Mariana Andrade Gomes - Pode o escravizado rir?: algumas considerações sobre a comicidade

Mariana Andrade Gomes

1. Introdução

A oposicionalidade entre seriedade e derrisão está presente em vários estudos filosóficos, literários, psicológicos, sociológicos, antropológicos, políticos, etc., de forma que os tratamentos destinados à austeridade e comicidade observam estruturas hierarquizantes nas quais o riso é depreciado em relação à postura séria e isso desemboca no que Luis Felipe Baêta Neves definiu em 1974 como ideologia da seriedade. Assinalada por várias/os teóricas/os (Els Lagrou (2006), Verena Alberti (2011), Maria Generosa Ferreira Souto (2011), José Rivair Macedo (2000), George Minois (2003)1, mas sem receber esta designação, a valorização da postura de austeridade aparece, conforme pontua José Macedo (2000, p. 53), desde o cristianismo primitivo, herdado do pensamento judaico, no qual o autopoliciamento físico e corporal de privação de prazeres conduzia à salvação, sendo deste modo, altamente valorizado e efetuado. Apesar deste longo recuo histórico – não sendo o objetivo deste texto se aprofundar nesta questão – tal colocação oferece uma justificativa histórica, ideológica e religiosa para a apreciação da conduta séria, vez que o pensamento hegemônico atual é de base ocidental judaico-cristão. Uma das proposições que atestam as fundamentações preconizadas por Baêta Neves (1974) é colocada por Maria Generosa Ferreira Souto (2011) ao destacar a presença das interdições ao riso nos relacionamentos interssociais na contemporaneidade:

Sim. Ainda hoje há interdições do riso, uma vez que o poder e a autoridade, por exemplo, jamais impregnam a linguagem do riso. O riso liberta o ser de tudo que oprime, do medo da limitação e do limitador. Algumas das interdições, hoje, demarcam locais de trabalho em que rir alto, e gargalhado, é proibido, é falta de educação, é falta de princípios, é escandaloso, é vulgar. Há professores que indagam a seus alunos a famosa frase: “Está rindo de quê? Parece um bobo, um palhaço”. Com isso, ocorre a discriminação, pois o aluno é tolhido de sua manifestação, de sua linguagem risível.2

A predominância da linguagem séria também dita quais assuntos devem ser tratados com seriedade e outros com comicidade, principalmente na seara acadêmico-científica, mas também observada nas produções estéticas para alargar os apontamentos do autor Baêta Neves:

A ideologia da seriedade, do tratamento sisudo e discreto impôs (ajudou a impor) um repertório determinado, “nobre”, de temas que mereceriam ser tratados por uma “ciência” seguramente “séria” e bem comportada; impôs uma homologia de forma e substância entre o objeto de conhecimento e a teoria capaz de explicá-lo, retificando, assim, não apenas alguns de seus conceitos mas a própria teoria. [...] Na realidade, a ideologia da seriedade – como qualquer ideologia – não é ingênua nem seus efeitos são benéficos a todos. O riso, o cômico são vistos como envoltos em inconsequência, momentaneidade, irrelevância – a seriedade seria o inverso. (NEVES, 1974, p.36)

Essa teorização não é – como nenhuma outra teoria pode ser – totalizante, generalizadora; apenas justifica uma tendência analítica recorrente, bem como uma prática discursiva e estética, que compreende os produtos da linguagem risível como de menor importância em seus valores artísticos e científicos. De acordo com este juízo valorativo, temáticas como a escravização e suas mazelas não podem receber o tratamento cômico, posto que tal abordagem comprometeria não só sua compreensão quanto sua recepção já que somente a seriedade conseguiria traduzir a dimensão trágica que conformou esta experiência histórica tão dramática e impactante quanto o holocausto judeu. Sob essa perspectiva reducionista, tratar tais assuntos com comicidade representaria uma maneira de ridicularizá-los (pois a única forma de riso que se enquadra nessa oposicionalidade é a derrisória), logo, inferiorizaria tais temáticas, esvaziando seus sentidos. Esta acepção, por sua vez, também coaduna com a compreensão da risibilidade somente em seu caráter alienante, como se o riso fosse somente entorpecimento.

