Calunga Lungara

 

Vou pôr em palavras

o que não é possível.

São águas-palavras

que se dissolvem.

 

É de Calunga que falo.

 

Pode ser grande ou

pequeno depende

de quem o atravessou.

 

Seu nome

muda com as línguas.

Em umas mata

em outras é oceano.

 

Nele está viajando

quem não tem corpo.

Nós somos marujos

em terra de romaria.

 

Calunga anda a noite

estudando os sonhos.

Acompanha marcas

presas na poeira.

 

Traz medos de presente

medos de família

O maior não mostra

que até ele morreria.

 

Eu pus em palavras

o que não era de falar.

 

O que se diz não é Calunga.

(A Roda do mundo, 1996, p. 30-31)