Pai João é de samba
Salvador. Bahia, 1973
Nasci de uma roda de samba
Não me sinto estranho
Por ser chamado caramba.
Sou eu, o próprio samba
Vim lá dos batuques da senzala
Trazido nos negreiros d'outrora.
Vim d'África,
Aqui aterrei e fiquei
Fiz o continente
Por aqui se expandir.
Gerei-me do rico batuque
Da capoeira e do candomblé
Que o negro continente
No Brasil fez medrar.
Nasci duma roda de samba,
Trate-me bem, faz favor,
Não chamem de bamba
Porque sei merengue e mambo.
Sou chamado caramba
Por dançar rumba, samba mais tango
Aprendi na capoeira – o samango,
que é luta brava pra castigar
aqueles que aos Pretos Velhos
Um dia quiseram no Pelourinho matar.
Nasci do samba
Do seio de Yemanjá e Oxalá.
Minha vovó Nanan Buruku,
Permita-me casar com Yansan.
Do Pelourinho, quero os Pretos Velhos, salvar.
(Cantares d’África, p.63)