Novamente, é importante sinalizar para os perigos da homogeneização: nem todo o riso é alienante, nem todo cômico representa um desvio/comprometimento de sentido, também, como salienta Verena Alberti (2011), nem toda utilização da comicidade representa uma redenção/transgressão do sentido – uma subversão da ordem como propõe Mikhail Bakhtin (1999). As relativizações e miradas críticas são obrigatórias em investigações sobre a linguagem risível, aliás, em todas as análises científicas (ainda é necessário recorrer a esta redundância).

Nesse sentido, a escolha dos temas e seus tratamentos representam posicionamentos ideológicos que reforçam ou questionam determinadas concepções, e o fazer estético também observa esta lógica. Por exemplo, escrever um romance sobre a vida de um ex-escravizado negro, habitando uma ilha imaginária que foi colonizada por Portugal, utilizando uma linguagem risível, e sendo um escritor cabo-verdiano, apresenta uma ruptura de várias concepções relacionadas ao senso comum – e mesmo a uma tradição estética e ideológica – de representação de África, da escravização e da colonização somente por imagens de sofrimento, subalternização, imobilidade, enfim, retratos negativos que estereotipizam, reduzem e homogeneízam pessoas, grupos, contextos e lugares do continente africano sob o mesmo estigma de suas tragédias sociais. É dentro desse padrão que se leem e que se escrevem histórias de/sobre África. Mas temos que ter cuidado com as generalizações, com as “histórias únicas”3...

2. A biografia/história de Língua

Rompendo este ciclo de representações estigmatizantes, Biografia do Língua, publicado em 2015 pelo escritor cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa, traz dois enredos em sua narrativa. No primeiro plano é narrada a trajetória do escravizado Língua, “nome de casa”4 de Esteban Montejo Mera, que pronunciou as primeiras palavras “tenho uma língua” com apenas sete meses de nascido e com cinco anos foi oferecido ao rei de Portugal pelo governador de sua província, para trabalhar como tradutor entre os grupos africanos e os colonizadores, no que recusou tal proposta afirmando categoricamente ainda no gabinete do governador: “Não vou”. Bem como assinala o texto, “Destino de menino negro em tempo de escravo, tão previsível quanto imprevisível” (SOUSA, 2015, p. 42), o menino foi novamente vendido e enviado para uma plantação para trabalhos braçais e, posteriormente, viveu várias experiências comuns a outras pessoas sob a situação da escravização: trabalhou desumanamente, teve vários relacionamentos afetivos e sociais regidos pelo sistema escravocrata, teve dúvidas, incertezas, medos, revoltas e paixões.

Essa narrativa, diferentemente de outras histórias que planificam o sujeito escravizado, confere subjetivações que individualizam o personagem; ele não é simplesmente escravo, essencializado, subalternizado, passivo, desumanizado (novamente, necessário recorrer a esta redundância). A personalidade extraordinária de Língua, assim como suas experiências não convencionais, o fazem ser digno de uma biografia – quando se sabe que às pessoas submetidas ao regime de escravização, e também a seus descendentes, é negado o direito à memória, à história – cujo autor recebe essa incumbência pelo mesmo governador que enviou Língua para trabalhar na plantação; o escritor precisa elaborar a biografia de um escravizado que falou pela primeira vez aos sete meses de idade, a história precisava iniciar-se no dia em que ele nasceu e findar no momento em que ele pronunciou “tenho uma língua”. Esta tarefa, de acordo com o escritor, não era aleatória, ela se prestava a enaltecer o reino português:

Então, comecei a imaginar como devia contar a história de um ilustre negro de sete meses, ao ponto de testemunhar ante o mundo conhecido e por conhecer que Portugal era tão supremo a civilizar que tinha alcançado a imprevisível missão de fazer com que os negros trouxessem já na língua o português, como nas veias se traz o sangue. No fundo era o que queriam que eu fizesse. Pois, com isso, um império do tamanho do Planeta estaria a nascer e, doravante, quem quisesse negociar com os negros da costa, e talvez com todo o Novo Mundo, tinha de pagar pela tradução genética, que seria a única fiável e divina. (SOUSA, 2015, p. 25)

