-O feitor deve estar sempre do lado dos brancos, respondeu a feiticeira. O grito vai sempre para o lado que segue o vento. Fidelis já nāo é como seus parceiros. Os sinais do castigo estāo nas costas destes, não importa; o sol queima a sambambaia e mata as pucaçus, o eito sobe sempre; o escravo sua a tirar fora a camisa, não importa; o feitor manda seguir sempre para diante porque é o lucro do seu senhor. Fidélis já não é um parceiro, é um senhor-moço: quem ofende-lhe ofende ao senhor.
-Por que vosmecê diz isto, tia Balbina; eu tenho sido mau para os
escravos do sítio?!...
-Não saiu isto da boca de Balbina, nem da de seus parceiros: todos querem bem ao feitor, mas nem por isso esqueceram o rigor do cativeiro. Fidélis sente a dor de seu senhor; Balbina lembrou-se de uma dor sua. Um dia, ainda caía neblina e o céu tinha a estrela grande da madrugada, e Balbina foi amarrada no cabeçalho do carro. O frio feria como espinhos de jurubeba o corpo da escrava, e o senhor de pé na porta, embrulhado no seu capote, disse com má voz: surrem-me esta negra.
(Motta Coqueiro ou a pena de morte, p.177-178)