MANIFESTO

 

Declaro que:
a cor da pele
condena o dono da cor.
 
Sua qualidade é inferior.
Seu cheiro ruim.
Sua presença é indesejável.
Seu sorriso é podre.
 
Seu sucesso é motivo de dúvidas.
Sua capacidade inferior.
Seu amor interesseiro.
Seus atos condenáveis.
 
E mais:
Não deverá querer misturar-se à outra cor.
Não poderá amar outra cor.
Não conseguirá desmanchar esta cor.
Não terá compreensão de outra cor.
 
No entanto:
Se for bom músico, iremos ouvi-lo.
Se for bom dançarino, iremos vê-lo.
Se for bom escritor, iremos lê-lo.
Se for bom líder, iremos segui-lo.
 
(isto por que a arte
transcende estas quimeras
ligadas à cor da pele)
 
Contudo:
Não deverá querer o convívio com outras cores.
Será submisso à atenção que lhe for dedicada.
Será o bode expiatório das culpas.
Será o primeiro suspeito.
Será a última vítima.
 
 
Assim:
fica declarado que:
a cor da pele
decide o destino
do dono da cor.
 
(mesmo assim,
a gente de cor
é gente
antes de ser de cor.)

 

       (Exercício de Existência, p. 58-9)