Na literatura negra o tempo é político

 

Mamadou Gaye*

 

 

A literatura nasceu para transmitir histórias ou criar ficções baseadas nas realidades socioculturais compartilhadas com os leitores. No continente africano, onde nasci, essa mesma transmissão sempre se deu pela oralidade. Os autores, que na verdade são transmissores de histórias, de contos e lendas, chamam-se griots1.

Ao escrever, os autores negros, do continente africano ou da diáspora africana, que trabalham a partir de temáticas relacionadas às vidas negras, entram em disputa com o tempo. No sentido de querer deixar registros das experiências vividas pelos negros, pelas próprias vozes de autoras e autores negros. Essa necessidade de tencionar a questão das narrativas, e de fato das histórias e do tempo, surge a partir das experiências da colonização e da escravidão, que submeteram ambos a uma ruptura na história do povo negro. Um dos meios mobilizados para a realização dessas rupturas, foi a criação de narrativas que colocaram as populações dos países colonizados, e mais tarde as populações escravizadas, em condições de espectadores da história do mundo e das próprias histórias.

Autores como Mariama Bâ (1929-1981)2, Amadou Hampâté Bâ (1901-1991)3 e Camara Laye (1928-1980)4 decidiram escrever justamente para construir narrativas diferentes das narrativas dos colonizadores. Escreveram para resgatar um passado, de forma a construir o presente pós-colonial e o futuro do continente africano.

No Brasil, observamos um fenômeno similar, apesar de ser uma realidade diferente, por conta da escravidão e do apagamento mais forte ainda da história dos negros. Falamos de populações que foram deportadas pela força e reduzidas à condição de escravos. Ou seja, de objetos que podem ser comprados e vendidos, mas, sobretudo, de pessoas sem direitos que trabalharam gratuitamente durante quase 400 anos.

Mestre Didi (1917-2013)5 e Abdias Nascimento (1914-2011)6 são dois autores importantes que escreveram para resgatar a herança africana do povo negro no Brasil e fortalecer a memória coletiva do povo preto (DUARTE, 2022). Portanto, dos dois lados do oceano, autoras e autores entram na disputa do tempo para ressignificar a história a partir de uma perspectiva negra, diferente das perspectivas dos colonizadores e dos escravocratas. Essa disputa das autoras e autores negros se faz a partir da filosofia Sankofa. Abdias Nascimento é um dos praticantes dessa filosofia.

Há na tradição africana um conceito que capta o essencial da prática de Abdias: o sankofa, parte de um conjunto de ideogramas chamados adinkra, representado por um pássaro que volta a cabeça à cauda. O símbolo é traduzido por: “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro. (ITAÚ CULTURAL, s/d)

Neste artigo, farei uma análise de duas obras literárias, uma brasileira e uma africana, já que ambas dialogam com a filosofia Sankofa, no sentido de trabalhar a partir de uma perspectiva espaço-temporal. Também buscarei mobilizar o conceito de memória coletiva, mais especificamente, a memória coletiva do povo negro.

Estudaremos o uso político que Aldri Anunciação faz do tempo na peça de teatro “Namíbia, não!”. No caso da obra africana, discutiremos o pensamento de Amadou Hampaté Bâ, a partir da primeira obra desse escritor de referência da literatura africana e negra, Amkoullel, l’enfant Peul (HAMPATÉ BÂ, 1991). Neste livro, o autor realiza um verdadeiro trabalho de historiador da África Ocidental do início do século XX.

Antes de apresentar as obras e fazer uma análise comparativa, vamos compartilhar algumas considerações sobre o tempo.

Qual é a forma de tempo?

A história da relação da humanidade com o tempo passa pela relação do ser humano com a natureza. Dia, noite, inverno, verão, chuva, seca, e assim as pessoas aprenderam a se adaptar aos momentos da natureza e se dar conta de que ela se repete, mas nunca exatamente do mesmo jeito. Diante da necessidade de se alimentar, descansar, protege-se do perigo e das durezas do tempo, o ser humano foi criando uma consciência dos tempos que separam as ações fundamentais para a sua preservação. Junto com o reconhecimento dos tempos da natureza, veio a consciência da sua interdependência com ela e com tudo que compõe o ecossistema dentro do qual ele está inserido. Esse entendimento, de ser parte de um todo, levou o ser humano a cultuar as entidades responsáveis pelos ciclos do tempo: o sol, a lua, as águas etc.

Através da mesma ideia de interdependência e interconexão, que o ser humano resolveu devolver à terra que lhe nutriu os corpos dos seus mortos, com a ideia de fertilizá-la. Exceto em algumas culturas e sociedades, a grande maioria da humanidade continua com a mesma prática até hoje.