O autor da biografia do bebê escravizado de sete meses é um condenado a morte pelo pelotão de fuzilamento, sendo esse o segundo plano da narrativa de Biografia do Língua. Seu último pedido antes de ser executado é contar a história de Língua, mas o seu verdadeiro desejo não é contar a história para poder viver, é não deixar a história morrer. O Condenado, que no livro não recebe nome próprio é designado dessa forma ao longo da obra e também, como “Sr. Condenado”, encanta o pelotão e o transforma em audiência a que se juntam outras patentes do exército e posteriormente parentes, amigas/os, conhecidas/os que estavam na busca pelas pessoas que não retornaram às suas casas; outras/os também, inclusive do alto escalão colonial, movidas/os pela curiosidade, acabaram ouvindo a narrativa e ficando no lugar onde ocorreria o fuzilamento, denominado como Falésia.

No emblemático lugar chamado de Falésia – nome dado a um acidente geográfico também conhecido como precipício, abismo, despenhadeiro – uma espécie de comunidade utópica é formada: crianças, jovens, adultas/os e idosas/os se juntam para ouvir uma história. Toda a dinâmica desse grupo gira em torno disso: uma nova linguagem através de gestos é criada para não atrapalhar o condenado; novos hábitos de alimentação, sono, trabalho, relações sexuais, higiene, afeto são adaptados a esse cotidiano. Pessoas nasceram, cresceram e morreram durante os mais de 190 anos em que o Condenado relatou a trajetória de Língua, que viveu até os 105 anos de idade. Mesmo tempo em que sua biografia foi narrada na Falésia.

3. Rupturas e continuidades

A narrativa de Língua apresenta uma ruptura não somente com as representações sérias de caráter estereotipizante, mas também com um modelo de literatura cabo-verdiana estipulado pela geração claridosa, um dos principais movimentos literários de/em Cabo Verde que influenciou e influencia a prática estética5 do país. Este grupo, conforme assinala Onésimo Silveira (2015), representa unicamente os interesses de uma elite que produz uma “literatura de exportação” (2015, p. 10-15) e segue o padrão europeu. De acordo com Silveira (2015) é necessário promover uma “consciencialização” da/na produção literária do arquipélago:

A trajectória da literatura caboverdiana, com ponto de partida situado na década de trinta e definido pelo Movimento Claridoso, impõe-nos a nós os mais modernos cavadores da literatura insular, o problema de definir, em palavras claras e insofismadas, e através de uma literatura verdadeiramente funcional, uma consciencialização com raízes no húmus étnico-social cabo-verdiano. Esta consciencialização, e só ela, pode, quanto a nós, situar regionalmente a mesma literatura e atribuir-lhe merecimento para comparticipar, ainda que muito modestamente, no amplo ressurgimento que caracteriza o dobrar da primeira metade deste século, com uma parcela ideológica autêntica e actual. (SILVEIRA, 2015, p. 9, grifos meus)

Mesmo que os temas das produções claridosas (e mesmo de seus “sucessores”, no sentido de escritoras/es que seguem sua tradição estético-ideológica) retratem uma parte da cultura cabo-verdiana, abordando as secas, a fome, as emigrações e outros dramas sociais das ilhas, os componentes étnico-raciais, principalmente os aspectos negro-africanos são silenciados nessas obras – numa prática, aliás, muito próxima do panorama literário brasileiro. Esta crítica, que também aparece nos textos do pesquisador brasileiro Ricardo Riso6, fundamenta-se na propagação do que o professor Gabriel Fernandes (2002), oriundo de Cabo Verde, conceitua como “apagamento seletivo de África” no que se refere à constituição da identidade nacional do arquipélago.

