O Juramento do Árabe

A Teixeira de Queirós

 

Baçus, mulher de Ali, pastôra de camelas,

Viu de noite, ao fulgor das rútilas estrêlas,

Wail, chefe minaz de bárbara pujança,

Matar-lhe um animal. Baçus jurou vingança;

Corre, célere voa, entra na tenda e conta

A um hóspede de Ali a grave e inulta afronta.

 

"Baçus, disse tranqüilo o hóspede gentil,

"Vingar-te-ei com meu braço, eu matarei Wail."

 

Disse e cumpriu.

Foi esta a causa verdadeira

Da guerra pertinaz, horrível, carniceira

Que as tribos dividiu. Na luta fratricida

Omar, filho de Amru, perdera o alento e a vida.

 

Amru que lanças mil aos rudes prélios leva,

E que em sangue inimigo, irado, os ódios ceva,

Incansável procura, e é sempre embalde, o vil

Matador de seu filho, o tredo Muhalhil.

 

Uma noite, na tenda, a um môço prisioneiro,

Recém-colhido em campo, o indômito guerreiro

Falou severo assim:

"Escravo, atende, e escuta:

"Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta,

"Em que vive o traidor Muhalhil, dize a verdade;

"Dá-me que o alcance vivo, e é tua a liberdadel"

 

E o moço perguntou:

“É por Alá que o juras?”

 

- Juro, o chefe tornou –

“Sou o homem que procuras!

“Mulhalil é o meu nome, eu fui que espedacei

“A lança de teu filho, e aos pés o subjuguei!”

(Amru volveu: - És livre, Alá seja contigo!)