 

Morte da minha infância

 

Quando atingi sete anos de idade, uma noite, depois do jantar, meu pai me chamou. Ele me diz: "Vai ser a noite da morte da tua primeira infância. Até agora, a tua primeira infância oferecia-te liberdade total. Conceda-te direitos sem te impor nenhum dever, nem sequer o de servir e adorar a Deus. A partir desta noite, você entrará em sua grande infância. Você será obrigado a cumprir certos deveres, começando com o de ir para a escola corânica. Você aprenderá a ler e memorizar os textos do livro sagrado, o Alcorão, que também é chamado de mãe dos livros".

 

Esta noite, eu não pude dormir. Fui assombrado por estas palavras misteriosas: "morte da minha primeira infância". O que isso significa? Quando os homens morrem, nós cavamos o solo e os enterramos no subsolo, assim como as sementes de cereais. Meu pai iria enterrar minha "primeira infância"?

 

Eu sabia que o painço, o milho e o amendoim que se colocavam na terra reapareciam em forma de novos talos, mas não tinha visto nem ouvido falar de um homem que, como um cereal, germinasse e saísse de sua sepultura. E a minha primeira infância? Ia germinar algo novo? Acabo caindo no sono, com a cabeça cheia de perguntas insolúveis. (HAMPATHÉ BÂ, 1991, p. 149, tradução nossa)

 

Foi essa ideia do tempo de interconexões que dominou o mundo até o surgimento das religiões, que decretaram um marco zero baseado nos nascimentos ou mortes de profetas - Jesus, Maomé, Moisés - que iriam substituir o sol, a lua ou as águas.

No Senegal, meu país de nascimento, existe o costume de nomear o primeiro filho com o nome do profeta do Islã, Maomé. Mahomet (PSL7). E assim, fui batizado Mamadou, Maomé na língua portuguesa e Mahomet na África Preta, mas também em homenagem a um primo do meu pai. Existe também o costume de chamar o recém-nascido pelo nome dos avós. Dessa maneira, os ancestrais nunca são esquecidos, porque têm representantes entre os vivos. Observa-se frequentemente a presença de elementos da personalidade do bisavô ou do tataravô numa criança, frisando a ideia de que os ancestrais voltam no plano dos vivos através dos bebês. Essa prática simboliza a forma cíclica com que se dá o tempo no Senegal e em vários países do Oeste da África.

A prática de dar o nome de um parente ao recém-nascido é também uma forma de manter a memória de atos que definiram as relações entre famílias de um mesmo interior ou a amizade e a solidariedade entre os ancestrais de duas famílias. É também usada para fortalecer relações dentro de uma família ou até para resolver conflitos passados ou atuais. O nascimento e o batismo são marcos importantes na vida das famílias e se tornam ferramentas de construção das relações sociais.

Encontramos práticas parecidas em outras partes do mundo, como na Europa ocidental. Na França, país onde passei a maior parte do meu tempo de vida, existe a homenagem aos ancestrais também, mas de forma diferente. Apesar de não ter um modelo único, existe o costume de dar como segundo, terceiro ou quarto nome, o nome de um avô ou de um bisavô. A diferença fundamental com a prática do Senegal está na escolha do primeiro e principal nome. Na França, quem tem três ou quatro nomes, usa apenas o primeiro. É uma escolha dos pais, sem necessariamente ter uma referência com um membro da família. Em diálogos com amigos franceses sobre a escolha do primeiro nome, veio rapidamente a questão de saber como o bebê, a criança e, mais tarde, a pessoa adulta, vai crescer e construir a sua própria personalidade com o nome de uma outra pessoa.

Uma característica que define grande parte das sociedades africanas, para não dizer todas, é a organização das bases em torno da comunidade, do grupo, do clã. A palavra zulu8 ubuntu, que significa “eu sou porque somos”, resume essa ideia de que a pessoa existe com os outros e de fato constrói a personalidade dela junto com a família, no sentido amplo que inclui as pessoas do segundo, terceiro e até quarto grau. Em sociedades onde a personalidade é fruto das relações com o grupo, essa mesma personalidade significa pouco. Ao contrário da França, onde a questão da construção do bebê e da criança ocupa um lugar muito importante.

Essa diferença na construção das relações sociais dialoga com a diferença de relação com o tempo entre a Europa e o continente africano. Enquanto na Europa e na França das luzes se teorizava e se descrevia o tempo como uma sucessão de episódios que devem necessariamente representar uma evolução na direção de mais modernidade, no continente africano, antes da colonização, alimentava-se a memória com griots que tinham, e ainda têm, o papel de contar a grandeza de tal família através dos atos dos ancestrais, fazendo-lhes viver de novamente.

