DADOS BIOGRÁFICOS

Nei Braz Lopes nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no subúrbio de Irajá, em 9 de maio de 1942, filho de Eurídice e de Luiz Braz Lopes. Bacharelou-se pela Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil, em 1966. É advogado, compositor, escritor, poeta, contista, sambista, pesquisador da cultura afro-brasileira e teatrólogo. Teve seus poemas publicados em vários jornais, tais como: Tribuna da Imprensa, Jornal do Comércio, Correio da Manhã e na Revista Civilização Brasileira. Recém-formado, abandonou a carreira de advogado, profissão que o angustiava, conforme depoimento a Haroldo Costa (1982), o autor via na “advocacia uma atividade sufocante pelo formalismo a que esta profissão obrigava e pelo embranquecimento para o qual lhe empurrava”, passando a dedicar-se à música e à literatura.

Músico desde 1972, é reconhecido nacionalmente pela parceria estabelecida com Wilson Moreira – renomado sambista brasileiro e por ter suas músicas gravadas pelos grandes interpretes do samba nacional. Foi um dos precursores do pagode "Fundo de quintal" – tendência que deu ao samba uma nova roupagem. Em declaração a Eduardo de Oliveira (1999), o autor menciona a importância reivindicatória dos sambas que compôs:

"hoje em dia, por exemplo, quando eu participo do grêmio recreativo de Arte Negra Quilombo e particularmente através dos sambas enredos de minha autoria e do Wilson Moreira com os quais nós desfilamos nos carnavais de 1978 e 1979, eu concluí que ali está tendo uma tribuna enorme, imensa, na avenida e no fato de gravar os sambas, sempre de forte conotação reivindicatória.

Além de músico e compositor, Nei Lopes é autor de uma obra constituída por contos, crônicas e poesias, que geralmente gira em torno da temática afro-brasileira. Militante da causa afrodescendente, desde os anos 70, foi chefe de gabinete e Superintendente de Promoção Social na Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Negras do Governo do Rio de Janeiro, no início dos anos 90 e, mais tarde, assessor da presidência da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura.

Como militante e poeta, o autor faz da sua poesia uma tentativa de conscientização da população negra. Sua condição existencial perpassa a sua obra, como manifestação de uma consciência crítica de quem não se identifica diretamente com a África – berço de seus ancestrais – mas com a periferia dos grandes centros urbanos brasileiros, onde os negros encontram-se inseridos. Segundo o crítico inglês David Brookshaw (1983), ao tratar da questão da consciência do eu-lírico em Nei Lopes, declara:

a consciência negra de Nei Lopes faz parte de um ‘tropicalismo’ mais amplo, uma espécie de glorificação da cor, da vitalidade e da irreverência sensual da cultura brasileira (...). Para Lopes, as qualidades afro-brasileiras opõem-se à limitação da conduta social da burguesia branca, simbolizada pela gravata que sufoca e estrangula, pelo ritmo agressivo do branco que manipula e escraviza o negro, obrigando-a a acompanhar o ritmo dos interesses econômicos do branco.

Nei Lopes faz parte do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro. Foi ganhador dos seguintes prêmios: Fernando Chináglia – Poesia (1970) e Golfinho de Ouro (1988) e da Medalha Pedro Ernesto – Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Referências

COSTA, Haroldo. Fala Crioulo: depoimentos. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 1982.
OLIVEIRA, Eduardo (Org.). Quem é quem na negritude brasileira. São Paulo: Congresso Nacional Afro – Brasileiro ; Brasília : Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, 1998.
BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Trad. Marta Kirst. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.

 


PUBLICAÇÕES

O samba, na Realidade. Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1981.

Malês: o islã negro no Brasil. In: Afrodiásporas. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros. Ano 3, nº 6 e 7, abril/dez. de 1985.

Cultura banta no Brasil, uma introdução. In: Afrodiásporas. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros. Ano 3, nº 6 e 7, abril/dez. de 1985.

Bantos, Malés e Identidade Negra. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1988.

O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical. Rio de Janeiro: Pallas, l992.

Dicionário Banto do Brasil. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1996.

Zé Kéti, o samba sem senhor. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2000. (perfil biográfico)

Logunedé: santo menino que velho respeita. Rio de Janeiro: Pallas, 2002.

Sambeabá: o samba que não se aprende na escola. Rio de Janeiro: Folha Seca; Casa da Palavra, 2003.

Novo dicionário Banto do Brasil: contendo mais de 250 propostas etimológicas acolhidas pelo Dicionário Houaiss. Rio de Janeiro: Ed. Pallas, 2003.

Enciclopédia brasileira da diáspora Africana. São Paulo: Selo Negro, 2004. 4.ed. São Paulo: Selo Negro, 2011.

Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africanos. Rio de Janeiro: SENAC Rio, 2005.

Partido-alto, samba de bamba. Rio de Janeiro: Pallas, 2005.

Dicionário escolar afro-brasileiro. São Paulo: Selo Negro, 2006.

O Racismo explicado aos Meus Filhos. São Paulo: Agir, 2007.

Dicionário literário afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Pallas, 2007.

História e cultura africana e afro-brasileira. São Paulo: Barsa-Planeta, 2008, Prêmio Jabuti, Paradidático 2009.

Dicionário da antiguidade africana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

Dicionário da hinterlândia carioca. Rio de Janeiro: Pallas, 2012.