Nesses termos, ao enaltecer o caráter mestiço a partir de uma mestiçagem construída pelos claridosos, conforme assevera Fernandes (2002)7, sob o signo de uma cabo-verdianidade, os componentes branco-europeus são hiper valorizados enquanto as heranças negro-africanas são depreciadas. Sob esta leitura, compreende-se a pouca recorrência8 de produções estéticas cuja temática aborda a escravização, visto que tratar de tal assunto acarreta discutir tanto a questão da presença negra e africana, quanto o passado escravocrata, principal fonte de renda das ilhas durante séculos. Por que tal tema não é explorado pela literatura? Por que o apagamento desta memória?

É interessante assinalar também que, mesmo problematizando os aspectos da escravização, Mário Lúcio não situa em sua obra a ilha imaginária na qual o enredo é localizado. As únicas referências contextuais são a designação da localidade como uma região do ultramar português – como se denominavam os territórios submetidos à colonização por Portugal – e a administração local como subordinada ao governo lusitano. Em nenhum trecho da narrativa o nome “Cabo Verde” é evocado, a aproximação interpretativa pode ser compreendida por se tratarem de ilhas, mas esse também é o caso das ilhas de Madeira e Açores e São Tomé e Príncipe.

A partir disto, é possível compreender as limitações do posicionamento do autor. Mesmo enfatizando e enaltecendo o componente negro e retratando a vida de um escravizado, não situar o personagem no contexto cabo-verdiano pode ser lido como um indicativo de “neutralidade”; nem o rompimento total, nem a adesão completa aos ideais claridosos: um lugar confortável.

4. Últimas considerações: pode o escravizado rir?

Parafraseando o título do livro de Gayatri Spivak Pode o subalterno falar?, traduzido e publicado pela editora UFMG em 2010, indago: pode o escravizado rir? Os lugares de subalternização atribuídos a pessoas em situações de privação de direitos, de necessidades básicas, de liberdade, por vezes, sinalizam para uma postura não reativa diante das violências que lhe impõem; uma apatia que só pode ser expressa pela tristeza e resignação.

Esse tipo de imagem de passividade justifica a perversidade do opressor: a não reação denota consentimento, aceitação e posterior naturalização, por exemplo, de massacres, sequestros, vendas e violações de seres humanos praticadas pelo sistema escravagista. Narrativas assim acabam sendo romantizadas9 pela ficção, como a obra Escrava Isaura, escrita por Bernardo Guimarães em 19875 no Brasil e “adaptada” para telenovela nas versões dos anos de 1976 e 2004, apresentando um grande sucesso de público nacional e internacionalmente. Esses enredos tendem a apagar uma série de violências (como as relações não consensuais entre senhores e suas escravizadas), mesmo mostrando com muita crueldade aspectos perversos de castigos físicos.

Ao assinalar este aspecto exemplifico que até mesmo uma romantização é aceita para o tratamento deste tema, todavia o viés cômico é preterido nas produções sobre escravização. Entretanto, o que Mário Lúcio Sousa promove em seu romance coaduna com as proposições assinaladas por Teresa Salgado (2003) e Lola Geraldes Xavier (2007), que apontam a tendência da utilização do riso e da ironia como uma marca da resistência nas literaturas africanas escritas em língua portuguesa, bem como com as análises de Eidson Marcos e Amarino Queiroz (2010; 2011) sobre possibilidades de apreensão de fatores sociais, históricos e políticos através do humor nessas produções.

Para não dar mais pistas sobre enredo de Biografia do Língua, os gestos de insubmissão do protagonista estão repletos de um riso subversivo, sarcástico, corrosivo, que ataca seus capatazes com uma violência que não é física, mas que enfraquece, que desmoraliza, que questiona o lugar de poder e de dominação conquistados arbitrariamente.

A comicidade nesse livro também difere da constante representação da/o negra/o através da ridicularização depreciativa. Ao invés da estereotipização que zomba, escarnece das/os sujeitas/os negras/os e suas culturas, Biografia do Língua traz uma caracterização positiva e bela do corpo negro-africano:

