DADOS BIOGRÁFICOS

Conhecido como ensaísta, etnólogo e folclorista, Edison de Souza Carneiro nasceu em Salvador, em 12 de agosto de 1912. Filho de Laura Coelho de Souza Carneiro e Antônio Joaquim de Souza Carneiro, o autor cresceu em uma família da camada média urbana. Embora não fossem ricos, o fato de o pai de Edison Carneiro ter sido engenheiro civil e professor da Escola Politécnica e de outros familiares terem posições prestigiosas de trabalho (um tio juiz, um irmão mais velho advogado conhecido) fez com que a antropóloga estadunidense Ruth Landers compreendesse, em 1938, a situação sócio racial dos Carneiro na sociedade soteropolitana da seguinte maneira: "Era o tipo de família às vezes chamada de ‘negros brancos’, por muito respeitada".

Na adolescência, nos anos 1920, Edison Carneiro chegou a publicar poemas em periódicos locais e fez parte, juntamente com Jorge Amado, da Academia dos Rebeldes, grupo de jovens com ambições literárias e intelectuais modernistas.

Na década de 1930, no início da Era Vargas, o escritor ingressou na Faculdade de Direito de Salvador e começou a se aproximar mais das ideias comunistas. Segundo Armênio Guedes (apud ROSSI, 2011, p. 140): "a primeira reunião da célula comunista da Faculdade de Direito, que marcou a sua criação [sendo, ademais, coordenada por Carlos Marighella], foi na casa de Edison Carneiro, no Barris". Conforme Luiz Gustavo Freitas Rossi (2011, p. 142): "Pelo menos desde 1933, portanto, começa a ser quase impossível dissociar as atividades intelectuais de Edison Carneiro dos encargos políticos e simbólicos que ele começou a assumir como quadro de célula comunista e, mais tarde, membro do núcleo da Aliança Nacional Libertadora (ANL)".

Mais conhecido por seu envolvimento com as pesquisas sobre a cultura afro-brasileira, já nessa época Edison Carneiro acompanhava os candomblés da Bahia, articulando, como pesquisador, os seus interesses em marxismo e culturas de origem africana no Brasil, ao mesmo tempo em que denunciava a perseguição policial por que passavam os povos de terreiro. São dessa década o ensaio A situação do negro no Brasil (1935), os livros Religiões Negras (1936) e Negros Bantus (1937), e diversos outros textos publicados pelo jornal Estado da Bahia, para o qual ele trabalhou. Além disso, em 1937, Edison Carneiro, juntamente com o colega Aydano do Couto Ferraz e outros, organizou um importante congresso internacional: o II Congresso Afro-Brasileiro de Salvador, que contou inclusive com a participação de lideranças do candomblé, como Mãe Aninha, Eugênia Anna dos Santos - Iyalorixá Oba Biyi e Martiniano do Bonfim, Ojé L’ade.

Casou-se na Bahia, em 1940, com Magdalena Botelho de Souza Carneiro, com quem teve dois filhos, Philon (1945) e Lídia (1948). Já formado em Ciências Jurídicas, o ensaísta passa a morar no Rio de Janeiro, onde escreve para diversos periódicos e publica os seguintes títulos: Candomblés da Bahia (1948), Trajetória de Castro Alves (1948), O Quilombo dos Palmares (1947), entre outros textos.

A partir de 1950, a atuação de Edison Carneiro como folclorista ficou ainda mais reconhecida e ele ocupou cargos administrativos e de docência relacionados à defesa das culturas populares e do folclore, trabalhando no Conselho Nacional de Folclore; na Comissão Nacional de Folclore, vinculada à Unesco; e em entidades internacionais, como as Sociedades de Folclore do México, Argentina e Peru. Algumas obras importantes desse período são: A sabedoria popular: samba, batuque, capoeira e outras danças e costumes (1954), O negro em Minas Gerais (1956), A conquista da Amazônia (1956), Decimalia: Os cultos de origem africana no Brasil (1959), Les cultes d’origine africana au Brésil (1959). Em 1961, assumiu a direção da então Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, hoje Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, de onde foi demitido em 1964 devido à perseguição do regime militar.

