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Textos publicados nas lâminas – bloco VIII

Conversa

Fernando Januário

Meu pai chegou em frente ao Copacabana Palace. Antes de atravessar a rua o porteiro do hotel gritou:
— Para você entrar aqui tem que pagar duzentos reais.
Meu pai deu um passo à frente e pensou:
— Como só tenho um real, é melhor eu dormir na areia de Copacabana.

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O Equívoco

Kátia de Figueiredo e Silva

Rute era uma mulher decidida. Dessas que não levam desaforo para casa. Professora da rede pública de ensino, acostumada a lutar por seus direitos, era muito extrovertida, brincalhona e, como dizem seus alunos, “doidona”.

Acostumada a enfrentar ônibus lotado, lá estava ela. De repente, um homem começou a encostar nela abusivamente. Com certa dificuldade, conseguiu trocar de lugar e se ver livre dele. Sorrateiramente, o homem chegou novamente e voltou a encostar nela displicentemente. Ela fingiu que não via. Ele insistiu. Então, ela olhou para o braço dele, a mão segurando no cano e ficou possessa: seu relógio estava no braço dele.

Rute não deixou por menos. Mulher prevenida, tirou da bolsa o estilete, que usava para apontar os lápis de seus alunos e começou a espetá-lo dizendo:

— Passe o relógio pra cá, desça no próximo ponto calado!
Assim ele fez.
Ela chegou à escola onde trabalhava e contou o ocorrido para todos os colegas que ficaram surpreendidos com sua bravura e coragem. Rute ainda acrescentou:

— Comigo é assim: sou mulher mas não dou moleza pra bandido!
Ao chegar em casa, contou a história para sua mãe. A mãe, imediatamente, abriu a gaveta do armário à sua frente e disse:

— Minha filha, seu relógio está aqui !

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Imagem-Nação

Fernando Januário

Sobre o que eu vou dizer
Preste muita atenção
Tem imagem que é fantasia
Mais do que uma ilusão

Ela te mostra coisas
Que para ter é impossível
Sua vida é baixa
Não é do mesmo nível

O desespero de quem mostra
Não é o da fome
São os milhões que guardam
E que escondido consomem

Aqui fora a realidade
Anda com a dor
A revolta te abraça
Todo mundo com pavor

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Cenário Suburbano

Isa de Oliveira

Chumbos perdidos por onde...
Não se sabe em que direção
vem o barulho de explosão
seguidas vezes, flechas pontilhadas e
luminosas
em todas as direções...
um grito, dois gritos,
sirene...e alarmes...
Na escuridão via-se apenas
o fogo pairando no ar
medo, medo e medo...
A luz, eterna luz
que a violência apagou
e a vida comeu
entristeceu o amanhecer...mortuário amanhecer
No amanhecer seguinte...
Silêncio... pelas almas violentadas
à queima-roupa ou em chamas
é o mundo suburbano,
cenário do teatro real
que o dramaturgo humano socializou.

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Amor é um fogo que arde sem se ver

Luís Vaz de Camões

Amor é um fogo que arde sem ser ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

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O Rio

Olavo Bilac

Da mata no seio umbroso,
No verde seio da serra,
Nasce o rio generoso,
Que é a providência da terra.

Nasce humilde; e, pequenino,
Foge ao sol abrasador;
É um fio d'água, tão fino,
Que desliza sem rumor.

Entre as pedras se insinua,
Ganha corpo, abre caminho,
Já canta, já tumultua,
Num alegre borburinho.

Agora ao sol, que o prateia,
Todo se entrega, a sorrir;
Avança, as rochas ladeia,
Some-se, torna a surgir.

Recebe outras águas, desce
As encostas de uma em uma,
Engrossa as vagas, e cresce,
Galga os penedos, e espuma.

Agora, indômito e ousado,
Transpõe furnas e grotões,
Vence abismos, despenhado
Em saltos e cachoeirões.

E corre, galopa, cheio
De força; de vaga em vaga,
Chega ao vale, alarga o seio,
Cava a terra, o campo alaga . . .

Expande-se, abre-se, ingente,
Por cem léguas, a cantar,
Até que cai finalmente,
No seio vasto do mar . . .

Mas na triunfal majestade
Dessa marcha vitoriosa,
Quanto amor, quanta bondade
Na sua alma generosa!