O menino vivia de olhos e boca fechados no seu presépio elevado a berço. Apenas se viam dez pingos de claridão minúscula a brilhar no firmamento do quarto. Eram as unhas. Mais a sul, na casa dos pezinhos, uma constelação liliputiana indicava os dez dedos, e nada mais se via. Da palma das mãos à sola dos pés, o menino era todo um breu cintilante como uma pancada na vista. Era todo ele uma noite ilustrada. Felizmente, os bebés não têm dentes, esses ovos alvos que traem os negros no escuro. Para ele, céu-da-boca não passava ainda de um curioso lugar onde via láctea e seio eram a mesma coisa. (SOUSA, 2015, p. 21)

Assim, passar de um apagamento da descrição do fenótipo, ou ainda uma caracterização derrisória que inferioriza e coisifica o corpo negro, para uma apresentação poética de valorização do tom escuro da pele através da utilização de metáforas relacionadas à beleza da noite, estrelas e constelações é bastante representativo de um posicionamento favorável à diversidade étnico-racial que não apenas enaltece a branquitude.

Para não concluir a discussão, mas sim apresentar, temporariamente, minhas últimas provocações sobre a obra em tela, faço o convite à leitura da obra também com os olhares atentos para a relação de Língua com as várias mulheres com as quais ele se relacionou. Como havia assinalado desde o início desse texto, toda homogeneização é perigosa, e apontar as lacunas e/ou reconhecer as representações negativas faz parte do exercício crítico do qual as análises demandam. Neste sentido, sugiro atentar para a caracterização das mulheres na narrativa: as parceiras de Língua não possuem nome próprio; há a idealização da figura materna; personagens femininas como descartáveis e coisificadas.

Deste modo, ressalvo que o riso, assim como postula Bakhtin (1999) é ambivalente: ele pode legitimar ou questionar um determinado discurso. No caso de Biografia da Língua enquanto a comicidade transgride as representações pejorativas do sujeito escravizado, a subalternização da mulher ainda é preconizada. Essa continuidade das caracterizações machistas das personagens negras precisa ser questionada e combatida.

 

Notas

Trabalho completo publicado nos Anais do Congresso Internacional de Estudos sobre África e Brasil - CONEAB, 2017, Garanhuns. Anais do CONEAB - Congresso Internacional de Estudos sobre África e Brasil. Garanhuns: NEAB-UPE, 2017. v. 1. p. 722-732.

2 A ordem de apresentação dos estudos seguiu a classificação de gênero e de ano de publicação, daí também o registro dos nomes próprios e sobrenomes das/os autoras/es, utilização esta que, mesmo não estando prevista na ABNT, será usada ao longo deste texto.

3 Maria Generosa Ferreira Souto (2011) em entrevista cedida às jornalistas Márcia Junges e Patricia Fachin, para a Revista do Instituto Humanitas Unisinos On-Line.

4 Chimamanda Adichie (2009).

5 “Nome de casa” é a designação que Mário Lúcio utiliza para distinguir o nome que as/os escravizadas/os recebem de seus patrões que divergem da denominação recebida em seu registro de batismo.

6 Jane Tutikian (2006) destaca a produção de Germano Almeida como um rompimento da tradição claridosa, mas pode ser observado, principalmente, na vinculação de ideais de valorização de um determinado aspecto da cultura cabo-verdiana, mais especificamente, no elogio da cabo-verdianidade e da mestiçagem.

7 Na dissertação “Afirmando outras versões da história”... Memória e identidade nas poéticas de Éle Semog e José Luis Hopffer Almada (2014) e no artigo Enegrecendo Pasárgada: o protagonismo negro nas relações literárias Brasil – Cabo Verde (2015)

8 Fernandes (2002, p. 90) afirma que a geração da Claridade construiu a identidade mestiça quando pensavam explicá-la.

9 Cabe também salientar que o primeiro romance escrito em Cabo Verde foi O escravo, de autoria de um branco português chamado José Evaristo d’Almeida, publicado em 1856.

10 Romantizar, no contexto deste artigo, representa uma idealização completamente positiva, priorizando o caráter sentimentalista.

Referências

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* Mariana Andrade Gomes é Doutora pelo Programa de Literatura e Cultura da Universidade Federal da Bahia (PPGLitCult). Desenvolve a pesquisa temporariamente intitulada “O riso político na ficção de Cabo Verde pós- independência”, financiada pela Fundação de amparo à pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB.

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