DADOS BIOGRÁFICOS

Clóvis Steiger de Assis Moura, conhecido como Clóvis Moura, nasceu em Amarante, no Piauí, no dia 10 de julho de 1925. Foi, e continua sendo, um respeitado jornalista, sociólogo, historiador e escritor brasileiro, produzindo importantes estudos sobre a escravidão e sobre a resistência dos negros no Brasil. Um dos pontos centrais de seu trabalho é “a ênfase no processo de resistência violenta do negro ao escravismo” (OLIVEIRA, 2011). Em 1975, fundou o Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas (IBEA) e promoveu cursos, debates e atividades culturais com a participação dos militantes do movimento negro, que, nesse período, se organizava de forma mais efetiva.

Em seu livro de poesia, Argila da Memória, publicado em 1962 pela editora Fulgor, o escritor faz uma imersão no tempo e na memória, passando pela infância, pelas vozes coletivas de sua experiência. Já em História do negro brasileiro, de 1989, Moura, conforme atesta Fábio Oliveira (2011, p. 55), vale-se do conceito de quilombagem para explicar que o quilombo atuava “como unidade básica do processo de resistência do negro, articulava-se a outras formas de luta, como as insurreições urbanas da Bahia, durante o século XIX, e a revolta dos malês, em 1835 (...)”. Para o escritor, o quilombo era um movimento de rebeldia e resistência organizado pelos próprios escravos. Dessa maneira, Moura propôs uma revisão crítica sobre o pensamento de Gilberto Freyre, em que este afirmava a passividade do negro no Brasil. Em Rebeliões da senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas, publicado pela primeira vez em 1988, o escritor descreve que a sociedade escravista, no contexto brasileiro, dividia-se em dois segmentos contrários, constituídos pelos escravistas (senhores donos do poder), e pelos escravos (que eram obrigados a ceder a sua força de trabalho). Em entrevista concedida à Revista da União Nacional dos Estudantes, em 1981, faz a seguinte consideração acerca do pensamento hegemônico sobre o negro no Brasil:

[...] o colonizador tinha que ter os elementos que justificassem a missão colonizadora, a missão de rapina na África. Para isso foi necessário criar ideólogos, e surgiu no Brasil uma intelectualidade racista, que não aceita o negro como igual ao branco. Os nossos melhores pensadores, como Euclides da Cunha, Sílvio Romero, Tobias Barreto, todos eles mostravam como um dos fatores de atraso no Brasil não a escravidão, mas o negro. Eles criaram um filão de pensamento que vem até os nossos dias. Nós temos um Oliveira Viana, um Gilberto Freire, sendo que este aparentemente tem uma obra democrática, antirracista, mas que no fundo é uma obra que justifica a escravidão. Gilberto Freire criou uma teoria através da qual o senhor é bondoso e o escravo dócil, e com isso ele neutraliza a existência da luta de classes durante o regime escravista. [...] Esconde-se da História do Brasil todo o problema de conflito durante a escravidão. Por aí nós vemos como nossa história é fraturada. (PORTAL GELEDÉS, 2009).

 

Na política, iniciou sua militância no Partido Comunista Brasileiro em 1945 e, no ano de 1962, quando houve a cisão do partido, filiou-se ao PCdoB. Destacou-se ainda na militância do movimento negro brasileiro, colaborou com o Movimento Negro Unificado (MNU) e com a União de Negros Pela Igualdade (UNEGRO). Como Jornalista, atuou nos jornais da Bahia e de São Paulo.

Moura faleceu em São Paulo, em 23 de dezembro de 2003, deixando um legado intelectual de grande relevância não apenas para os estudos afro-brasileiros, mas para os estudos sociológicos.


PUBLICAÇÕES

Sociologia

O negro: de bom escravo a mau cidadão? (Coleção Temas Brasileiros, vol. 21.) São Paulo: Conquista, 1977.

A Sociologia Posta em Questão. São Paulo: Ed. Ciências Humanas, 1978.

Sacco e Vanzetti: o protesto brasileiro. São Paulo: Ed. Brasil/Debates, 1979. 

Diário da Guerrilha do Araguaia. São Paulo: Alfa Ômega, 1979.

Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo: Brasiliense, 1981. Coleção Tudo é História.

Organizações negras. In: SINGER, Paul; BRANT, Vinicius de Caldeira. São Paulo: o povo em movimento. São Paulo: Editora Brasileira de Ciências, 1983.

Brasil: raízes do protesto negro. São Paulo: Global Editora, 1983, Coleção Passado & Presente.

Imprensa negra. São Paulo: Imprensa Oficial, 1984.  

História do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1989.

As injustiças de Clio: o negro na historiografia brasileira. São Paulo: Oficina do Livro, 1990.

Dialética radical do Brasil negro. São Paulo: Editora Anita, 1994.

Os Quilombos na Dinâmica Social do Brasil. Maceio: Ed. Edfal, 2001.

Dicionário da Escravidão Negra no Brasil. São Paulo: Edusp, 2004.

Rebeliões da senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas. São Paulo: Anita Garibadi. 6ª edição, 2020.

Quilombos: resistência ao escravismo. São Paulo: Expressão Popular, 2021.

Literatura

Argila da memória. São Paulo: Editora Fulgor, 1962. (Poesia).

O espantalho na Feira. São Paulo: Fulgor, 1961. Apresentação de Jorge Amado. (Poesia).

Manequins Corcundas. São Paulo: Editora La Palma, 1979. (Poesia).

Flauta de Argila. Teresina: Fundação Monsenhor Chaves, 1995. (Poesia).

Crítica

Prefácio. In: CAMARGO, Oswaldo. A descoberta do frio. São Paulo: Edições Populares, 1979.

Prefácio. In: FERRARA, Mirian Nicolau. A imprensa negra paulista (1915-1963). São Paulo: FFLCH, USP, 1986. (Antropologia, 13). p.17-21.


FONTES DE CONSULTA

ANDRADE, José Maria Vieira. Sem candura nas palavras: Clóvis Moura e os dilemas intelectuais do antirracismo no brasil (1959-1995). Tese. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2019.

DA SILVA, Wanessa Horrana F. A trajetória intelectual de Clóvis moura (1925-2003): a interdisciplinaridade e o protesto negro. ANPUH-BRASIL. 30º Simpósio Internacional de História. Recife, 2019.

MALATIAN, Teresa. Um jornalista combatente: Clóvis Moura, Flama e a política cultural do PCB (1951-1952). Scielo. História. vol.38. Assis/Franca, 2019.

MESQUITA, Érika. Clóvis Moura: uma visão crítica da história social brasileira, Dissertação de Mestrado IFCH/UNICAMP, Campinas, 2002.

OLIVEIRA, Fábio Nogueira. Clóvis Moura e a sociologia da práxis negra. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.

OLIVEIRA, Fábio Nogueira. Modernidade, política e práxis negra no pensamento de Clóvis Moura. PLURAL, Revista do Programa de Pós‑Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v.18.1, pp.45‑64, 2011.

PACHECO, Diego Ricardo. Clóvis Moura e Florestan Fernandes: O protesto escravo na derrocada do sistema escravista nas obras Rebeliões da senzala e Brancos e negros em São Paulo. Monografia, São Paulo, 2015.

PEREIRA, João Baptista Borges. O último legado de Clóvis Moura. Estudos Avançados. vol.18 no.50 São Paulo Jan./Apr. 2004.

VEIRA, Cléber SANTOS. Imprensa e resistência negra em Clóvis Moura: de documento histórico a grupo específico de autodefesa. Revista Património e Memória. São Paulo, Unesp, v. 14, n. 1, p. 365-386, janeiro-junho, 2018.

VIEIRA, Cleber Santos. Clóvis Moura e a fundação do IBEA – Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas. Revista da ABPN. v. 9, n. 22, p.349-368, mar/jun, 2017.


TEXTOS SELECIONADOS 

 Clóvis Moura - Tática de Luta dos Escravos


 

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5 anos sem o pensador quilombola

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Clóvis Moura - Memórias de Sparkenbroke: fora do tempo

Clóvis Moura: resgatando clássicos com Rian Rodrigues

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Clóvis Moura e a imprensa negra no Brasil