DADOS BIOGRÁFICOS

Escritor, sacerdote e estudioso da religiosidade afro-brasileira, além de escultor consagrado dentro e fora do país, Deoscóredes Maximiliano dos Santos – o Mestre Didi – nasceu em 02 de dezembro de 1917 em Salvador, Bahia. Filho do alfaiate Arsenio dos Santos e de Maria Bebiana do Espírito Santo, também conhecida como Mãe Senhora ou Mãe Preta do Brasil, título que recebeu na cidade do Rio de Janeiro em 1965. Mestre Didi é descendente da tradicional família Asipà, originária de Ketu, importante cidade do império Yoruba, e desde menino esteve cercado por personalidades ligadas à preservação e manutenção das religiões e culturas africanas na Bahia e no Brasil. Sua tetravó, D. Marcelina da Silva, foi uma das fundadoras da primeira casa de tradição nagô na Bahia, o Ilê Àsè Aira Intile, depois Ilê Iya Nassô. Mestre Didi recebeu através de Mãe Aninha, fundadora e primeira Iyalorixá do Ilê Axe Opó Afonjá, o título de Assogba, isto é, supremo sacerdote do culto de Obaluaiyé, quando tinha apenas 14 anos. Em 1967, visitou a Nigéria e o Daomé em missão patrocinada pela UNESCO, a fim de realizar estudos comparativos entre a tradição dos orixás da Bahia e da África. Por esta ocasião, entrou em contato com descendentes de sua família que ainda residiam em Ketu. Foi fundador, em 1974, da SECNEB – Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil e, em 1976, da Mini-Comunidade Infanto-juvenil Oba Biyi. Em 1980 fundou o seu próprio terreiro – o Ilê Asipà – onde deu continuidade à tradição religiosa Nagô. Na mesma década inaugura o INTECAB – Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-brasileira.

Com a sua literatura, Mestre Didi não se limitou ao folclore, narrou a história da cultura africana na Bahia e registrou antigos Itáns, contos que fazem parte do patrimônio sagrado da tradição nagô. Baseadas na oralidade, tais narrativas ganham a chancela do texto impresso, sendo editadas no Brasil e no exterior. Mas sua primeira publicação, em 1946, foi Yoruba tal qual se fala, um dicionário contendo o registro da língua. De acordo com Muniz Sodré, o livro “chama a atenção sobre a existência e a persistência de utilização de uma língua africana, como meio de identificação e comunicação de grupos afro-brasileiros concentrados nos terreiros”. (Apud DIDI: 1976). Já em seu livro Axé Opó Afonjá, o autor fez uma narrativa historiográfica das comunidades Ilê Axé e uma análise da influência da cultura africana na sociedade brasileira.

Com a intenção de expandir a compreensão da cultura e religião africanas, escreveu artigos para várias revistas científicas. Em co-autoria com sua esposa, Juana Elbein dos Santos, publicou, em 1969, no Journal de la Societé des Americanistes, um estudo sobre a história dos cultos africanos na Bahia, sobretudo sobre o culto aos egungun, até então praticamente desconhecido dos meios acadêmicos. Este texto mais tarde foi traduzido e editado no livro Olóòrisá com o título de “O culto dos ancestrais na Bahia: o culto dos Egun.” Em 1971, publica em Paris na revista Colloques Internationaux du Centre Nacional de la Recherche Scientifique, número 544, um artigo chamado “Èsú Bara, Principle of Individual Life in the Nàgó System”, onde pela primeira vez aparece uma elaboração científica correta do significado do orixá Exu, nomeado erroneamente pelo cristianismo como o diabo. E, em 1973, saiu publicado no livro Iemanjá Mãe do Orixás, seu texto “Iemanjá e os Cultos Antepassados”, considerado de grande importância para a compreensão das relações entre tradição nagô e Igreja Católica. Em reconhecimento a todo este trabalho, recebeu em 1999 o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia.

Suas esculturas, consideradas como recriações e interpretações pessoais dos símbolos dos orixás, foram expostas por diversos museus e galerias de arte de vários países. Em 1989, foi um dos três brasileiros a participar da histórica mostra Magiciens de la Terre (Mágicos da Terra), no Centro Pompidou, em Paris, organizada por Jean-Hubert Martin, que contou com cem artistas. Os outros brasileiros foram Cildo Meireles e Ronaldo Rêgo. A exposição foi um marco na abertura de espaço para culturas fora do eixo Europa-Estados Unidos e por apontar como arte contemporânea obras de difícil classificação, como é o caso da produção de Mestre Didi. Já em 1996, participou da XXIII Bienal de São Paulo, onde foi homenageado com uma sala especial. E, em 2009, realizou uma de suas últimas exposições: o Museu Afro Brasil apresentou uma retrospectiva com cerca de 50 obras do artista.

Mestre Didi faleceu no dia 6 de outubro de 2013, aos 95 anos. Deixou publicadas dezenas de contos em que estão presentes fatos, personagens e saberes pertencentes ao vasto território cultural afro-brasileiro.

 


PUBLICAÇÕES

Obras 

Contos Negros da Bahia. Rio de Janeiro: Editora GRD, 1961.

Contos de Nagô. Rio de Janeiro: Editora GRD, 1962.

Contos crioulos da Bahia, narrados por Mestre Didi. Petrópolis: Vozes, 1976.

Contos de Mestre Didi. Rio de Janeiro: Editora CODECRI, 1981.

Contos negros da Bahia e Contos de nagô. 2 ed. Salvador: Editora Corrupio, 2003.

 Não ficção

Yorubá tal Qual se Fala. Dicionário-vocabulário iorubá e português. Salvador: Editora e Livraria Moderna, 1946.

Axé Opó Afonjá. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro e Estudos Afro-Asiáticos, 1962.

Èsú Bara, Principle of Individual Life in the Nàgó System. In: Colloques Internationax du Centre Nacional de la Recherche Scientifique, nº 544, Paris, 1971.

Iemanjá e oculto dos antepassados. In: SELJAN, Zora A. O (org.). Iemanjá Mãe dos Orixás. São Paulo, Ed. Afro-brasileira, 1973.

Os cultos dos ancestrais na Bahia: o culto dos egun. In: Olóòrisá. Escritos sobre a religião dos orixás. São Paulo: Ed. Ágora, 1981. (co-autoria com Juana Elbein dos Santos)

A cultura negra continua nas mãos dos seus donos... In: COSTA, Haroldo. Fala Crioulo. Rio de Janeiro: Record, 1982. (Depoimento)

Mito da Criação do Mundo. Recife: Editora Massangana, 1988.

História de um Terreiro Nagô. São Paulo: Editora Max Limonad, 1989.

Ajaka. Salvador: Edições SECNEB, 1990.

Por que Oxalá usa ekodidé. Rio de Janeiro: Pallas, 1997.

Antologias

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 1, Precursores. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

 


TEXTOS

 


CRÍTICA

 


FONTES DE CONSULTA

AMADO, Jorge. Didi e o saber do povo. Prefácio. In Contos Negros da Bahia, op. cit.

CASA NOVA, Vera. Mestre Didi. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 1, Precursores. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

MUNIZ SODRÉ, Prefácio. In: Contos crioulos da Bahia, op. cit.

MUNIZ SODRÉ, Prefácio. In: Contos de Mestre Didi, op. cit.

SANTOS, Juana Elbein. A expressão oral na cultura negro-africana e brasileira. In: Contos crioulos da Bahia, op. cit.

SANTOS, Juana Elbein (Org.). Ancestralidade Africana no Brasil – Mestre Didi 80 Anos. Salvador: SECNEB, 1997.

 


LINKS