Teóricos, a exemplo de Daniel Rangel, curador do Museu de Arte Moderna da Bahia, chegam à conclusão de um tempo ocidental linear, fruto de uma construção social, em oposição a um tempo africano circular sem distinção entre passado, presente e futuro. Ele escreveu o seguinte texto na apresentação da exposição “Utopias e Distopias”:

Na cultura ocidental, o tempo é normalmente percebido de forma linear, o passado é separado do presente e o futuro, um eterno porvir. Diferentemente em outras culturas e também em áreas da física quântica, o tempo é tido como circular e o agora está simultaneamente conectado ao antes e ao depois. A exposição Utopias e Distopias é sobre essa circularidade do tempo histórico em nosso país, sobre um passado almejado que quase aconteceu e um futuro temido, ao qual não queremos voltar.

 

Walter Benjamin escreveu que a história "é um tempo saturado de “agoras", conceito refletido por Vladimir Safatle como "um tempo no qual cada gesto remete a uma série de gestos passados, que nunca passaram completamente, mas que continuam a habitar os gestos presentes, dando-lhes uma densidade propriamente histórica. A história é um tempo em que tudo é repetição?" O acúmulo de acontecimentos conforma o hoje e todas as ações realizadas geram reações no inexorável amanhã (RANGEL, 2022).

Na maioria das culturas africanas, o movimento ininterrupto entre os diferentes momentos que compõem a vida de uma pessoa e/ou as vidas de uma comunidade, dialoga com a filosofia Sankofa. Muniz Sodré (2017), ao trazer suas reflexões sobre o orixá Exu, trata da questão do tempo espiralar quando analisa o seguinte aforismo: “Exu matou um pássaro ontem com a pedra que atirou hoje”. Sodré nos convida a pensar o tempo de uma forma diferente do padrão europeu, encerrada na trilogia passado, presente e futuro. O autor questiona a relação entre a visão linear do tempo e a forma de pensar ocidental.

Poderia ser interpretado como um axioma moral que busca no presente a chave motriz das ações desencadeadas no passado em contraposição reflexiva à lei de causa e efeito ou à ideia ocidental de progresso como efeito de ações passadas. Seria, portanto, uma valorização do passado, do vigor de fundação do grupo

Com Exu, não há começo nem fim, porque tudo é processo e, ao se constituir, cada realidade afeta outra para além do espaço-tempo. Em termos cíclicos ou solares, o nascente coexiste com o poente por causa da força do agora. (SODRÉ, 2017, p. 222)

As obras “Namíbia, não! e “Amkoullel, l’enfant Peul”, são duas pedras de Exu que transitam, através do tempo, entre o que é chamado de passado e um presente que não acaba, já que ainda está repleto de injustiças, que constituem uma grande parte da memória coletiva do povo negro.

A partir dessas reflexões podemos trazer a ideia de um tempo que toma a forma que as sociedades lhe dão, segundo as suas necessidades. Consequentemente, surge a questão da disputa para definir a partir de quais perspectivas e com quais narrativas deve se compor a história da humanidade.

Literatura, memória e identidade

Escrever é aprisionar o tempo ou, pelo menos, criar registros dele. Como fala o provérbio latim “Verba volant, scripta manent”, que podemos traduzir em "palavras faladas voam para longe, palavras escritas permanecem".

Quando é que a escrita ganhou tanto poder? E por que a escrita continua, ao longo do tempo, possuindo tanta força? Será que isso depende da difusão dos textos? As grandes religiões ganharam muita força quando começaram a publicar suas ideias. O primeiro livro repertoriado foi o papiro no Egito (2400 a. C), depois veio a primeira impressão, com a bíblia dita de Gutenberg (1455).

Escrever foi o meio encontrado por Amadou Hampaté Bâ para que suas memórias e de todo um trabalho de coleta de contos e lendas ganhasse força, e junto com elas as memórias das populações da região do atual Mali. No seu livro "Amkoullel, l’enfant peul”, o escritor, nascido em 1901, conta sua infância e oferece a sua leitura de grandes momentos que marcaram a sua família e das populações dessa região da África do oeste. Assim, Hampaté Bâ fala da Primeira Guerra Mundial e da forma como esse terrível evento, que abriu o século XX, impactou as populações locais, apesar de ter ocorrido na Europa. O autor conta também sobre a chegada dos brancos e o processo de colonização, resultado da corrida imperialista, no século XIX.

Essa obra magna da literatura africana é qualificada de autobiografia por alguns observadores. Outros falam mais de memórias, mas até hoje a disputa sobre como qualificar essa produção literária continua viva por vários motivos. O primeiro deles é que, apesar de ter escrito este livro em primeira pessoa, o autor escreve sobre vários grupos étnicos, dentre os quais, o seu próprio povo Peul. O autor conta a história de El Hadji Oumar (1794 - 1864), que fundou um império que incluía os atuais países do Guiné, Senegal, Mali e Mauritânia. Hampaté Bâ conta como seu próprio avô decidiu seguir El Hadj Omar, no seu projeto de trazer o islã para esta região da África.

