SECA
 
Chove sol sem parar,
entra ano sai ano
meu sertão só faz secar.
Nas retinas das meninas
Secou a lágrima de dor
calou da boca seu canto
e seu pranto de amor.
 
Quando vejo o sol em brasa,
sinto no peito um nó,
chove sol na minha terra,
deixando o meu povo tão só.
Passarada em revoada
cantando a sina feliz,
cantando uma cancão que diz:
 
Chove sol em minha terra
chove sol até queimar
chuva boa e benfazeja
e meu sertão não vai chegar.
Canta o povo a tristeza
de não ter o que cantar
esperando ... em vão
a beleza que não vai chegar.
 
Chove sol na terra ardente,
queimando o cabelo e a pele da gente,
secando os leitos sem rios,
esturricando os leitos vazios,
chove sol na terra em brasa
e a boiada a pastar
esperando... esperando...
o calor que não vai passar.
 
(Ave de rapina, p. 43)