A cada passo que dava
O nobre rio, feliz
Mais uma árvore criava,
Dando vida a uma raiz.
Quantas dádivas e quantas
Esmolas pelos caminhos!
Matava a sede das plantas
E a sede dos passarinhos . . .

Fonte de força e fartura,
Foi bem, foi saúde e pão:
Dava às cidades frescura,
Fecundidade ao sertão . . .

E um nobre exemplo sadio
Nas suas águas se encerra;
Devemos ser como o rio,
Que é a providência da terra:

Bendito aquele que é forte,
E desconhece o rancor,
E, em vez de servir a morte,
Ama a vida, e serve o Amor!

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Empregada

Silviano Santiago

Cozinhava e cantava:
Canta, Maria, canta
que a vida é bela,
que a vida é bela,
ó minha Maria.
Aí encontra
o amor de sua vida.
Não é correspondida
e sofre
que a vida não é bela.
Chorava e cozinhava.
À noite, no quarto dos fundos,
toma guaraná champagne
com formicida tatu.

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Barca Bela

Almeida Garret

Pescador da barca bela,
Onde vás pescar com ela
Que é tão bela,
Ó pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!

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Mar Português

Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

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Autopsicografia

Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

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Memórias de um sargento de milícias (fragmento)

Manuel Antônio de Almeida

Logo que pôde andar e falar tornou-se um flagelo; quebrava e rasgava tudo que lhe vinha à mão.
Tinha uma paixão decidida pelo chapéu armado do Leonardo; se este o deixava por esquecimento em algum lugar ao seu alcance,
tomava-o imediatamente, espanava com ele todos os móveis, punha-lhe dentro tudo que encontrava, esfregava-o em uma parede,
e acabava por varrer com ele a casa; até que a Maria, exasperada pelo que aquilo lhe havia custar aos ouvidos, e talvez às costas,
arrancava-lhe das mãos a vítima infeliz. Era, além de traquinas, guloso; quando não traquinava, comia. A Maria não lhe perdoava;
trazia-lhe bem maltratada uma região do corpo; porém ele não se emendava, que era também teimoso, e as travessuras recomeçavam mal
acabava a dor das palmadas.
Assim chegou aos 7 anos.

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Não está no gibi


Silviano Santiago

No laboratório
do Mocinho buscam
a fórmula da Bomba atômica
para pôr fim à guerra.

No laboratório
do Bandido trabalha
o sinistro Dr. Silvana
dando armas poderosas ao Crime.


O Super-Homem dá combate
sem tréguas
ao cientista do Mal.
Quem vai se opor
ao cientista do Bem?

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A lenda da cobra grande

(Região Norte do Brasil, Pará e Amazonas)

Essa é uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico.
Numa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande,Sucuri), deu à luz duas crianças gêmeas que na verdade eram Cobras.
Um menino, que recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina chamada Maria.
Para ficar livre dos filhos, a mãe jogou as duas crianças no rio. Lá no rio eles, como Cobras, se criaram.
Honorato era bom, mas sua irmã era muito perversa. Prejudicava os outros animais e também as pessoas.
Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas perversidades.
Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um belo rapaz,
deixando as águas para levar uma vida normal na terra.
Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém tivesse muita coragem para derramar leite na boca da enorme cobra,
e fazer um ferimento na sua cabeça até sair sangue.
Ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro.
Até que um dia um soldado de Cametá (município do Pará) conseguiu fazer tudo isso e libertar Honorato da maldição.
E ele deixou de ser cobra d'água para viver na terra com sua família.

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Lentes

Silviano Santiago

Meus olhos buscam
o binóculo
e não o encontram.

Meus olhos buscam
as coisas
e as vêem turvas.

Meus olhos querem
diminuir a névoa
entre mim e o mundo.

Meus olhos pensam
as lentes
antes do oculista.

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Bruno Brum

não faço pouco caso
desses cacos que cato
às vezes até me corto
nesses desacatos
ou então levo choques
e me tombo com o baque
mas depois junto tudo
tomo logo o meu rumo
aí faço o meu rock
com frases de pára-choque
me desligo
me descuido
me perco num segundo
vim de longe
sou um qualquer
peço carona pra quem vai a pé

Ilustrações de alunos de Escola de Belas Artes da UFMG

Gustave Doré Tatiana Tameirão Julius Alessandra Threvenard Cesária