Neste livro, escrito num estilo que não dá um momento de paz ao leitor, Amadou Hampaté Bâ - que se define como um griot, um contador de histórias – conta várias histórias ouvidas de outros griots, usando assim a técnica hoje chamada de mise en abyme9.

Além da disputa sobre a qualificação da sua obra, Hampaté Bâ conta as suas memórias a partir de uma perspectiva coletiva de suas recordações e dos elementos da sua pesquisa. Ele fez a seguinte declaração a respeito da forma de mobilizar a memória:

Desde a infância, fomos treinados para observar, assistir tão bem qualquer acontecimento que se inscreve em nossa memória como uma cera virgem. Tudo estava lá: a decoração, os personagens, as letras de seus costumes até os mínimos detalhes.

 

Quando descrevo o traje do primeiro comandante de círculo que vi de perto na minha infância, por exemplo, não preciso "lembrar", vejo numa espécie de tela interior, só tenho que descrever o que vejo. Para descrever uma cena, basta revivê-la. E se uma história me foi contada por alguém, não é apenas o conteúdo da história que minha memória registrou, mas toda a cena: a atitude do narrador, seu traje, seus gestos, suas expressões faciais, ruídos ambientais, por exemplo o som da guitarra tocada pelo griot Dieli Maadi, o que Wangrin me contou da sua vida, e que ainda ouço... (HAMPATÉ BÂ, 1991, p. 11, tradução nossa).

 

Essa visão sobre a reminiscência de Amadou Hampaté Bâ me remete necessariamente ao conceito de escrevivência10 da autora Conceição Evaristo (OLIVEIRA, 2022). A filiação intelectual e cultural não pode ser negada.

Em um ato de sua peça “Namíbia, Não!”, Aldri Anunciação descreve um futuro distópico a partir de uma memória comum a todo povo negro: a escravidão. O autor da peça multipremiada, e adaptada ao cinema pelo diretor Lázaro Ramos, avisa logo no início sobre o tempo da ação: “o tempo em que passa a ação da peça será sempre cinco anos à frente do tempo atual de sua montagem (...)” (ANUNCIAÇÃO, 2012, p. 17). Depois desse aviso preliminar, o dramaturgo baiano transporta o público para a sala de um apartamento de dois quartos, tudo exageradamente branco: pisos, paredes, televisão, mesa, sofá, controle remoto, geladeira, estante de livros, chaleira, copos, taças. Enfim, tudo branco. Sobre a mesa de centro da sala, um tabuleiro de xadrez com jogo já começado. Um detalhe que chama atenção é o fato de todas as peças do tabuleiro de xadrez serem também brancas. Nesta sala, dois personagens principais, ambos primos. O primeiro é Antônio, jovem de melanina acentuada11, formado em direito e estudante do curso preparatório para o concurso de diplomata de melanina acentuada do Itamaraty. O segundo é André, jovem de melanina acentuada, estudante da faculdade de direito. Ambos vão se deparar com uma medida provisória do governo, que estipula que os cidadãos de melanina acentuada que forem encontrados circulando pelas ruas do país, a partir de hoje, serão capturados e enviados de volta para a África.

Aldri Anunciação, bem como Amadou Hampaté Bâ, usa a escrita para mobilizar a memória do povo negro com objetivos políticos. O autor malinês registrou memórias da vida anterior à colonização, com o intuito de deixar ferramentas para a resistência que seu povo teria que mobilizar diante dos ataques dos colonizadores contra suas culturas e identidades. Como bem sabemos hoje, a colonização passou por um processo de destruição simbólica dos povos africanos, através da desvalorização das culturas e tradições africanas. Anunciação usou a memória da ditadura para alertar sobre a possibilidade da volta de um regime autoritário, através do gênero literário que é a distopia. Lembramos aqui que o conceito de distopia vem do âmbito da medicina e define na sua origem a localização anormal de um órgão. Na filosofia, a palavra surge como oposição à utopia. Portanto, o conceito de distopia designa um pensamento filosófico que caracteriza uma sociedade imaginária controlada pelo Estado ou por outros meios extremos de opressão, criando condições de vida insuportáveis aos indivíduos.

Os dois personagens de “Namíbia, Não!” vivem, literalmente, essa distopia. A peça recria, por exemplo, as condições de isolamento das pessoas escravizadas, para dar corpo a essa probabilidade de distopia. Na cena 10, falando com o seu primo, Antônio, que acaba de informa-lo que a agua foi cortada, André surta e entra em pânico, através de sensações que remetem as de uma pessoa presa no porão de um navio negreiro:

 

ANDRÉ - (transtornado) Pare com isso você! Isso é um plano sórdido seu! Você sabe que eu tenho pavor de cheiro de mijo no banheiro... Pavor!!! Eu me irrito sempre que você se esquece de dar a descarga na louça.

