Longe da terra
Há anos o Brasil comemora a ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA, e em todos esses anos, quase nada, ou nada se mudou até agora. O negro saiu da senzala e foi habitar as margens dos rios e as favelas. Era o fim de um pesadelo quando começava outro pesadelo.
Um príncipe guerreiro conseguiu quebrar alguns elos das correntes e saiu correndo pela noite afora. Quando clareava o dia, eleja se encontrava bem em frente ao mar. Ali, mergulhado na incerteza viu estampada em cada onda a impossibilidade de rever sua gente e, antes de pegar o caminho para QUILOMBO DOS PALMARES, fechou os olhos, ergueu a cabeça, abriu os olhos da mente e se pôs a dizer:
Choro a dor de um povo...
Tenho saudade do cantar dos atabaques
Que não mais pude ouvir
Lamento a angústia
De estar tão distante
Dos antigos
Penso nas barras de ferro
Na hora de repouso
O amargo gosto
Na hora de partir
Lembro-me do sangue
Escorrendo sobre o verde
Dos gritos
Do desespero
Das marchas para os porões
Guardo no peito
Toda vontade de voltar
Atravessar o grande rio
E cantarolar de mãos dadas
Com meus irmãos.
(O Menestrel desvairado)