Em 1975, no Rio de Janeiro, Antônio Carlos Fernandes, fundou a Pallas Editora. Antônio Carlos já havia trabalhado em uma editora, a Companhia Editora Americana, e essa experiência foi decisiva ao comprar a empresa recém fundada e transformá-la na Editora Pallas que, aos poucos, foi se constituindo tal como a conhecemos hoje.

No final dos anos 1980, Cristina Warth, filha de Antônio Carlos, começou a trabalhar na editora quando estava nos anos finais do curso de História, realizado na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Naquela época, a editora publicava livros voltados às tradições religiosas de matriz africana. A chegada de Cristina à editora expandiu a vertente afro-brasileira publicada pela casa, a qual passou a incluir publicações voltadas à antropologia das religiões e às ciências humanas.

A formação acadêmica de Cristina, somada a sua militância junto ao movimento negro, contribuiu para a expansão do catálogo de obras que reflete a visão sociopolítica da Pallas, comprometida com as ações compensatórias, a valorização das tradições afro-brasileiras e a difusão da história de um povo que foi tradicionalmente silenciado e apagado nos discursos dominantes.

O posicionamento editorial da casa editorial se fortalece ainda mais com a chegada, no início dos anos 2000, de Mariana Warth, neta de Antônio Carlos e filha de Cristina. Mariana inaugurou um selo voltado à literatura infantil, o Pallas Mini.

Como se pode perceber, a Pallas é uma editora de tradição familiar comprometida com a difusão da literatura e das tradições culturais e religiosas afro-brasileiras, que se coloca, portanto, contra o discurso hegemônico ao reconhecer a importância do registro dos saberes africanos para afirmação do negro na sociedade brasileira.

Dessa forma, segundo consta no site da editora, seu objetivo é “recuperar e registrar tradições religiosas, linguísticas e filosóficas dos vários povos africanos continuamente trazidos para o Brasil durante o regime escravista”1.

A editora valoriza as manifestações afro-brasileiras contemporâneas por entender que essas são expressões que compõem a diversidade presente na construção da nação brasileira, razão pela qual procura formar um catálogo que possa difundir as tradições religiosas, linguísticas e filosóficas dos povos africanos submetidos ao sistema escravista no Brasil.

As escolhas editoriais da Pallas refletem o compromisso e o posicionamento político e ideológico de seus editores. A editora, uma das pioneiras na publicação de autores negros e na promoção da cultura e da tradição negras, abre espaço para a reflexão sobre a afro-brasilidade, a organização social e o posicionamento do negro na teia das relações sociais.

Seu catálogo reflete esse compromisso e é composto por publicações voltadas para a divulgação da cultura afro-brasileira dividido em temas que se estendem da liturgia religiosa à literatura, dividindo-se em temáticas como antropologia, sociologia, etnografia, livros de referência, cinema, filosofia.

Dentre os autores publicados pela Pallas Editora, destacam-se nomes do cenário literário nacional e africano como Conceição Evaristo, Eliana Alves Cruz, Cidinha da Silva, Nei Lopes, Uelinton Farias, Clarisse Fortunato, Yanê Lopes dos Santos, Paula Tavares (Angola), Ondjaki (Angola), Kangni Alem (Togo), Teresa Cárdenas (Cuba), Léonora Miano (Camarões) e outros.

Além de publicações que colocam o negro, sua cultura, tradições e ancestralidades em uma posição protagonista, a Pallas Editora também possui publicações voltadas a temas como “tarot, Yoga, cuidados com a saúde, cultura cigana, devoções e práticas protetoras consagradas pela sabedoria popular”2.

Importante frisar que as publicações impressas predominam no catálogo embora, aos poucos, seus livros ganhem a versão digital, demonstrando uma preocupação em se manter atualizada com as demandas e tecnologias atuais.

A editora, preocupada com a formação dos pequenos leitores, busca consolidar, por meio do selo Pallas Mini, um catálogo voltado ao público infantil e juvenil, no intuito de oferecer uma bibliodiversidade que inclua a literatura negra/afro-brasileira. O selo Pallas Mini já possui nomes de prestígio como o de Sonia Rosa, Janaína Figueiredo e Lázaro Ramos, autor de 3 livros publicados nesse selo.

A Editora Pallas tem se expandido e ocupado um lugar de destaque no mercado editorial brasileiro, demonstrando a importância de editores que pensem na bibliodiversidade e que rompam com as estruturas estabelecidas que privilegiam o cânone constituído pelas histórias dos homens brancos.

Iniciativas como a da Editora Pallas devolvem ao povo negro a possibilidade de protagonizar suas narrativas, difundindo o pensamento afro-brasileiro e trazendo para a sociedade reflexões sobre a organização social que ainda guarda o ranço colonialista.

Notas

1https://www.pallaseditora.com.br/pagina/a_editora, acesso em 29 mai. 2023.

Referência

https://www.pallaseditora.com.br/pagina/a_editora/2/

 


 

Fontes de consulta

MESQUISA, Isabela C. S.; MESQUITA, Roberta De Bon S.; OLIVEIRA, Luiz Henrique. Cristina Warth. Coleção Palavra Editada. Belo Horizonte: CEFET-MG, LED, 2020.

OLIVEIRA, Luiz Henrique; RODRIGUES, Fabiane Cristine. Trajetórias editoriais da literatura de autoria negra brasileira: poesia, conto, romance e não ficção. Rio de Janeiro: Malê, 2022.

RIBEIRO, Ana Elisa; PEREIRA, Maria do Rosário Alves. Editoras Pallas, Corrupio e Mazza: pioneirismo e publicação negra no Brasil. Animus. Revista Interamericana de Comunicação Midiática, [S. l.], v. 20, n. 42, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/animus/article/view/44249. Acesso em: 30 abr. 2023.

https://www.pallaseditora.com.br/pagina/a_editora/2/ acesso em 27 de maio de 2023.

 

 

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