 

(reflexivo) Ah...É por isso que você fez xixi agora... Porque eu tenho pavor de mau cheiro.

 

(gritando) Pavor de mal cheiro! E agora que cortaram a nossa água, logo o banheiro vai cheirar mal, e você sabe que eu não vou suportar, vou terminar saindo do apartamento, sendo capturado pelos policiais e levado de volta pra África... Claro! Essa é a sua estratégia pra ter o último litro de água potável somente pra você... Não somente o último litro de água, como também a última garrafa de vinho BRANCO! (ANUNCIAÇÃO, 2012. p. 96)

A referência ao navio negreiro é presente na intertextualidade, com a introdução de trechos do poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, e que o autor traduz para o alemão.

O sentimento de confinamento e de terror da peça é reforçado pela mobilização do huis clo12 em que se encontram os dois personagens. Essa abordagem literária foi popularizada por Jean Paul Sartre, através da peça autointitulada, que conta a história de três personagens que morrem e que chegam ao inferno. Vale destacar que, como Antônio e André, os três personagens de Sartre estão confinados e possuem a obrigação de suportar a presença dos outros. É evidente deduzir que essa situação de privação de liberdade conduz todos os personagens à loucura.

Além desses artefatos, Anunciação trabalha com a memória, no sentido de referência do público, para fazer desta utopia uma realidade palpável. Assim, cita ao longo da peça personalidades de melanina acentuada conhecidas pelo público - como Jorge Benjor, Vovô do Ilê, Jayme Sodré, Milton Nascimento e até a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida -, quando os personagens se perguntam quem será deportado. Este processo de seleção de quem seria deportado ou não nos remete ao processo de seleção dos africanos que seriam escravizados ou não..

Namíbia, não!”, o nome da peça, é a resposta de André para a psicóloga encarregada de fazer uma proposta de paz e de deportação para as pessoas de melanina acentuada. O autor nega a proposta aleatória feita pela psicóloga e tenta construir um sentido, dentro do absurdo da escolha feita por ela, questionando se a língua falada na Namíbia é o alemão, por ser uma ex-colônia alemã. Lembrando aqui que a Namíbia foi chamada de “terra sem nome” antes da colonização. Qualquer semelhança com o conceito de utopia, não é mera coincidência.

ANDRÉ - Sim. Eu fiquei em silêncio. De repente, aleatoriamente, ela resolveu sugerir um país.

Volta efeito de luz.

PSICÓLOGA (OFF) - (pensativa) Então.... Vou te enviar. Pra Namíbia!

ANDRÉ - (desesperado) Não! Não! Esse país foi colonizado por alemães. Nada contra os alemães, mas eu não falo alemão! Pelo amor de Deus! Não faça isso!

André entra em uma espécie de crise. Sai efeito de luz.

ANDRÉ - Eu não falo alemão, primo! Você sabe que eu não sei! Tentei aprender essa língua uma vez! Mas não deu! Não consegui! Não quis! Sei lá! O certo é que eu não posso ir pra Namíbia! Eu não sei falar alemão!

ANTÔNIO - (abraça André) Calma, primo!

ANDRÉ - Eu não quero, Antônio! Eu não quero!

(...)

ANTÔNIO - E como você se livrou daquela socióloga que sugeriu lhe enviar pra Namíbia?

ANDRÉ - Quando eu disse que não falava alemão...Todos riram muito da minha cara. Eles acharam inusitado, estranho. Na verdade, eles nem sabiam que se falava alemão na Namíbia. (ANUNCIAÇÃO, 2012. p. 112)

O absurdo atinge o epítome quando se trata da origem da medida provisória. De fato, a medida que consiste em deportar os brasileiros de melanina acentuada é apresentada como uma reparação das consequências da escravidão e, especificamente, do trabalho forçado e não remunerado realizado pelas pessoas escravizadas. A peça discute justamente a questão da reparação e expõe a maneira como qualquer forma de pedido de reparação financeira é recebido no Brasil e em outros países envolvidos na escravidão, através da figura do advogado qualificado de maluco, que ousou fazer o cálculo do valor da reparação no Brasil.

ANDRÉ - Que advogado?

ANTÔNIO - Aquele advogado que entrou com uma causa de indenização em favor de todo o cidadão de Melanina Acentuada!

ANDRÉ - Ah, sim! Aquele advogado maluco que apareceu no Programa do Jô? Uma palhaçada aquilo, Antônio!

ANTÔNIO - Pode parecer uma insanidade. Mas ele tinha argumentos bem interessantes. Eu lembro do Jô Soares tentando salvar a entrevista com piadas, mas as piadas não provocaram risos.

