Não me levem a mal, não é nada Pessoal
Paulo Dutra
O poeta é um fingidor.
Finge tão descaradamente
Que chega a fingir que é dor
A raiva que sente.
Porque o poeta tenta falar de amor
Tenta transmitir as belezas
Inclusive as da natureza
Tenta copiar os mestres
Mas, os mestres poeteiros...
Achavam lindo o navio!
Sim aquele, aquele mesmo
Mas que lindo!
Mais que lindo,
justo, natural, divinal, necessário
Universal
O poeta é um fazedor.
Faz, tão raivosamente,
da dor dos sufocados nos mercados,
dos baleados pelas costas pela frente
humilhados, espancados, achincalhados
pisoteados, chicoteados, amarrados
nos postes no mercado de trabalho,
versos amarrotados, racializados,
fingidos, com rimas desnecessárias inúteis, hiperbatônicos...
Vão pra casa do caralho!
(In: abliterações, p. 85-86).