A natureza do verbo

 

O mar, o céu, a mata, 

Elementos que preenchem as sementes 

De minha aventura pela lida com a palavra.

Esta dita, benquista 

E aludida em breves sonatas.

 

Não diga nada!

Calo a vergonha do ato de aprisioná-la 

Em terras nunca antes desbravadas 

Nas profundezas 

De minhas molhadas lembranças.

 

Memórias de além-mar. 

Caos de alforrias amorosas, 

Cais de abraços irmanados.

 

A preta do meu lado 

Carrega comigo as correntes de amores bandidos. 

Recordações de paixões e desejos 

Voluptuosos. 

Passagens de sombras outras 

Seguidas em passos largos... 

Firmes como o ferro, 

Inoxidável como o aço.

 

Da chama que forja o metal de Ogum 

Brotam rimas aguerridas, 

Complementares em tons e cores

Irmanadas em temperatura e correntes 

Que fluem dos braços de Oxum.

 

Ah! Ser Quilombo de Palavras...

É vibrar quilombos de sonhos,

Anseios,

Quilombo de encontros e memórias.

Quilombo em pretumes, anunciando

Com espada em punho:

Dandara e Zumbi estão em terra!


(Cadernos Negros 39, pág 38-39)