Afro-Brasil reluzente: 100 personalidades notáveis do século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. (biografias).

Ficção

Casos crioulos. Rio de Janeiro: CCM Editora, 1987. (contos).

Incursões sobre a pele. Rio de Janeiro: Artium,1996. (poemas).

171, Lapa-Irajá – casos e enredos do samba. Rio de Janeiro: Folha Seca, 1999. (contos/crônicas).

Guimbaustrilho e outros mistérios suburbanos. Rio de Janeiro: Dantes/RIOARTE, 2001. (crônicas).

20 contos e uns trocados. Rio de Janeiro: Record, 2006. (contos).

Histórias do Tio Jimbo. Belo Horizonte: Mazza, 2007. (infantil).

Mandingas da mulata velha na cidade nova. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009. (romance).

Oiobomé. Rio de Janeiro: Agir, 2010. (romance).

Esta árvore dourada que supomos. São Paulo: Babel, 2011. (romance).

A Lua Triste Descamba. Rio de Janeiro: Pallas, 2012. (romance).

Poétnica. Rio de Janeiro: Mórula, 2014. (poemas).

Rio negro, 50. Rio de Janeiro: Record, 2015. (romance).

Nas águas dessa baía há muito tempo: contos da Guanabara. Rio de Janeiro: Record, 2017. (contos).

O preto que falava iídiche. Rio de Janeiro: Record, 2018. (romance).

Meu lote.  Organização e apresentação de Marcos Fernando. Rio de Janeiro: Numa, 2019. (crônicas).

Agora serve o coração. Rio de Janeiro: Record, 2019. (romance).

Antologias

Primeira antologia de novos poetas do Rio de Janeiro. Org. César de Araújo e Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Solombra, 1975.

Terras de palavras. Org. Fernanda Felisberto. Rio de Janeiro: Pallas: Afirma, 2004.

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Org. Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, vol. 2, Precursores.

Questão de pele. Org. Luiz Ruffato. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

Discografia

Tem gente bamba na roda de samba. Continental, 1973

A arte negra de Wilson Moreira e Nei Lopes. EMI-Odeon, 1980

Negro mesmo. Lira Paulistana/Continental, 1983.

O partido muito alto de Wilson Moreira e Nei Lopes. EMI-Odeon, 1985.

Zumbi: 300 anos cantando Banto. Saci, 1996

Sincopando o Breque. CPC-Umes, 1999.

De letra & Música. Velas, 2000.

Coisa de chefe. Carioca Discos/Rob Digital, 2001

Justiça gratuita, vendedor de ilusões e samba na medida. Editora Dantes, 2001.

Meninos do Rio. Carioca Discos, 2001.

Celebração. Carioca/Rob Digital, 2003

Partido ao cubo. Gravadora Fina Flor, 2004

Estava faltando você. Fina Flor, 2005

Chutando o balde. Gravadora Fina Flor, 2009.

Participação em discos

Baú da Dona Ivone. Independente, 2012

Viva Noel – Tributo a Noel Rosa. Ivan Lins. Velas, 1997.

Aldair Blanc – 50 anos. Aldair Blanc. Alma Produções, 1996.

A cor do Brasil. Alcione. RCA Victor, 1984.

 


TEXTOS

 


 CRÍTICA


FONTES DE CONSULTA

BECHARA, Evanildo. Prefácio. In: LOPES, Nei. Novo Dicionário Banto do Brasil. Secretaria Municipal de Cultura, 1996.

BROOKSHAW, David. Raça & Cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.

COSTA, Haroldo. Fala Crioulo: depoimentos. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 1982.

DANIEL, Néia. Memória da Negritude: calendário brasileiro da africanidade. Brasília: Ministério da Cultura, Fundação Cultural Palmares, 1994.

EVARISTO, Conceição. Nei Lopes. In DUARTE, Eduardo de Assis. (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, vol. 2, Consolidação.

Enciclopédia de literatura brasileira. Direção de A. Coutinho e J. Galante de Sousa. 2 ed. rev., ampl., il., sob coordenação de Graça Coutinho e Rita Moutinho. São Paulo: Global Editora; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional/DNL: Academia Brasileira de Letras, 2001. Vol. I, p. 972.

FILHO, Domício Proença. Incursões para além da pele. In: LOPES, Nei. Incursões sobre a pele. Rio de Janeiro: Artium, 1996.

GONÇALVES, Claudio do Carmo. Deslocamentos da memória: a cidade i-real de Nei Lopes. In: OLIVEIRA, Paulo César; CARREIRA, Shirley de Souza Gomes (org.). Diásporas e deslocamentos: travessias críticas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014.

NASCIMENTO. Elisa Larkin. Apresentação. In: LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora Africana. São Paulo:Selo Negro, 2004. 4.ed. São Paulo: Selo Negro, 2011.

NASCIMENTO, Giselda Melo do. A representação do negro na Literatura Brasileira. In NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). SanKofa: resgate da cultura afro-brasileira. Rio de Janeiro: Seafro, 1994.

OLIVEIRA, Eduardo. Quem é quem na negritude brasileira. São Paulo: Congresso Nacional Afro – Brasileiro; Brasília: Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, 1998.

SODRÉ, Muniz. Prefácio. In: LOPES, Nei. Kitabu: o livro do saber e do espírito negro-africanos. Rio de Janeiro: SENAC Rio, 2005. 

 


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