CENTRO IDEAL

 

Você me olha com este olhar burguês né?
Que pena
que você ainda se preocupa
em perceber a cor de minha pele
e se esquece de olhar
a cor de meus olhos.
Você ri de meu silêncio
e se tranca na simples mediocridade
de ser “gente bem”
esquecendo-se que, antes de tudo
somos gente, e gente é para dividir espaços.
Que pena que a minha presença
seja tão ligeira
que eu não possa dividir com você
toda a magia que aprendi,
todos os horizontes que estou descobrindo
e todas as verdades que a gente precisa saber.
 
Que pena que nós não podemos
nos dar as mãos.
 
E então meus olhos vão se encher de lágrimas,
e meu sorriso vai ser afogado
por um mar de tristezas,
e você se ri,
por que perdeu a magia de saber chorar.
 
Eu me rio de seu aplauso,
me rio de seu silêncio,
seu pasmo, sua incompreensão.
Me rio de seu orgasmo
por que a utopia
já terminou seu ato.
 
Apenas o silêncio
possui o elo
que nos tornará semelhantes. 

 

      (Exercício de Existência,p. 48/49)