ANDRÉ - Um artista de teatro, amigo meu... O Sergio Britto Júnior...disse que a coisa mais frustrante pra ele é quando ele tenta fazer a plateia rir e não consegue. Ele disse que é pior do que dar branco no texto. Sabe?

ANTÔNIO - Dar branco?

ANDRÉ - É. Dar branco... Esquecer. André e Antônio olham para a plateia.

ANDRÉ - (olhando para a plateia) Mas eu falei pra ele que às vezes a plateia não ri porque não está num bom dia.

ANTÔNIO - Mas acho que, no caso do Programa do Jô, não foi isso, André. Jô Soares é um ótimo ator. Inteligentíssimo. Sagaz. As pessoas não riram das piadas dele porque o assunto do advogado era muito coerente.

ANDRÉ - Coerente como, Antônio? A proposta daquele advogado maluco iria quebrar os cofres públicos. Arrebentar com tudo! As coisas não funcionam assim, não!

ANTÔNIO - Raciocina comigo, André. Ele abriu um processo que previa o pagamento de uma indenização financeira a todos os brasileiros de Melanina Acentuada. Ou seja: os remanescentes familiares de escravos africanos receberiam hoje um valor referente a mais de 300 anos de mão de obra escrava.

ANDRÉ - Eu sei, Antônio! Mas isso não iria equilibrar nada. O dinheiro somente iria sair das mãos de um grupo e passar diretamente para as mãos de outro grupo. Só iria inverter a situação. (ANUNCIAÇÃO, 2012. p. 43)

Tudo nessa peça remete ao absurdo e, nesse aspecto, o texto de Aldri Anunciação é perpassado pela obra de Kafka, que é uma das referências literárias do autor para criação dessa peça. De fato, na obra “O Processo”, Kafka narra a história de um homem preso e processado por um motivo que ele ignora totalmente e, assim, acaba com um elemento de um sistema que precisa culpar alguém para justificar a sua própria existência.

No final da peça, a frase “não consigo respirar”, pronunciada por André antes de enlouquecer e se sufocar simbolicamente deste isolamento, dentro do apartamento do qual não pode sair, remete à memória coletiva do povo negro. Foi a frase pronunciada por George Floyd, antes de morrer em maio de 2022, debaixo do joelho de Derek Chauvin, policial branco da cidade de Mineápolis, nos Estados Unidos, enquanto a cena estava sendo gravada e divulgada no mundo inteiro. De agora em diante, “Não consigo respirar!” faz parte da memória coletiva do povo negro do mundo.

Dizer isso, não significa que essa memória se compõe apenas de traumas. Ela vai muito além disso. A autora senegalesa Fatou Diome (2003, p. 227) declara a respeito da memória: “minha memória é minha identidade”.

Nossos dois autores, através dessas duas obras, convidam o público e os leitores de sua obra, para uma viagem através do tempo, convocando elementos de uma memória coletiva que de fato participa da construção da identidade dessas pessoas.

Literatura negra é política

Vinte anos separam a publicação de “Amkoullel, l’enfant peul”, de Amadou Hampâté Bâ (1991), do ano em que Aldri Anunciação finaliza o texto da peça “Namíbia, Não!”13. Amadou Hampâté Bâ nasceu no Mali, no início do século XX. Aldri Anunciação nasceu em Salvador, nas últimas décadas do mesmo século XX. Apesar dessa diferença generacional e geográfica, os dois autores trabalham com a memória que constitui a identidade dos povos negros aos quais se referem.

Os dois autores tratam da questão da colonização e das suas consequências ao longo do tempo. Aldri Anunciação prossegue com um foco sobre a questão da escravidão e Amadou Hampathé Bâ fala do absurdo das imposições do colonizador, que separava as famílias e mandou Hampathé Bâ estudar longe da casa e dos seus familiares.

Os dois autores usam a tradição da oralidade dos contadores de histórias para transmitir saberes que vão fortalecer os públicos, resgatando um passado que a história escrita pelo colonizador tenta apagar. As duas obras problematizam, a partir de abordagens literárias diferentes, a questão da identidade negra (DUARTE, 2022).

Nossos dois autores escrevem partindo de um eu conectado com toda uma comunidade, começando com a própria família. Aldri Anunciação pediu, de certa forma, licença a seus avós, dedicando-lhes esta história ao falar de “Namíbia, Não!”. Uma leitura da biografia do autor, com as referências ao alemão que ele domina e ao canal de televisão onde ele atua há muitos anos, nos faz pensar que existe parte dele nos dois personagens da peça. Além disso, é o próprio autor que faz o papel de Antônio na peça. Apesar de ser um livro sobre a vida dele, a obra de Hampaté Bâ é uma vibrante homenagem aos seus antepassados.

