dos Cafeicultores paulistas:

A nossa República, a República ideal, virá no devido tempo; quando não houver mais landlords, quando tiverem desaparecido os monopolizadores da terra, quando for impossível a impunidade feudal [...]. [Se não assim], então é infinitamente melhor a monarquia popular e democrática de Joaquim Nabuco, opulenta de aspirações nobres e altruístas, bem ciente e muito consciente de que não deve haver Irlandas no continente americano...

Mais tarde, o movimento militar de 15 de novembro de 1889 fez com que embarcasse, juntamente da família imperial, rumo ao exílio no continente europeu. Na época, tornou-se célebre a sua declaração de que "A República foi proclamada contra o 13 de maio." 

Sua discordância quanto à permanência no poder das "oligarquias absolutistas" denunciadas por Machado de Assis na conhecida crônica de 11 de maio de 1888 se materializa também em outra declaração do ano seguinte, em que fica patente seu olhar crítico sobre a nova distribuição do poder: "Só há liberdade na democracia rural, no lavrador-proprietário, no operário da terra absolutamente livre ou independente, recebendo seu salário diretamente de Deus..." (REBOUÇAS, 1889).

Por dois anos, exilou-se em Lisboa, trabalhando como correspondente do The Times, de Londres. Depois disso, transferiu-se para Cannes, na França, até a morte de Dom Pedro II. Em 1892, com sérios problemas financeiros, aceitou um emprego em Luanda, Angola, e lá ficou durante 15 meses. Já a partir de meados de 1893, foi para Funchal, Ilha da Madeira, período em que permaneceu ainda mais abatido e depressivo. Nos seus últimos anos de vida, André Rebouças se referia ao Brasil como uma civilização extinta, tal como a Grécia antiga. Extinguira-se porque, quando posta diante da possibilidade de superar o último travo da colônia – o monopólio da terra – insistiu em mantê-lo. A propósito do autoexílio em Europa e África, afirma, em resposta ao Visconde de Taunay:

Tenho escrúpulos; tenho muitos escrúpulos de voltar ao Brasil. Tenho escrúpulos de faltar à coerência; tenho escrúpulos de aviltar a dignidade pessoal; tenho escrúpulos de quebrar a integridade do meu caráter. É terrível o tribunal da nossa consciência. Não há sofisma possível. A linha reta. A linha reta absoluta. Nada de curvas e de oscilações... (Rebouças em carta para Alfredo Taunay).

Em 9 de maio de 1898, aos 60 anos, suicidou-se, tendo o corpo encontrado e resgatado na parte de baixo de um penhasco, nas proximidades do hotel em que então residia.

Várias obras no Brasil são nomeadas Rebouças, em homenagem a André e a seu irmão Antônio. No Rio de Janeiro, foi construído o túnel Rebouças, que faz a ligação entre os bairros Rio Comprido, na Zona Norte, e Lagoa, na Zona Sul da capital fluminense. Em São Paulo, a Avenida Rebouças, principal artéria da zona oeste da capital.

No Paraná, o chafariz na Praça Zacarias, em Curitiba, a Estrada da Graciosa, a Ferrovia Paranaguá-Curitiba (considerada a maior obra da engenharia férrea nacional) e o Parque Nacional do Iguaçu são alguns dos respectivos legados.


PUBLICAÇÕES PÓSTUMAS

Diário e notas autobiográficas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1938.

Cartas da África. Registro de correspondência 1891-1893. Organização de Hebe Matos. São Paulo: Chão Editora, 2022.


TEXTOS

 


 CRÍTICA

 

 


FONTES DE CONSULTA

Anais da Biblioteca Nacional. Vol. 116 (1996) — Rio de Janeiro: A Biblioteca, 1999.

DAIBERT, Robert, MATTOS, Hebe. Um Tolstoi africano: André Rebouças e o outro Ocidente (1889-1898). In: Revista de Estudos Históricos v. 35 n 77 (2022): Experiências intelectuais negras: Brasil e Diáspora. FGV CPDOC.

BRITO, Luciana da Cruz. “Mr. Perpetual Motion” enfrenta o Jim Crow: André Rebouças e sua passagem pelos Estados Unidos no pós-abolição. In: Estudos Históricos (Rio de Janeiro), v. 32, 2019.

CARVALHO, Maria Alice Rezende de. O quinto século, André Rebouças e a construção do Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1998.

CARVALHO, Maria Alice Rezende de. Três pretos tristes: André Rebouças, Cruz e Sousa e Lima Barreto. In: Topoi, v. 18, p. 6-22, Rio de Janeiro, 2017.

COSTA, Wilma Peres. A atualidade de André Rebouças. In: Rev. Bras. Ci. Soc., São Paulo, v. 14, n. 40, [s.p.], jun. 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69091999000200014&lng=en&nrm=iso

GASPAR, Lúcia. André Rebouças. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar.

JUCÁ, Joselice. A questão abolicionista na visão de André Rebouças. In: Cadernos de Estudos Sociais, v. 4, n. 2, 1988.

JUCÁ, Joselice. André Rebouças: reforma & utopia no contexto do segundo império: quem possui a terra possui o Homem. Rio de Janeiro: Odebrecht, 2001.

LOUZEIRO, José. André Rebouças. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Secretaria de Educação e Cultura/Departamento de Cultura, 1968.

 




LINKS

André Rebouças no site Fundação Joaquim Nabuco

André Rebouças no site da Unifei

A saga dos engenheiros Rebouças - Portal Geledés