Edison Carneiro foi o redator da Carta do Samba, publicada em 1962 e até hoje um importante documento em defesa da cultura imaterial. Em 1966, foi, como um dos representantes brasileiros, ao Primeiro Festival Mundial da Arte Negra, em Dakar (Senegal), e dali visitou outros países africanos. Em Dahomey (atual Benin) participou do Colóquio África-América Latina. Dessa experiência saiu o ensaio Contribuição da África à civilização brasileira

Em reconhecimento ao seu trabalho como folclorista, o Museu do Folclore (criado em 1958) passou a se chamar, desde 1976 até hoje, Museu do Folclore Edison Carneiro. Na década de 1960, além de ensaios publicados em periódicos, são lançados: Folclore no Brasil (1960), A insurreição praieira, 1848-49 (1960), Ladinos e Crioulos (1964), Dinâmica do folclore (1965), 80 anos de abolição (1968).

Edison Carneiro faleceu no Rio de Janeiro em dezembro de 1972, deixando vários escritos. Entre as obras publicadas postumamente destacam-se: Folguedos tradicionais (1974), Capoeira (1975), Ursa Maior (1980), Cartas de Edison Carneiro a Artur Ramos (1987), Musa capenga: poemas de Édison Carneiro (2006). Em 1969, poucos anos antes de sua morte, a Academia Brasileira de Letras reconheceu a contribuição intelectual do escritor conferindo-lhe o Prêmio Machado de Assis. 


PUBLICAÇÕES

Religiões negras: notas de etnografia religiosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1936. 188 p.

Castro Alves: ensaio de compreensão. Rio de Janeiro: José Olympio, 1937.

Negros bantus: notas de ethnografia religiosa e de folk-lore. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937. 187 p.

O Negro no Brasil: trabalhos apresentados ao 2º Congresso Afro-Brasileiro (Bahia). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1940.

O quilombo dos palmares, 1630-1695. São Paulo: Brasiliense, 1947. 246 p

O negro em Minas Gerais. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1956. 18 p.

A conquista da Amazônia. [Rio de Janeiro]: Ministério da Viação e Obras Públicas. Serviço de Documentação, 1956. 114 p.

A Cidade do Salvador (1549): uma reconstituição histórica; A conquista da Amazônia . 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. 284 p.

Decimalia: Os cultos de origem africana no Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1959. 20 p.

A sabedoria popular. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1957. 230 p.

A insurreição praieira, 1848-49. Rio de Janeiro: Conquista, 1960. 253 p.

CAMPANHA DE DEFESA DO FOLCLORE BRASILEIRO. Samba de umbigada. [Rio de Janeiro]: Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1961. 81 p.

Ladinos e Crioulos: Estudos Sobre o Negro no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. 240 p.

Dinâmica do folclore. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 186 p.

80 anos de abolição. Rio de Janeiro: Cadernos Brasileiros, 1968. 127 p.

Les Cultes d’origine african au Brésil. Rio de Janeiro: MEC, 1959.

Folguedos tradicionais. Rio de Janeiro: Conquista, 1974. 212 p.

Capoeira. Rio de Janeiro: Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1975. 23 p.

Ursa maior. Salvador: Universidade Federal da Bahia, Centro de Estudos Afro-Orientais, 1980. 96 p.

Coautoria

CARNEIRO, Édison; OLIVEIRA, Waldir Freitas; LIMA, Vivaldo da C. (Org.). Cartas de Edison Carneiro a Artur Ramos: de 4 de janeiro de 1936 a 6 de dezembro de 1938. São Paulo: Corrupio, 1987.

GILFRANCISCO (Org.). Musa capenga: poemas [de] Edison Carneiro. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, 2006. 102 p.


TEXTOS SELECIONADOS


FONTES DE CONSULTA

ROSSI, Luiz Gustavo Freitas. O intelectual “feiticeiro”: Édison Carneiro e o campo de estudos das relações raciais no Brasil. 2011. 228 f. Tese (Doutorado em Antropologia), Universidade de Campinas, Campinas, SP, 2011. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/280383>. Acesso em: 20 out. 2020.

Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Disponível em: <http://www.cnfcp.gov.br/interna.php?ID_Materia=284>. Acesso em: 20 out. 2020.

OLIVEIRA, Waldir Freitas. Edison Carneiro, um baiano ilustre. In: EXPOSIÇÃO EDISON CARNEIRO. Disponível em: <http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php conteudo=22>. Acesso em: 20 out. 2020.


LINKS

Edison Carneiro no wikipédia

Edison Carneiro, o Ogã comuista

Edison Carneiro - Heróis de todo mundo

Edison Carneiro - Fundação Joaquim Nabuco

Exposição Edison Carneiro, Biblioteca Virtual Consuelo Pondé

Edison Carneiro no Centro Cultural de Folclore e Cultura Popular

Uma “vocação perdida”? Vida e obra de Edison Carneiro, expoente dos estudos afro‑brasileiros