Além de terem sido escritas por autores negros que se reivindicam como tal, muitos elementos conectam a obra de Anunciação com a obra de Hampaté Bâ. Os dois textos tratam de temáticas atreladas à grandiosidade do povo negro e aos seus traumas. Cada um deles fala a partir de uma experiência própria e se coloca no centro da história. Eles são engajados e as narrativas mobilizam um repertório simbólico do povo negro. E por fim, os dois autores escreveram para o povo negro. Anunciação, para alertar o povo negro da possibilidade de uma nova deportação, caso não se faça a devida atenção ao que está acontecendo no presente. Hampaté Bâ, para dizer a cada pessoa negra do mundo, que antes dos brancos chegarem, havia na África sociedades avançadas que deixaram um legado que pode ser útil para qualquer um que precisar. Este conjunto de pontos em comum permite classificar essas duas obras na categoria da literatura negra (DUARTE, 2022).

As duas obras disputam a noção de tempo: no caso do “Amkoullel, l’enfant peull”, falando de um presente repleto do passado africano pré-colonização; e, no caso de “Namíbia, não!”, posicionando-se num futuro que nunca deve acontecer, por ser uma distopia.

Com esses textos, os dois autores se posicionaram através do uso do tempo Sankofa no contexto de uma sociedade onde se impõe o tempo linear. Hampaté Bâ (1991), por exemplo, fala para os seus leitores: “se vocês não sabem onde ir, voltem para a origem, voltem para a África da paz, da empatia, do equilíbrio com a natureza”. Já Aldri Anunciação diz para os seus espectadores se lembrarem sempre do passado, porque o tempo é um ciclo e os pesadelos do passado podem acontecer de novo. Ao mobilizar diferentes tempos nesses dois textos, os autores decidiram participar da grande narrativa da história da humanidade. Esses livros - como a obra de Camara Laye, Marie Ndiaye14, Conceição Evaristo, Fatou Diome15 e Leda Maria Martins -, por tratarem de ancestralidade, do corpo negro, do tempo ritual-ancestral e de um passado não apagado, enquanto uma dor, falam de política. A literatura negra, ao meu ver, é política. Assim como a memória que é seu fundamento. É política por conectar as gerações entre elas, por costurar as relações entre as pessoas, por fazer comunidade, de vivências, de referências, de sentidos.

É possível um autor ou autora negros escreverem uma obra que não entra na literatura negra, que não seja política? A meu ver, para que isso aconteça, são necessárias várias condições que ainda não estão dadas. Acredito que, futuramente, discutiremos essa questão com entusiasmo.

Notas

1 Os griots são contadores de história, cantores, poetas e musicistas da África Ocidental. São muito importantes para a transmissão dos conhecimentos dentro das culturas de diferentes países africanos, sendo também referidos como jali (em mandês), guewel (em wolof), iggawen (em hassania) ou arokin (em iorubá). O termo griot vem da palavra guiriot, em francês, e da palavra criado, em português. Franceses e portugueses realizavam trocas comerciais com países da África Ocidental, transformando algumas palavras tradicionais em expressões nas línguas dos colonizadores. Os griots utilizam diversos instrumentos em suas transmissões de conhecimentos, mais especificamente o koraxalamgojebalafon ngoni. Eles também transitavam entre os países firmando tratados comerciais e ensinavam às crianças danças histórias e cantos ancestrais. A oralidade, para eles, é sagrada e transmissora da paz.

2 Mariama Bâ, nascida a 17 de abril de 1929, em Dacar, e falecida na mesma cidade a 17 de agosto de 1981, é uma literata senegalesa. Ela vem de uma família muçulmana Lébou. Em sua obra, critica as desigualdades entre homens e mulheres devido à tradição africana.

3 Amadou Hampaté Bâ nasceu em 1901, no Mali, em Bandiagara, e faleceu em 1991. Discípulo do sábio Tierno Bokar, dedicou sua vida a salvar do esquecimento os tesouros da tradição oral do mundo Fulani. A sua obra escrita é considerável e sua atividade incansável. Importantes responsabilidades lhe foram confiadas na administração e na diplomacia de seu país, através da Unesco. Amadou é, para a África negra, o guardião da alta memória e o vigilante defensor de uma civilização há tanto tempo ignorada.

4 Camara Laye, nascido em 1 de janeiro de 1928, em Kouroussa, uma aldeia da Alta Guiné, e falecido a 4 de fevereiro de 1980, em Dacar, foi um escritor guineense francófono. Seu pai, Komady, era ferreiro e também ourives, e sua mãe, neta de um ferreiro.

5 Deoscóredes Maximiliano dos Santos (Salvador, 2 de dezembro de 1917 — Salvador, 6 de outubro de 2013) foi um escritor, artista plástico e sacerdote afro-brasileiro.

