Rei
A melhor coisa do futebol
não é o gol.
Nem o gole que você toma
antes, durante ou depois.
Não é o seu time
com aquele hino sem tino.
Nem o meu
e suas estrelas sem brilho.
A melhor coisa do futebol
poderia ser a torcida,
seus cantos e urros.
Não fossem as organizadas
com seus hooligans
dando patadas feito burros.
E os jogadores com seus ritos,
seus pulinhos e cabelos
esquisitos?
Só perdem para os juízes
e seus horríveis modelitos.
Também não é o goleiro
em seu lance rasteiro
à procura da redonda,
sua eterna Gioconda.
A melhor coisa do futebol
é o drible, o olé.
É nele que reside o pois é,
a poiésis, a techné.
Melhor que isso tudo
só Ele, em caixa alta.
Melhor que a perfeição,
que a magia do ludo.
O ser talhado em ébano,
envolto em glória,
gingando pelos gramados
de minha memória.
Não ouso dizer seu nome,
seu Nascimento,
seu pedigree.
Apenas o trago guardado,
estampado nos álbuns.
Nas coleções
que nunca concluí.
(Ilhéu, 2013)