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Américas,
eu sou negro
da cor dos olhos negros da minha
mulher.
Pereci milhões de vezes,
arrebentado
de tanto trabalhar.
Afinal de contas,
quando você me pagará seus
débitos?
Fizeram de mim gatos e sapatos
fizeram de mim até mesmo
capitão-do-mato.
Me estupraram
me levaram para a senzala
me arrastaram até o pelourinho
me puseram no tronco
me açoitaram de relho cru, de chicote
puseram gargantilha de ferro no meu
pescoço
me fizeram cativo
e acham isso muito normal.
Me assassinam milhões e milhões de vezes.
Me rebelei,
matei o senhor, a sinhá
o sinhozinho, a sinhazinha
o feitor, o capitão-do-mato
e me refugiei nos quilombos.
(América Negra, p. 18-19)