Conhecido popularmente como Mestre Didi, era filho de Maria Bibiana do Espírito Santo e Arsênio dos Santos.

6 Abdias Nascimento (1914-2011) já foi descrito como o mais completo intelectual e homem de cultura do mundo africano do século XX. Poeta, escritor, dramaturgo, artista visual e ativista pan-africanista, ele fundou o Teatro Experimental do Negro e o projeto Museu de Arte Negra. Suas pinturas, largamente exibidas dentro e fora do Brasil, exploram o legado cultural africano no contexto do combate ao racismo. Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York, ele foi deputado federal, senador da República e secretário do governo do Estado do Rio de Janeiro.

7 Paix et Salut sur Lui: Paz e saúde sobre ele. Na religião muçulmana não se pode dizer ou escrever o nome do profeta Mahomet sem acrescentar essa frase.

8 Uma das línguas falada na África do Sul.

9 O termo "mise en abyme" é geralmente definido como "narrativas que contêm outras narrativas dentro de si”.

10 A escrevivência marcadamente carrega, assim, uma dimensão ética ao propiciar que a autora assuma o lugar de enunciação de um eu coletivo, de alguém que evoca, por meio de suas próprias narrativas e voz, a história de um "nós" compartilhado. Fonte http://pepsic.bvsalud.org/ consultado no dia 30/12/22

11 Melanina acentuada: termo usado pelo autor para definir uma pessoa negra.

12 Em português, huis clo significa “entre quatro paredes”, e também o nome de uma peça teatral de Jean-Paul Sartre, escrita em 1944. Essa peça deu nome ao estilo de encenação em uma única sala.

13 O autor, na indicação do tempo da ação, comunica o ano de 2011 comode conclusão do texto, ou seja, como ano de referência.

14 Marie NDiaye (Pithiviers, 4 de junho de 1967) é uma escritora, roteirista e dramaturga francesa. Filha de uma francesa e um senegalês, cresceu na periferia de Paris. Começou a escrever aos 12 anos, mas só em 1985 publicou seu primeiro livro, o romance Quant au riche avenir. Casada com o também escritor Jean-Yves Cendrey, escreveu com ele a peça teatral Toute vérité. É coautora do roteiro do filme “Minha Terra África” (White Material, 2010), dirigido por Claire Denis. Venceu o Prêmio Goncourt, de 2009, com seu romance Trois Femmes Puissantes'. Também ganhou o Prêmio Femina em 2001, com Rosie Carpe.

15 Fatou Diome (Niodior, 1968) é uma escritora senegalesa. Nascida numa ilha no Delta do Saloum, no sudoeste do Senegal. Foi criada por sua avó. Contrariando as tradições locais, conseguiu ir à escola, inicialmente às escondidas, e aprender o idioma francês. Deixou Niodior aos 13 anos de idade, trabalhando para pagar seus estudos em cidades maiores. Foi para a universidade em Dacar, com planos de se tornar professora. Casada com um francês, mudou-se com ele para a França. Lá, enfrentou a rejeição da família do marido e acabou se separando ao fim de dois anos. Em 1994, retomou os estudos de letras, desta vez na Universidade de Estrasburgo. Escreveu uma tese sobre a obra de Sembène Ousmane. Lecionou na Universidade de Estrasburgo e no Instituto Superior de Pedagogia de Karlsruhe, na Alemanha. Publicou, em 2001, o seu primeiro livro, a coletânea de novelas La Préférence nationale, em referência e como resposta a um programa político da extrema direita francesa.

Referências 

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DIOME, Fatou. Le ventre de l’atlantique. Paris: Anne Carrière, 2003.

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HAMPATHÉ BÂ, Amadou. Amkoullel, l’enfant peul. Arles: Actes Sud, 1991.

ITAÚ CULTURAL. Sankofa. Ocupação Abdias Nascimento, s/d. Disponível em: https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/abdias-nascimento/sankofa/. Acesso em: 21.dez.2022

LIMA SILVA, Helenice Christina. O papel da Memória em Amkoullel, o menino fula, de Amadou Hampâté . Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia. 2015

MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.

OLIVEIRA, Luiz Henrique Silva de. Escrevivências: rastros biográficos em Becos da memória, de Conceição Evaristo. Terra roxa e outras terras – Revista de Estudos Literários, v. 17-B, p. 85-94, dez. 2009.

RANGEL, Daniel. Texto curatorial. Exposição de Arte “Utopias e Distopias”, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, 2022.

SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Petrópolis: Vozes, 2017.

 

 

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* Mamadou Gaye é mestre em Humanidades e Comunicação pela Universidade Sorbonne - Paris IV, doutorando do Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e facilitador em transformação cultural das organizações. Foi diretor da Aliança Francesa de Salvador-BA de 2017 a 2021 e ocupa a função de Cônsul Honorário da França na Bahia desde 2019.