Não tinha olho que piscasse quando ela entrava na roda.

– Olha, mãe! É Luana que vai jogar!

O pessoal batia palmas e cantava até mais forte quando Luana aparecia e cumprimentava o adversário. Ela se ajoelhava ao pé do berimbau, fazia uma breve oração e dava um tremendo salto-mortal para trás.

– É bonito como quê! – comenta o velho Mandinga. – A menina joga com um dengo que lembra a vovó Adina. Aquela sim. Quando ela entrava na roda, não tinha valente que ficava em pé.

[...]

 

– Ei, pai! O que é um quilombo?

A pergunta vem de um menino de 5 anos, Luizinho, o irmão caçula de Luana, que os amigos chamam de “Luizinho Por Quê?”. O motivo está na cara: é perguntador como ninguém.

– Quilombo, Luizinho, era um lugar onde iam os escravos que fugiam das fazendas. Lá, negros, brancos e índios viviam em paz. Não tinha diferença. Não tinha nem rico nem pobre.

[...]

 

Os ancestrais de Luana viviam na África. Um continente que fica do outro lado do mar. Eles foram caçados como se fossem bichos, por homens muito maus. Foram amarrados e colocados num navio, que se chamava navio negreiro. Muitos não completaram a viagem. Morreram no mar, de tristeza, banzo.

Chegando aqui, no Brasil, foram vendidos para outros homens e tiveram que trabalhar nas fazendas, cortando cana, de sol a sol, e, pior de tudo, de graça!

Mas eles eram malungos, guerreiros, fortes, pessoas que nunca desistem do que querem. Souberam conquistar a liberdade e se juntar aos índios e a outros habitantes do Brasil daquela época, para construir esse quilombo. Aqui trabalharam, agora não mais como escravos, mas para eles.

 

[...]

 

Luana pisca forte e começa a sorrir. Agora ela já conseguiu saber onde é aquele lugar e em que tempo está:

– Ah, então é isso?! Aqui é Porto Seguro, na Bahia, e hoje é 22 de abril de 1500. Nesse momento, está sendo descoberto o Brasil. Gente! O meu país está nascendo!!!!

Um a um, os tupiniquins vão saindo do mato para de perto aquela gente estranha que chegava do mar. O primeiro foi Itabajauá, o pai de Itabaji. Depois, o próprio Itabaji e sua nova amiguinha, Luana, que estava de mãos dadas com a pequenina Tanauá. Essa, porém, puxava a mão e tentava escapar mato adentro.

Valente como ele só, Itabajauá foi direto aonde estava o homem barbudo, segurando a bandeira. Esse, que disse se chamar Cabral, tinha um montão de homens armados ao seu lado.

(Luana: a menina que viu o Brasil neném p. 7-32).